Se o crescimento de 0,8% do Produto no trimestre encerrado em setembro, como anunciou hoje o IBGE, fosse um resultado constante e “normal”, deveríamos estar soltando fogos. Afinal, se fosse assim, os 0,8% por trimestre, anualizados, significariam uma expansão de 3,2%, o que nos colocaria em nossos melhores tempos, embora não seja nada perto do que deveríamos crescer.
Só que não é.
E a melhor prova é que o mercado financeiro está andando de lado, sem qualquer alteração expressiva.
Há vários fatores contábeis envolvidos nesta alta mais expressiva: a normalização do setor de transportes, correios e armazenagem (+2,9%) carrega a recuperação do setor pós-greve dos caminhoneiros (em maio e junho), o crescimento da taxa de Formação Bruta de capital Fixo, que mede o investimento, deveu-se em grande parte à operações de nacionalização de plataformas de petróleo, motivada pelas mudanças legais da tributação do setor. A construção, área mais sensível deste grupo, seguiu caindo (- 1%), e empregando menos (-1,2%).
A participação dos investimentos no PIB, fator chave para previsões sobre expansão da economia, continua estagnada abaixo de 15%, bem abaixo dos 20 a 25% que se considera ao menos adequado para uma economia na situação da brasileira.
Há mais fatores “não-negativos” (o desemprego parou de subir, os juros idem) do que os que mereçam mesmo o nome de “positivos”. Buracos, em geral, têm fundo.
Como o papo da “retomada” cansou, a própria mídia pega leve e a própria coluna de Miriam Leitão, que nos primeiros tempos de Temer tocava trombetas com qualquer número que não fosse desastroso, chamou o resultado do PIB de “modesto”.
No início do ano, as previsões do “mercado” para o crescimento do PIB, recordem-se, era de 2,9%. Se der 1,4% vão lamber os beiços, como se dizia antigamente.
Agora, prevêem 2,5% para 2019. Pode ser até que o primeiro trimestre venha em linha com esta projeção mas, a seguir, depende de quanto “chacoalhem” as cabeças do novo governo, que tem tudo para meter-se em trapalhadas.
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Clichês e meias-verdades são duas das principais técnicas para se ludibriarem incautos - sejam eles consumidores de notícias, produtos ou serviços - e emplacar grandes mentiras, porém com a máscara da verossimilhança. Quem detém poderes para controlar a direção dos institutos que fazem pesquisas e levantamentos estatísticos - sejam eles eleitorais ou referentes a variáveis sócio-econômicas, etc. - sabe muito bem disso; não é por outra razão que, quando se troca de governo, uma das primeiras preocupações dos novos governantes é colocar pessoas de sua confiança na direção de institutos, como o IBGE. No Brasil pós-golpe, em que pese toda a capacitação dos técnicos, pesquisadores, analistas que trabalham nesse instituto federal, de competência reconhecida, o golpista e quadrilheiro Michel Temer colocou na direção alguém com visão neoliberal, privatista e entreguista, um sujeito com interesses apenas e comerciais financeiros (que usa o IBGE para obter informações privilegiadas e vendê-las a quem se disponha pagar mais por elas; um mercador, que usa informações de um instituto público, pago pelos contribuintes brasileiros, em benefício dele próprio e de pessoas e empresas privadas que pagam para ter acesso antecipado ou privilegiado a certas informações). Quem observa a economia real (indústria, comércio e serviços) vê a cada dia mais e mais portas fechadas, pessoas que perdem os empregos ou, por desalento, deixam de procurá-los, mais e mais placas de "vende-se" e "aluga-se" nas grandes e médias cidades brasileiras, sobretudo na região Sudeste, responsável por 52% do PB e cerca de 42% da população (dados de 2014)
Quem observa os setores que citei nas capitais do Sudeste, do Nordeste, do Norte e mesmo do Sul, não vê qualquer indicativo de que depressão econômica tenha sido superada, ao contrário. Portanto essas informações propaladas pelo PIG/PPV não me convencem, pois a realidade observada não parece dar suporte a indicadores positivos, sejam eles econômicos, de educação e/ou saúde públicas, saneamento básico, segurança pública, etc. O Brasil parou de crescer em 2013 e em 2014 ficou estagnado; desde então está ladeira abaixo, mesmo que a velocidade possa ter diminuído. O único crescimento que se observa é o do rentismo, pois o lucros da banca não pára de crescer há quase 30 anos, desde que o famigerado "consenso de Washington" impôs ao Brasil esse neoliberalismo canalha, corrupto, privatista e entreguista, além de desumano, que concentra a renda e a propriedade aumentando a pobreza, a miséria, a exclusão social, a mortalidade de jovens, que sem perspectiva são tragados pelo mundo do crime.
Num país em recessão (ou quase estagnado como agora), os lucros dos bancos têm subido a taxas chinesas, em torno de 7% sobre o período anterior.
O Brasil ainda está no G20 ou já foi rebaixado para o G100 ?
Crescimentos neste período são consequência normal para um país que foi parado na "marra" a partir de 2014. Mas nada vai mudar nosso destino trágico no médio e longo prazos, com a direita implementando sua agenda.
na mão desses aí vai ser rápida a transição.
...e com sinais de futura tempestade na economia mundial.
Caro Fernando:
Você disse:
"A participação dos investimentos no PIB, fator chave para previsões sobre expansão da economia, continua estagnada abaixo de 15%, bem abaixo dos 20 a 25% que se considera ao menos adequado para uma economia na situação da brasileira."
Eu só conheço quatro maneiras de se fazer o PIB crescer em qualquer economia.
São elas:1. consumo das famílias 2, investimento privado 3. investimento público e
4. exportações.
Quem souber outra maneira por favor esclareça-me qual é.
Como bem disse o prof. Ladislau Dowbor, em A Era do Capital Improdutivo, Ed. Autonomia Literária, " o fato é que a economia brasileira está sendo sangrada por intermediários que pouco ou nada produzem, e corroída por ilegalidades escandalosas"...." O PIB brasileiro arredondado , são seis trilhões, ou seja, seis mil bilhões.Os juros extraídos pelos intermediários financeiros das pessoas físicas e das pessoas jurídicas atingem um trilhão, um mil bilhões. Isso representa cerca de 15% do PIB. Os juros extraídos através da dívida pública, cerca de 400 bilhões de reais, representam 7% do PIB. A evasão fiscal, avaliada em 570 bilhões em 2016, representa 9% do PIB.
OBS: Este livro é de julho de 2017. De lá para cá a situação só fez piorar e o incompetente que assumirá a presidência a partir de janeiro de 2019 ainda quer tomar decisões que vão comprometer as nossas exportações e consequentemente o emprego e o consumo das famílias. O incompetente do presidente que deixará a presidência em janeiro juntamente com os demais incompetentes do legislativo cortou todos os investimentos públicos .
Realmente, MALA TEMPORA CURRUNT.
A quadrilha - não sei se a que sai ou a que entra - chupará as reservas brasileiras até a última gota para entregar a seus senhores. Até que o cofre se esvazie, o PIB e outras farsas serão pintadas em tons róseos para os eleitores da junta militar. Depois disso, colocarão a culpa no PT.
Fernando, pelo visto sua saúde melhorou. Vida longa ao tijolaço! 23 guias abertas para me manter a par das novidades...
Não sei se essa conta entra no cálculo do PIB, mas houve também a valorização do dólar perante o real.
Assim, os valores em reais de nossas commodities exportadas ficam mais altos, "aumentando" o PIB.
Em suma, é o tipo de aumento de PIB que o povão não percebe, só os ricos. E qualquer aumento na arrecadação irá para o reajuste do judiciário.