A partir de amanhã vamos começar a ver qual será o impacto da “inflação gregoriana”, aquela da virada do ano, quando tarifas, impostos e contratos recebem o impacto da correção acumulada (e por vezes mais que ela) das perdas acumuladas no ano anterior.
Claro que, para compensar um ano em que a inflação quebrou a barreira dos 10%, este choque tem porque ser grande.
O IPVA, por exemplo, passa de 10% de aumento em praticamente todos os Estado e de quase 25%, e média, no maior deles, São Paulo. O IPTU, no mínimo, acompanha os 10% de inflação. Escolas e cursos, também por aí.
O pobre salário mínimo, coitado, ainda vai ser pretexto para a continuidade dos aumentos de preços, sobretudo nos serviços, que com menor demanda desde o início da pandemia, vinha aumentando menos de preço que a inflação em geral e, por isso, possivelmente não terão margem para absorver reajustes salariais sem repasse de preços.
Quem tem disponibilidade financeira ainda pode aproveitar os descontos de pagamento à vista, mas as dificuldades de todos em fechar o orçamento do mês, ainda mais em janeiro, faz disso um privilégio de poucos.
Há ainda o reajuste das tarifas de ônibus, que acontece em janeiro na maioria das cidades. Ainda que suspensa provisoriamente em São Paulo, vai empurrar a inflação.
No ano passado, a maioria das tarifas e impostos, em razão da pandemia, permaneceu congelada e, com isso, janeiro teve um IPCA de 0,35% e fevereiro de 0,45%. Não é nenhum exagero estimar que ambos vão dobrar ou ficar perto disso, devolvendo os ganhos do índice acumulado em 12 meses que dezembro apresentou.
Portanto, mais 60 dias de inflação acima dos 10%, completando um semestre inteiro acima dos dois dígitos, o que não aconteceu nem mesmo em 2015/16, quando ela ficou assim por quatro meses.
E quanto mais tempo fica neste patamar, mais “acostuma” à correção continuada de preços, mesmo com a queda na demanda provocada pela perda de renda do trabalhador.