Amaral, do PSB: “Aécio é nosso aliado porque é nosso adversário direto, entende?”

O simpático professor Roberto Amaral, vice-presidente do PSB, deu uma entrevista ao Estadão que é um primor.

Para não ser injusto com Amaral, desde sempre um militante fiel de um socialismo confuso, vou transcrever o que ele disse, pedindo muito cuidado ao repórter, depois traduzo:

“Eu lhe peço que use palavra por palavra porque é uma questão delicada. Se eu não explicar bem, cria problema. A eleição é em dois turnos. E há uma questão acaciana. No segundo turno, só estarão dois candidatos. Quando fazemos a aliança política com o Aécio, estamos pensando no segundo turno, porque temos a certeza de que vamos para o segundo turno e precisamos atrair o eleitorado do Aécio. Mas, para eu ir para o segundo turno – volta de novo o conselheiro Acácio -, haverá antes o primeiro turno. Pelo quadro de hoje, existem três candidatos, e a Dilma está no segundo turno. Assim, sobram dois candidatos para uma vaga: Aécio e Eduardo Campos. Ou seja, temos uma aliança política com o Aécio, mas ele é nosso adversário natural, direto. Parto do pressuposto de que não vamos os dois para o segundo turno. Então, vamos disputar entre nós quem é que vai. Temos que fazer uma aliança política que não nos afaste do eleitorado dele e torne mais fácil trazer parte do eleitorado dele para nós, já no primeiro turno, convencendo esse eleitorado da maior viabilidade do Eduardo Campos para disputar o segundo turno. É mais fácil o eleitorado dele votar em nós do que na Dilma.”

Ah, professor… Tantos anos de lutas, para chegar a esse ponto?

Se Aécio é um adversário, não é um aliado. Se é um aliado, não é um adversário.

Mas, neste caso, das duas uma: o o senhor diz que Eduardo Campos quer enganar os eleitores de Aécio Neves, se mostrando parecido com ele, mas sabendo que não tem nada a ver e, depois de “papar” os votos aecistas mostrar que é totalmente diferente ou, pior ainda, está confessando que os dois estão “combinadinhos” num esquema “qualquer um dois dois que vá, vai combinado de governar com o outro” e, neste caso, têm uma visão comum, de aliados de verdade, por significarem variações de uma mesma coisa.

É esse o conceito que o senhor tem de aliança?

“Colar” no outro para conseguir uma posição vantajosa e, depois disso, virar-lhe as costas para ficar com tudo para si?

Será isso a “nova política”?

O senhor diz que Eduardo  Campos deve  “conquistar eleitores tucanos desde o primeiro turno, mostrando-se como opção melhor que Aécio para enfrentar a petista no segundo”.

É isso? É o “para tirar Dilma e Lula, serve qualquer um”? Igualzinho o que pensa Fernando Henrique Cardoso?

Eu não sou petista, não me melindro pessoalmente, mas vejo o senhor falar apenas palavras de ódio e de rancor contra o PT, quando o senhor, seu partido e seu candidato, Eduardo Campos, sempre foram tratados por eles com respeito e consideração. Serviram para ter ministérios até quatro ou cinco meses atrás e agora são a personificação do diabo, que vale até se vender ao eleitorado do adversário como aliado, como mais capazes de fazer o “serviço sujo” de eliminá-los?

Até porque, há cinco meses atrás, o senhor não pensava assim, e declarou ao jornal  O Povo – de sua terra, o Ceará – “Contra quem eu preciso disputar? Contra o Aécio. É ele que eu preciso afastar e impedir o crescimento”. E aí o Dudu Campos veio correndo, o desautorizou e o enquadrou e o senhor se sai agora com esse “adversário aliado”?

Que vergonha!

Professor, sua trajetória de evolução, desde seus tempos de udenista anti-Getúlio ao PCB, merece mais respeito do que, agora, na sua fase outonal, sugerir que o que seria de esquerda deve fingir-se de direita para atrair o voto direitista como mais capaz de de derrotar a esquerda e, para isso deve aliar-se ao adversário, ao ponto de combinar candidaturas, dividir currais e eleitorais e afinar um discursinho que não desafina uma nota sequer?

Tenha paciência, professor, nem com toda a boa-vontade do mundo dá para deixar de dizer que o senhor se passou para o outro lado.

A traição gera uma culpa terrível, que de tal forma confunde a mente de quem trai que ele quer ver a sordidez como heroísmo.

Mas não é, professor, a não ser para ele mesmo, na solidão que a história reserva aos que traem.

Fernando Brito:

View Comments (41)

  • Isso é que é o tal de "novo"? Novamente mais da mesma merda...

  • Estes traíras medíocres só enganam os coxinhas de plantão. O povo real não cai nesta. O povo sabe muito bem reconhecer traíras. As urnas te darão uma resposta. Aguardem!

  • Pensei que esse senhor fosse sério. Os partidos que se dizem de esquerda viraram um fubá danado. Cabe perguntar: que diferença há entre esse PSB e o outro que esqueci a sigla, aquele do ex-PCB.

    • Você está falando do PPS? Da Soninha (kkkkk) e do Freire (Pernambucano também como Dudu).
      A diferença é que o PPS não disfarça que é papagaio de pirata da direita udenista.

  • Me perdoem o mau trocadilho e tomar por velho o velhaco, mas essa vôdeu...

  • Não vejo como trairagem ou algo do tipo. O PT fez e faz isso muito bem: Não esqueçam da aliança com Collor, Maluf, Sarney e Roberto Jefferson.
    Isso se chama projeto eleitoral e ocorre devido a nossa legislação eleitoral e nossa amada Constituição Brasileira. Precisamos URGENTE da reforma política e também de uma nova Constituição mais presidencialista e menos Parlamentarista. A Constituição Brasileira foi concebida acreditando-se piamente que o Parlamentarismo iria sair vitorioso das urnas em 93, daí...

    • Com todos, inclusive Aécio para prefeitura de BH, o petismo sempre fez acordo político, quando significa que teve que expulsar radicais que não concordaram e ainda fazer como que o partido ganhasse o mínimo necessário para que o peso eleitoral desse aliado ficasse de igual e até maior, jamais tomar os currais eleitorais dos aliados, nem no Maranhão, nem no Ceará, nem em Alagoas, nem no Pará, etc, etc

    • Não esqueça que o parlamentarismo também exige composição de maioria parlamentar. O balaio de gatos é o mesmo e muito mais precário.
      A reforma política tem que ser engendrada de forma a vincular voto majoritário a voto proporcional de tal forma que o governante tenha maioria parlamentar composta por seu próprio grupo político-partidário.
      De outra forma teremos sempre um PMDB fisiológico chantageando o governante de plantão. Da mesma forma que a ideologia será sempre sacrificada em função dessa tal governabilidade.

  • Por que eles nao tiram no palitinho quem vai pro segundo turno? De qualquer forma ja marquei psiquiatra depois de ler esse texto.

  • E nem vamos botar a mãe no meio, pq aí fica feio, né? Tá lá no vitalício às custas de um desgaste horrível do agora inimigo ... É mole?

  • Mas, quanta condescendência histórica para com o falsíssimo esquerdismo do PSB. O que foi o PSB nos ásperos tempos de violentas perseguições à esquerda 1940/60 (PCB)? Que grito de protesto se ouviu de seus líderes de então ? Modernamente, onde sempre esteve o PSB Estadual SP ? Com o conservadorismo paulista: PSDB - Alckmin; Serra, Kassab, Pita. Que esperar de um partido sem compromissos populares ?

    • No Paraná o PSB é um partido da direita, aliado e parceiro do PSDB.

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