ANP quer entregar transporte do gás às multinacionais

Ontem, a Agência Nacional do Petróleo, cumprindo sua vocação de berço de ser um agente de destruição da Petrobras, aprontou mais uma.

Quer limitar, nos novos gasodutos a serem construídos no Brasil, a participação da Petrobras.

O argumento é que não é bom que a mesma empresa produza e transporte o gás, porque isso contraria “a  competição”.

Por isso, a ANP prepara uma resolução que impede o produtor de ser o transportador.

E quem é o produtor de 90% do gás brasileiro?

Adivinhou.

E quem tem quase toda a malha de gasodutos do país?

Adivinhou de novo, não é?

Não se está falando aqui de um frota de caminhões-tanque ou de uns tubinhos de encanamento de gás, daqueles pintados de amarelo que a gente vê nos prédios.

Estamos falando de dutos de alto valor logístico, capazes de definir políticas de implantação de indústrias e de jogar um papel muito pesado na definição de preços.

E de altos investimentos, com capacidade de gerar toda uma cadeia de produção industrial que pode – como faz a Petrobras – gerar encomendas milionárias para a indústria brasileira ou… no exterior.

E lembremos que, com o início da exploração do pré-sal, não apenas a produção de petróleo dará um salto imenso mas, com ela, a do gás.

A ANP é o que foi criada para ser: a entregadora do petróleo brasileiro.

Por isso, quando não pode escancarar o portão, começa a tentar abrir todas as portas e portinholas que puder.

As multinacionais estão de olho neste filé e já entraram, com Fernando Henrique Cardoso, no gasoduto Brasil-Bolívia.

A BP – aquela feita com o golpe no Irã – tem 29% do controle.

E há muito tempo quer mais.

Leia este trecho do Relatório Reservado, de julho de 2000:

De um lado, Shell. Do outro, British Petroleum. Pode até dar zebra, mas é quase certo que uma das duas multinacionais seja o futuro controlador dos negócios de transporte e distribuição de gás da Enron no Brasil, Argentina e Bolívia. Outros pretendentes também procuraram oficialmente o grupo americano, porém, um detalhe crucial levou à bipolarização da disputa: apenas Shell e BP topam comprar o pacote completo, que inclui participações nos dois lados do Gasoduto Bolívia-Brasil, na Transredes, na Térmica de Cuiabá, na Elektro, na CEG, na Rio Gás e na Gaspart, além de 35% na argentina Transportadora Gas del Sur. Este é o grande diferencial. Em todas as outras negociações, os candidatos queriam apenas um ou outro ativo. O curioso é que Shell e BP pensam exatamente da mesma forma. Se pudessem escolher, também comprariam apenas os negócios no setor de gás. Como a Enron não quer saber de uma venda self-service, os dois grupos europeus pagam o pedágio. Aceitam ficar com as participações no setor de energia para colocar a mão em negócios estratégicos na área de gás, como o Gasoduto Bolívia-Brasil e a CEG. Mas o que Shell e BP fariam com as empresas elétricas? A estratégia da dupla é praticamente a mesma. As duas companhias já negociam com empresas de energia a formação de um consórcio que assumiria a operação da Elektro e da Térmica de Cuiabá. Isso para não falar que, no limite, não está descartada a própria venda futura destas empresas. Para a Shell, comprar as participações da Enron seria um negócio e tanto, sobretudo para a sua atuação no Brasil. Triplicaria os 17% que tem na Gás Transboliviano, passando a ser a maior acionista da companhia. No lado brasileiro, passaria de 4% para 12% no capital da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil, ficando individualmente atrás apenas da Gaspetro. E, de quebra, entraria no capital de nada menos do que nove distribuidoras de gás, sendo duas no Sul e cinco no Nordeste, além da CEG e Rio Gás, no Rio de Janeiro.

Tão ingênua, essa ANP…

Fernando Brito:

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  • A ANP não é subordinada ao Ministério de Minas e Energia. Neste caso não é o Ministro (por trás das câmeras, LOBÃO e pela frente, CORDEIRO) que da a palavra final.