Anticorpos contra o vírus golpista

Em condições normais, muito pouco valor teria a imagem do cumprimento trocado entre os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso. Talvez, até, fosse eleitoralmente negativo, mas, ao contrário do que sugere a foto, creio que o eleitoral é o menos importante no gesto.

Penso que se ela merece um adjetivo, é o de ser um elemento profilático, a afastar a ideia de que o retorno de Lula à presidência poderia justificar vetos militares, judiciais e/ou empresariais.

Ou, para cunhar uma frase-síntese: como voto, é nada; contra vetos, é muito.

Afinal, FHC sempre foi uma espécie de “vaca sagrada”, como as indianas, para essa turma e o ruminar manhoso das ideias do ex-líder do tucanato certamente há de irritar mais os que se agarram à esperança da tal “3ª via” do que aos que ainda não se vergaram à ideia de que, em nome da “extinção dos bolsonaros” tudo deve ser feito.

Do lado de Lula, basta perguntar-se: querem que ele ganhe a eleição ou que Bolsonaro continue? Restaurar um grau de civilidade entre pensamentos diferentes não é uma das bandeiras decisivas para o país?

Embora possa dizer diferente, o gesto de FHC é uma confissão de que não há outro candidato viável e é preciso ter claro que o atual presidente é um rato morto, que apenas fede, mas não morde.

Suas falanges estão aí, suas ameaças de virar a mesa eleitoral se amiúdam, as bravatas sobre uma intervenção militar, também.

Portanto, o gesto da foto tem, por tudo, um efeito de vacina, alguma proteção contra o contágio golpista que o atual presidente estimula, tanto quanto o do coronavírus.

Pode dar alguma reação, algum “nó nas tripas” ou enjôo, mas é boa vacina contra o vírus do golpismo, presença endêmica na direita brasileira.

Fernando Brito:
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