Há dias os jornais dizem que os atos de hoje – indo pra a Candelária, já-já – “testam aceno da esquerda a presidenciáveis e partidos de oposição“, como diz a Folha de S.Paulo, hoje.
Para usar a palavra que o bolsonarismo trouxe à moda, isso é uma simples narrativa.
O neo-oposicionismo é quem precisa acenar à população, motrando que está disposto à formação de uma frente, algo a que a esquerda jamais se recusou, desde que num ambiente leal e, nem diria fraterno, desarmado.
Mas quando “presidenciáveis e partidos de oposição” – e assim o fazem Doria, Mandetta, Ciro e outros – dizem que seu objetivo é “tirar o Lula (Ciro Gomes), que o “antipetismo será linha predominante” da campanha (Doria) e que Lula é uma “figura nefasta” tanto quanto Jair Bolsonaro (Mandetta) e o patético MBL e seus aliados levam um boneco do ex-presidente em roupas de presidiário para seus atos esvaziados, dizer que são “acenos” da esquerda o que falta à formação de uma frente antibolsonaro é tripudiar sobre a inteligência alheia.
Seus telhados são excessivamente vítreos para que atirem pedras assim: apoiaram ou se omitiram frente a esta figura que, desgraçadamente, está no poder. Não fazer disso obstáculo à frentes políticas não significa que se vá cantar de galo com o pouco milho que têm.
Não haverá uma frente universal entre partidos e organizações que – umas sempre, outras só desde ontem – se opõem em graus diferentes e com objetivos diferentes ao atual presidente. Nem agora, nem nas eleições e, talvez, nem num segundo turno das eleições.
Isso não quer dizer que não possam e não devam partidos e organizações que têm este alinhamento produzirem ações concretas, como os atos de hoje, desde que estejam dispostas a distensionar a relação de inimigo que todas elas mantêm com os partidos de esquerda e, sobretudo, Lula e o PT.
Até porque um governo de reconstrução democrática do Brasil precisará deste entendimento mútuo e respeitoso.
O mais importante é que o processo político social que, desde maio deste ano, induziu manifestações cada vez maiores contra o atual Governo foi o que atraiu estas forças para se integrarem a estes atos de rua. E o processo eleitoral, com o desenho que as pesquisas esboçam, fará esta aproximação ser muito maior e mais produtiva.
Se virão, decididamente, ou se sua presença é essencial ao que isso representará lá na frente, quando chegarmos mais próximo das eleições são coisas distintas do que é preciso fazer agora para que a marcha dos partidos e movimentos populares tenham representatividade no povão.
A crise econômica é, agora, uma ameaça maior do que o golpe político – que perdeu força com a radicalização do bolsonarismo – para o nosso povão.
O corte de classe média e alta da partidos no Brasil, com o esvaziamento dos sindicatos e dos movimentos comunitários, dificulta a tradução política destas lutas para o povão.
Para este, sim – e já – , a esquerda tem de fazer acenos e demonstrar que é das suas manifestações que depende a sua sobrevivência com dignidade.
Um faixa ou um cartaz, hoje, fala com menos eloquência do que uma etiqueta de preço no supermercado.