O fato do matador fanático da Nova Zelândia, Brenton Tarrant, ter incluído o Brasil no capítulo “Diversidade é Fraqueza” de sua alucinada carta, para criticar nossa miscigenação racial, não é, afinal muito diferente – sem nenhuma menção a instintos assassinos – , claro, ao que muitos reacionários brasileiros pensam, atribuindo nosso atraso à herança indígena, à imigração forçada dos negros e, até, ao sangue português.
Não é ideia rara, aqui, mas é tola em qualquer parte.
Ao contrário, diversidade é nossa força, é o que sempre fez este país dar lições de convivência, claro que com muitas e muitas falhas discriminatórias mas que – ao menos até algum tempo atrás – iam se reduzindo geração após geração.
Nada justifica o racismo ou a autoconcedida supremacia reacial, mesmo em doses menores que as do passado mas, ainda assim, fomos caminhando, até mesmo para tornar crime o racismo e a injúria racial.
E dessa caminhada só nos veio mais força e identidade.
Ao contrário do que acontece com pessoas que pensam como este matador – tanto é que ele foi à procura de muçulmanos para fazer sua chacina – não precisamos ser idênticos para nos reconhecermos como iguais.
E nos reconhecermos como iguais em um povo é a chave de nossa libertação nacional. Justamente por isso a escondem, a evitam, a deformam, para que não possamos ser a civilizaçao do Terceiro Milênio, como sonhava Darcy Ribeiro:
Nós, brasileiros, (…)somos um povo em ser, impedidos de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos oriundos da mestiçagem viveu por séculos sem consciência de si, afundada na “ninguendade”. Assim foi até se definir como uma nova identidade étnico-nacional, a de ser brasileiros. Um povo, até hoje, em ser, na dura busca de seu destino. Olhando-os, ouvindo-os, é fácil perceber que são, de fato, uma nova romanidade, uma romanidade tardia, mas melhor, porque lavada em sangue índio e sangue negro.
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Malucos, ignorantes, imbecis, canalhas, sempre existiram. A tragédia é que, nesses nossos tempos, a cultura da violência abriu as portas para esse inferno. Os insanos já têm disponíveis a idéia, as armas e até grupos onde a logística dessas barbaridades é ensinada.
A miscigenação racial do povo brasileiro é nosso melhor atributo e nossa maior força.
Essa força ainda não se manifestou, porque está sendo contida pelos ricos e brancos reacionários conservadores de direita.
Nos governos do PT essa barreira estava sendo superada.
Assim que esse governo fascista se autodestruir, voltaremos a lutar para conquistar nosso merecido lugar no cenário global.
Eu não vejo assim ..a partir do momento que temos dia de orgulho disso e daquilo ...cota pra este e não pra aquele, MEDIDOS pelo SER, e não pelo estar
Quando fazemos da natureza, algo a que nos orgulhar ..
..é prova provada de que o remédio, de há muito, se transformou em VENENO
Cora racial, dia dor orgulho negro, dia da mulher são exemplos do que falo ..tudo prova de que estávamos longe, e nos distanciando, de onde deveríamos chegar ..na ISONOMIA e no 5o artigo constitucional
Cotas e movimentos sociais são manifestações da diversidade onde uns podem e os outros não. São resultados de movimentos políticos na busca de igualdade de oportunidades e de direitos. Estes "incômodos" movimentos e leis protecionistas existem porque existe desigualdade instaurada a séculos no país e como não se pode corrigir o passado no passado, é preciso corrigi-lo no presente.
A chacina que este assassino protagonizou na Nova Zelândia é o sonho de todos os bolsomínions.
#LulaLivre
Venceremos.
Como dizia a ovelha no meio de uns 500 cachorros...
Ninguendade. Que belo neologismo!
Agora há pouco, o próprio vice Mourão mencionou que a fraqueza e indolência do brasileiro se devia aos sangues indígena e negro. Ele que é nitidamente e racialmente um mestiço. De fato, há identidade entre o facínora neozelandês e os extremistas brasileiros. Ou é mais que identidade?
Surgirá uma nova raça, mais racional, igualitária e evoluída dessa "ninguendade". Sem medo de errar, seremos a matriz evolucionária da nova raça humana.
Mesma tese de Anders Breivik e Hamilton Mourão.
nós, como povo, nunca fomos exemplo de convivência. não romantizemos o estupro de mulheres negras e indígenas, não romantizemos essa "miscigenação", que é resultado do ódio, da violência, e até mesmo de um ideal de branqueamento.
é muito triste que ainda idealizemos isso num país que prende, mata, e mantém à margem da sociedade quase toda a população negra. é verdade que evoluímos, à força de muita luta do povo negro, que vinha começando a erguer a cabeça nos últimos anos. mas sempre fomos esse povo odiento, é preciso viver na pele pra entender o que é o profundo ódio e desprezo que é nutrido nesse país contra o povo negro e indígena.
Não se disse que não havia discriminação e violência, mas que progredimos. E que, agora, regredimos.
é que vc diz que somos um pais que dá exemplo de convivência, apesar das muitas falhas. acredito que nunca fomos exemplo, até mesmo considerando que a eleição de Lula (uma pessoa oriunda da classe trabalhadora) e os poucos anos que tivemos de uma tentativa construir uma cultura de civilidade são um ponto fora da curva na história do país. eu entendo o teu ponto de vista, mas não compartilho dele. sempre comento quando discordo (quase somente quando discordo) mas devo dizer que é um prazer ler os teus textos. abraço.
A força da natureza está no vigor do híbrido. Toda planta ou animal é mais forte e mais sadio quando tem o vigor híbrido da natureza. Toda a vez que fazemos artificialmente o melhoramento de uma espécie vegetal ou animal, ela pode ter um melhoramento genético em alguma característica planejada. Mas no geral torna se frágil. Como as plantas ou cães artificialmente melhorados. Uma planta de milho geneticamente melhorada tem baixa resistência á doenças. Etc, etc.
O brasileiro tem o vigor híbrido social e genetico, natural. Eis a grande força.
Infelizmente, de nada adiantam as reconhecidas vantagens da mestiçagem na nossa configuração populacional. Pelo menos, enquanto os detentores do poder econômico tiverem o "direito" de determinar a lógica do poder na sociedade. Como há séculos esta lógica está nas mãos de uma subpopulação minoritária caucasiana, isto serve para confirmar-lhes as ilusões de grandeza e superioridade que nutrem e transmitem por tradição oral aos seus rebentos. Que por conseguinte estão por aí, mostrando as carantonhas em demonstrações de preconceito racial, social e de gênero, para mostrar que bem aprenderam sua lição. O brasileiro majoritário, mestiço e pobre, continua a ser um exilado em seu próprio lugar. E alvo predileto das exibições de força dos capatazes, para deleite dos alvos senhores da casa-grande. Tristes trópicos...