Algum gênio sabe reduzir desigualdade sem impostos?

É engraçado como se separa a questão da desigualdade de renda da questão dos impostos.

Todos são “a favor” de uma distribuição mais justa da renda, ao menos da boca para fora.

E quase todos são contra o aumento dos impostos, porque “a população não aguenta mais, etc, etc” e “os serviços públicos devolvidos pelos tributos são péssimos”.

E quando Dilma diz que é preciso aumentar impostos numa hora  em que aumentam os sacrifícios para todos, parece que se está pecando.

Pecado é, sim, a vergonha da estrutura dos impostos no Brasil diante da disparidade absurda de renda que existe aqui.

Hoje, o Estadão traz uma pequena reportagem – o tema merecia muito mais – para dar conta de que “a distribuição de renda no Brasil é pior do que se imaginava”, quando é  analisada com base nos dados da Receita Federal.

Os números, descritos de maneira mais crua do que faz o jornal: 3,6% das famílias brasileiras, somadas,ficam com 37,4% da renda no país, enquanto mais da metade dos lares (53,5%), todos eles juntos,  ficam com  13,6% de tudo o que se ganha no país.

É um estudo da consultoria Tendências, usando como base os dados da Receita Federal, buscando corrigir as distorções da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar, do IBGE, onde as informações são apenas declaradas verbalmente, e que tem não diz que tem.

Correão, talvez, ainda incompleta, porque a sonegação é maior entre os mais ricos, seu padrão de deduções é igualmente maior e a agregação por núcleo familiar esconde o fato de que as famílias mais pobres em geral têm mais integrantes que as famílias mais ricas.

De modo que não seria exagero dizer que 3% dos brasileiros detêm quase 40% da renda nacional, enquanto 60% ficam com apenas pouco mais de 10%.

Como dizia-se que o problema da estatística é ser como a minissaia – mostrar quase tudo, mas não tudo –  vou traduzir, como quando dava aulas de Matemática em supletivo, a dinheiro.

Se houvesse mil brasileiros e todos eles juntos ganhassem mil reais por dia, a divisão ficaria assim: 30 pessoas ficariam com 400 reais, R$ 13,33 per capita, enquanto uma multidão de 600 pessoas dividiria 137 reais. Não dá uma moeda de R$ 0,25 por cabeça.

E o problema do Brasil é que gastamos muito com o Bolsa-Família, não é?

Agora vamos imaginar o que seria aquelas pessoas da camada mais ricas pagarem CPMF, nesta alíquota de 0,2% que está sendo proposta.

Dá, no mesmo exemplo, dois centavos e meio diários. Vejam que tragédia…

Obvio que isto é uma simplificação, porque a renda nem mesmo é homogênea naqueles 3% que são “classe A no padrão brasileiro: renda familiar de perto de R$ 15 mil por mês, enquanto, dentro dela, uma diminuta parcela é padrão mundial, com dezenas ou até centenas de milhares de reais por mês.

Já mostrei aqui que, entre cada mil brasileiros que declaram imposto de renda, apenas três declaram renda superior a 160 salários, ou R$ 140 mil. Para eles, a CPMF seria de dramáticos R$ 280 mensais.

Pode-se alegar que já se paga “muito” imposto no Brasil.

Já cansou-se de mostrar que isso é para os pobres, porque para os ricos e, sobretudo, para os muito ricos, as alíquotas de impostos sobre a renda e patrimônio são muito maiores.

Infelizmente, como o Estado e a esquerda brasileira, com a ilusão de que se pode agradar a gregos e troianos, raramente deixam claro que a maior parte dos impostos brasileiros é usada para dar renda aos ricos, com os juros da dívida, como de dizer que imposto justo tem de vir de quem tem e ir para quem não tem, na forma de escola, posto de saúde, serviços públicos e para fomentar o desenvolvimento econômico.

A menos que se queira voltar á tese de fazer crescer o bolo sempre para dividi-lo nunca.

Alguém precisa avisar à elite brasileira que aquele tal de Milton Friedman, que tornou famosa a frase “não existe almoço grátis” não era um “bolivariano”.

É só o papa do neoliberalismo. E sua tese bem que poderia servir para o pagamento de impostos.

 

Fernando Brito:

View Comments (24)

  • Vamos acabar com a desigualdade taxando cada vez mais e transformando todos em igualmente miseráveis...

    • Mas que comentário raso e idiota, dá pena saber que existe alguém tão miseravelmente burro ou mal intencionado que escreva uma coisa dessas. E nem precisa de taxação para isso.

    • Fabio,
      Se não ofendesse o Blog eu iria te dizer um palavrão tão, mas tão acertado que você trataria se se juntar a seus iguais. Viu? Podemos conversar elegantemente. Beijos.

  • A CPI é uma grande oportunidade
    para conhecer a verdade sobre a dívida, mas a sociedade precisa exigir o cumprimento da
    Constituição Federal e a realização de ampla e profunda auditoria dessa dívida.
    A miseria e causada por banqueiros egolatras..

  • O brasil detem 95% do niobio do mundo!
    A estabilidade térmica das superligas que contêm nióbio é importante para a produção de motores de aeroplanos, na propulsão de foguetes e em vários materiais supercondutores. As ligas supercondutoras do tipo II, também contendo titânio e estanho, são geralmente usadas nos ímãs supercondutores usados na obtenção das imagens por ressonância magnética. Outras aplicações incluem a soldagem, a indústria nuclear, a eletrônica, a óptica, a numismática e a produção de joias. Nestas duas últimas aplicações ele é utilizado pela sua baixa toxicidade e pela possibilidade de coloração por anodização.
    portanto mais importante que o ouro. quando se fala em miseria num pais e nao se da valor
    as proprias riquezas, e ficam mendigando inversao extrangeira so se pode rir da ignorancia
    de mim mesmo...

    • O pão de queijo das Alterosos, aquele que gosta do pó royal, já entregou o nióbio pros manos do hemisfério do norte.

    • Gostaria sinceramente que alguém fizesse uma reportagem séria sobre essa história do nióbio. Sempre ouço falar mas parece história de facebook, como aquela da cadeira de rodas.

  • Reduzindo-se a máquina estatal, com a extinção de cargos inúteis, utilizados neste momento como moeda de troca por votos contra o impeachment, pode ocorrer redução dos tributos. Contudo, enquanto o Estado for esse gigante desengonçado e inútil, ele custará muito ao bolso dos contribuintes. Precisamos do Estado mínimo para consertar esse país.

    • Descobri. Voce mora em ..........
      São Paulo. Assim que todos tomaram posse, em 2015, foram criados 232 cargos (sem concurso e somente para os amigos) na ALESP.

    • Já fizeram isso ai no passado nos (des)governos FHC com resultados pra lá de catastróficos.

      E o estado custa muito porque apesar de melhorar bem,a distribuição de renda no País ainda é uma das mais injustas e a cobrança de impostos continua sendo extremamente injusta,já que continua sem taxar aqueles que são mais ricos e que adoram sonegar e não pagar imposto.

      Aqui no Brasil,Rico não paga imposto e o único que pagavam(CPMF) conseguiram extinguir em 2007. E ai o governo fica na incontingência de cobrar mais de quem tem menos e nada(ou quase isso) de quem tem mais.

    • Quanto de redução, exatamente?

      Quanto subterfúgio. Quanta apologia do óbvio.

  • Quanto mais rico, mais impostos deve pagar. É simples assim e é desse jeito que os países escandinavos proporcionam um alto nível de vida aos seus cidadãos.

    • É por ai mesmo,Paoliello.

      Quem tem mais,que pague mais. Quem tem menos,que pague aquilo que puder pagar.

    • Oi Alisson
      Você não chorou as pitangas para se dizer como uma pessoa honesta?!
      Fugiu do ninho tucano.
      FB, por favor, corte esse filial da casa grande.

    • Isso não sei,mas poderiam taxar as fortunas de FHC,Serra,Aécio,Alckmin,Cunha e outros Tucanos e derivados...

  • Ninguem enriquece trabalhando. por isso mesmo os adinheirados devem contribuir muito mais,
    por que foram previlegiados por muito tempo, Quem sao os maiores acionistas do Banco do Brasil? As realezas do imperio e monarquia portuguesas Inglesas Norueguesas espanhola holandesa por tanto sao os mesmos expoliadores de sempre..que da miseria dos seus suditos estraem-lhes o sangue continuamente...atraves de juros vergonhosos..usurpando todas as riquezas produzidas pelos seus serventes...

  • grandes nações nem tem imposto , pois de fato não é doação quase espontânea de recursos ganhos e excedente. Tá na hora de se criar aqui a cultura de todo que tiver ganho superior a R$ 10.000,00 , doar o que passe disso para o povo

  • 03% - ganham R$ 50.000,00 por mês
    37% - ganham R$ 5.000,00 por mês
    60% - ganham R$ 1.000,00 por mês

  • Os Governantes brasileiros, sejam eles de quaisquer esferas e de quaisquer partidos, sempre recorrem ao aumento dos impostos como forma de financiar os seus gastos. É claro que impostos são usados para a prestação de serviços públicos e para a melhoria das condições de vida daqueles que mais precisam. A minha crítica a esse procedimento reside no fato de que os aumentos de impostos quase nunca vem acompanhados de discussões sobre eficiência, sobre como melhorar os gastos, sobre como fazer mais com menos. O PT é um partido com grandes raízes no funcionalismo público. Está claro que a discussão sobre um Estado socialmente justo faz parte da pauta do partido. Mas será que ele não poderia contribuir com ideias que ajudassem também na criação de um Estado mais eficiente, mais econômico? Ou será que dado o funcionamento atual do Estado, não há nada que possa ser melhorado? Por quê a eficiência também não pode se fazer presente numa agenda de esquerda?

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