Analisando os ataques suicidas de Marta Suplicy

(Foto publicada no Estadão)

Renato Rovai, editor da Forum, e profundo conhecedor dos bastidores da política paulista, em especial do PT, fugiu do lugar comum de apenas detonar a senadora como “traidora”, etc, e fez uma análise objetiva das manifestações raivosas da senadora e ex-ministra da Cultura.

Segundo Rovai, os defeitos de Marta, a sua vaidade e prepotência constrangedoras, são comuns a boa parte dos políticos, inclusive dentro do PT, e isso acontece em função da maneira como o poder tem sido disputado dentro do partido.

A sua entrevista ao Estadão, um curioso show de ataques suicidas a seus próprios aliados partidários, merece ser analisada em laboratório, com frieza e objetividade.

Suas acusações são levianas, quase fúteis, e todas acabam ricocheteando na própria Marta.

Disputas de poder intra-partidárias, que a senadora agora tenta pintar de cores góticas, são inevitáveis e até saudáveis.

O problema do PT não é esse.

Marta perdeu disputas internas, e não está sabendo lidar com essas derrotas.

No entanto, o caso nos permite analisar, de perto, a doença mais comum que acomete as principais lideranças políticas do país: essa mania de olhar antes para si mesmo, de se atribuir demasiada importância, esquecendo o coletivo, além dessa melancólica tendência de se embriagar facilmente com os holofotes da mídia, deixando de lado uma relação direta e franca com os eleitores e cidadãos.

*

Isso vale para Marta, mas não só para ela…

Por Renato Rovai, em seu blog.

Marta Suplicy é uma pessoa controversa e difícil, mas não deveria ser politicamente julgada por isso. Sua entrevista de hoje é recheada de armadilhas e sinaliza para uma saída ruidosa do PT, mas o partido deveria tratá-la como uma oportunidade para algumas reflexões.

Marta não é diferente de boa parte dos políticos. Ela se move muito mais em função dos seus interesses pessoais do que do projeto coletivo.

Marta também é tão vaidosa quanto a maioria deles. É tão arrogante quanto a maioria deles. Sabe fazer intrigas quanto a maioria deles. Gosta tanto de poder como a maioria deles, até porque é ele que permite exercer um lado autoritário que alimenta a alma da maior parte deles.

Marta não é uma espécie rara na política. Ao contrário, é um pouco a essência da vida pública no país.

A diferença é que ao contrário da maioria dos seus pares, Marta é mais transparente. Fala em público aquilo que homens que se se julgam mais espertos preferem confidenciar a jornalistas em off no cafezinho do Congresso.

O excesso de vaidade e de transparência foi o seu principal adversário na reeleição à prefeitura de São Paulo. Naquele pleito, Marta perdeu para ela mesma. Seu governo era muito bem avaliado e seu adversário só amargava derrotas antes de superá-la.

Na entrevista a Eliane Catanhede publicada no Estado de S. Paulo de hoje (a entrevistadora também diz muito sobre a entrevista) Marta vai pra cima do PT como poucos dirigentes importantes o fizeram na história do partido. E Marta tem razão quando diz que o partido está em risco. O PT pode de fato, senão morrer, torna-se um projeto bem menor do que é ou já foi.

Mas o que Marta não diz é que ela é muito mais parte do problema do que da solução no que parece criticar.

Marta foi prefeita da maior cidade do Brasil e quando teve a oportunidade de oxigenar o partido e criar uma nova referência de relação com ele a partir do governo, não fez diferente do que aqueles que hoje critica. Marta foi exageradamente pragmática, sufocou adversários internos, priorizou relacionamentos com setores da direita em algumas áreas e não apostou em novas lideranças. Marta usou a máquina da prefeitura como um trator do ponto de vista das disputas internas.

Isso não significa que seu governo tenha sido um desastre. Muito pelo contrário, ela fez uma administração histórica em São Paulo e suas marcas (como os CEUs e os corredores) terão relevância por muitos e muitos anos.

A questão é que Marta hoje não tem poder e não pode exercê-lo do ponto de vista interno na mesma intensidade de quando era prefeita. Hoje são outros que movem o partido e suas estruturas a partir da força que detém em governos ou parlamentos.

O PT se tornou um partido muito suscetível à força dos seus prefeitos, governadores, ministros e parlamentares. E muito menos permeável às demandas dos movimentos sociais do que em outros momentos.

Essa é a crise do PT e que já foi identificada por Lula e outros dirigentes. É isso que pode senão matar o partido, diminui-lo e torná-lo insignificante.

Por isso a entrevista de Marta deveria ser tratada como um ponto de inflexão pela militância e dirigentes. Não é o momento para agir com o fígado e sair por aí xingando-a ou acusando-a disso ou daquilo. É hora de aproveitar para pensar o que leva personalidades políticas importantes a se acharem donos de um projeto e se comportarem como se não devessem nada a ninguém.

Isso vale para Marta, mas não só para ela.

Fernando Brito:

View Comments (52)

  • Marta abre o verbo contra o que diz serem inimigos e traidores.
    .
    Mas, se enxergasse o próprio rabo, veria que, ao continuar como ministra, um cargo de confiança da Dilma, durante um ano e meio após o seu primeiro jantar "Volta Lula", se mostrou uma tremenda MAU-CARÁTER, DESONESTA, e TRAIDORA e INIMIGA da presidenta.
    .
    Se enxerga, Marta!

    • Essa mulher tem jeito de ser boa de cama ,cabelo,barba e bigode, Relaxa e goza.kkkkk

  • Tudo bem querer salvar algum conteúdo dessa entrevista encomendada. Mas tudo ia bem até quando ela disse que pensou que seria a candidata à presidência quando Lula falou que seria uma mulher. Isso entregou a moça, não precisa nem Freud para explicar. Uma pena, pois não gostaria de vê-la reduzida a isso, mas ela não deixou escolha.

  • Eu sempre falei quando a Marta foi prefeita eleita de são paulo, vai ser um desatre e deu no que deu, agora ao contrario do que aconteceu com Luisa Erundina que saiu do PT e até hj é admirada pelos petistas e não petistas, porque fez um trabalho se não ótimo mas foi bom, tanto que até hoje é lembrada como prefeita, e acho ela mais capacitada prá ser a candidata do PSB, ao cargo só que o partido dela resolveu se aliar com o que há de mais retrogado na politica paulista que tem o vice do Alkmim aí fica dificil, mas ela é moderada assim como o senador recem eleito do partido por Pernambuco FBC, qmbos estão reabrindo ou tentando reabrir dialogo com o PT e isso para pernambuco é bom.

    • Carlos, nossas palavras são como bumerangue, vão e podem voltar a nós de uma maneira não muito agradável, não é mesmo?! Aqui no Sul há um ditado popular que diz:"não cuspa para cima, que cai na cara". FBC, forçado a deixar o cargo no governo Dilma, em seus discursos, atacava o PT e sua candidatura à presidência, agradando o candidato mineiro. O que se ganhou com isto? Imagino o esforço descomunal que Luisa Erundina teve de fazer para suportar a hipocrisia e a ambição de Marina Silva. Pode ser ingenuidade minha, mas se Eduardo Campos tivesse tido um pouco mais de paciência, quem sabe estaria ainda vivo entre nós, se cacifando para 2018, no âmbito da base aliada. Mas ninguém tem bola de cristal, não é mesmo?! Como você disse, esta reaproximação é bom para Pernambuco e comungo contigo deste desejo de um governo que se traduza em melhorias de vida para a população.

      • Aqui no Nordeste também sempre se disse que quem cospe para cima corre o risco de ser atingido pelo própio cuspe. A tentativa de reaproximação do PSB ao PT é puramente pragmática, pois durante o governo de Eduardo Campos os grandes investimentos no estado de Pernambuco foram alocados pelo governo federal (do PT) e há o claro temor de descontinuidade. A traição do PSB ao PT começou ainda na eleição municipal de 2008 e se estendeu até esta última eleição presidencial. O PSB armou e se deu mal e teme pagar o preço da traição.

  • Foi uma clara tabelinha Marta X Midia para criar intrigas. Típico de político derrotado.

  • Algumas vezes não entendia certas atitudes do Eduardo Suplicy. Mas agora

    pensando bem, ele é um brasileiro, é antes de tudo um forte, pois para

    aguentar esse abacaxi tantos anos, hay que ser mui macho.

  • O ditado já diz: " roupa suja se lava em casa ". Se ela tem alguma crítica ao PT e ao seu rumo, deve se discutir com seus pares e não dar uma " entrevista " à uma jornalista reconhecidamente por todos como capacho do PSDB. " O meio é a mensagem ". Quer ser acolhida pela casa grande para se vingar do partido que não teve confiança nela. Mais uma. Depois de tantos anos no PT e acolhendo os cargos que lhe eram confortáveis, agora mais uma desiludida com o partido. Muito conveniente. Vai fazer parte daqueles que quiseram destruir o partido e vai se dar mal, como todos eles. A ver.

    • A atitude dela é nojenta.
      Traição tem nome e marca para sempre.
      Marta, vá embora, relaxe e goze.

    • Não se trata de ser acolhida pela casa grande, mas, voltar a ela.

  • Mais uma que Lula deixou no altar . Por Dilma
    Pelo andar da carruagem vai aparecer mais gente , que não
    enxergam o próprio umbigo e não estão obesas , mas
    obesas de vaidade e prepotência .

  • Não só a Marta…, esqueceram da Marina…, ambas são um poço de ressentimentos pessoais e ambas, também, tiveram suas oportunidades de mostrar ao povo “a que vieram”. Suas “competências” minguaram frente a realidade atual. Restou o de sempre: destilar ódio, ressentimentos, invejas…etc. Tanto uma como a outra…usaram o PT pra se projetar. O que deram em troca...????

  • O problema da Marta e TODOS os dirigentes executivos do PT (Lula incluído) é que o Partido dos TRABALHADORES só o é durante as eleições. Quando no governo ações para o benefício dos trabalhadores é só para os trabalhadores dos OUTROS.
    Como governo o PT é um ótimo PATRÃO, em 12 anos de governo federal, os trabalhadores públicos parecem mais servos que servidores:
    Não existe data-base e nem regra de reajuste salarial anual.
    Não há reajuste linear há mais de década e só as ditas categorias de ELITE estabelecidas na ERA FHC como categorias típicas de Estado tem alguma capacidade de negociação salarial.
    Mesas de Negociações aliais que são quase sempre conduzidas por quadros do sindicalismo privado que em geral intimamente odeiam servidores públicos e utilizam sadisticamente todas as técnicas conhecidas e sofridas por estes quadros na protelação de suas demandas.
    Se o PT acabar ou diminuir vai ser por ESTE comportamento executivo do PT na sua relação com os trabalhadores e não por estas querelas intestinas. O Partido e suas lideranças se fizeram líderes conhecidos dos eleitores nas greves e confrontamentos dos trabalhadores dos anos 70/80. Desde que o direito de greve foi "constitucionalizado" em 1988, todo sistema jurídico-legal-executivo só tem feito limitar econômica-mediática-policialmente o seu exercício. E o PT, quando alçado ao executivo federal, não moveu uma palha para garantir ou possibilitar o exercício constitucional do direito de greve, nenhuma lei, projeto ou decreto nesta direção. Aescolha sempre foi o apoio aos "setores produtivos"
    Chegamos ao ÁPICE desta contradição ululante quando o governo petista da Presidenta Dilma ameaçou (com sucesso retumbante) as categorias de servidores federais com multas diárias e a ameça de dispositivos de leis remanescentes da época da Ditadura contra greves no setor federal durante a Copa do Mundo.
    Bem isto é apenas um FATO que nem a blogfera de esquerda OUSA criticar.
    Pois bem ISTO é mesmo que JÁ ESTÁ acabando e envelhecendo com o PT, os partidos de direita sempre se renovam pelo nepotismo do filhos e netos e pelas estrelas colonistas da mídia PIG transmutados na nova geração da direita, já o PT se transforma dia a dia num partido de velhos líderes de um movimento anacrônico chamado sindicalismo. A maioria dos trabalhadores jovens sequer sabem o que é uma greve. E os jovens trabalhadores que por acaso também são eleitores porque haverão de ouvir os líderes petista se a luta sindical não faz parte de suas vidas? A juventude só encontra líderes na internet e na mídia.
    Como surgir um novo líder metalúrgico ou bancário como Lula ou Olívio Dutra sem qualquer greve no setor privado ou mesmo público ?
    O PT vai passar a se renovar por nepotismo como seus pares no congresso ou vai COMPREENDER que mais do que tudo tem de usar sua posição política para PERMITIR que novas greves surjam e revelem novas lideranças sindicais e assim possibilitar a renovação natural de seus quadros políticos. DE VERDADE.

    Entendeu ou quer que eu desenhe Seu Luis Inácio Lula da Silva ?

    • As outras ações não valem nada, contra fome e miséria, luz para todos, mais médicos, minha casa minha vida, água para todos, o ódio ao Lula e a Dilma não nos levará a lugar nenhum.
      As pessoas realmente carentes agradecem muito aos governos de Lula e Dilma, eles estão saindo da miséria.

      • Uma coisa é uma coisa outra coisa é outra coisa.

        Eu sou petista e desde o segundo turno da primeira tentativa de eleição de Lula sempre votei no PT e sua contribuição a cidadania não pode ser questionada. MAS, e este é um grande mas, a posição do PT quanto aos trabalhadores estatais é contraditória e ingrata.
        Durante os primeiros 10 anos da sigla partidária foi a contribuição do salário dos servidores públicos filiados a legenda que sustentou o partido e o tratamento recebido simplesmente não condiz com a História do PT.
        O que falo é fruto da imensa oposição e votação na oposição entre servidores federais e da minha percepção com conversas com pessoas mais jovens sobre o trabalho, sindicalismo e o PT. É uma frente política que o partido abandonou e em relação a míngua que o exercício sindical e o ativismo cínico-político-jurídico de juízes da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal (servidores) em criminalizar, atribuir multas diárias com intensão clara de liquidar economicamente os sindicatos (do setor privado ou público) e impedir qualquer expressão do direito de GREVE sob a desculpa de direito difuso da população mas na verdade em célere e pronta disposição para defender o Capital e os Patrões através da lei e ordem social. Lembra ALGO ?
        Não a Constituição e seu artigos são mero detalhe e com aplausos acalorados da mídia PIG que só foca no "sofrimento da população" e nunca questiona a situação em que foram colocados os trabalhadores em greve e suas renvindicvações SEMPRE tratadas como irracionais e excessivas.
        Esta postura contra servidores públicos ainda é resquício da caça aos Marajás do Collor, outra coisa que faltou aos governos Petistas foi passar a sociedade a NECESSIDADE de servidores públicos e do próprio Estado nas suas mensagens na mídia. Vanessa Urach que o diga salva pelo SUS e seus servidores enxovalhados pela mídia PIG.
        Se o PT envelhecer sem novos líderes a culpa é só do PT mesmo.

    • O meu adorei é para o Gilberto...mas não consegui colocar no lugar certo!

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