A notícia da Folha de S. Paulo sobre a equipe de campanha do candidato bolsonarista Tarcísio de Freitas ter mandado um cinegrafista da Jovem Pan “apagar vídeo de tiroteio em Paraisópolis, durante ação de campanha na comunidade“, deixa uma dúvida e uma certeza.
A dúvida é sobre o que estaria se pretendendo esconder ao mandar destruir as imagens. O que elas mostravam que não poderia ser de conhecimento público? Esconder a identidade de quem acompanhava Tarcísio não era, porque as pessoas participavam de um ato que, em princípio, era público, à luz do meio-dia e não havia ninguém de rosto coberto.
O mais provável é que houvesse ali alguém que não podia estar ao lado do candidato, pertencente aos serviços de informação do Governo, hipótese que a Folha sugere:
O policial apontado como autor dos disparos que matou o suspeito havia passado por treinamento na Escola de Inteligência da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), um órgão do governo federal, em Barbacena (MG), meses antes. A reportagem omite o nome do agente por questão de segurança.
Questionada, a Abin disse que não tem servidores fazendo a segurança de candidatos a governos estaduais. Afirma, porém, que um de seus servidores está de licença para tratar de interesses particulares e acompanha Tarcísio. “O trabalho atual deste servidor não é desempenhado em nome da Agência.”
Licença para tratar de “interesses particulares” agindo como “policial” de campanha? Parece impossível que as regras da Abin permitam a seus servidores atuarem como seguranças privados.
Já a certeza é a de que existe uma relação de subordinação entre o “jornalismo” da Jovem Pan e a hierarquia do candidato, o que fica claro quando se ouve o áudio (reproduzido abaixo) em que algum “chefe de segurança” tarcisista aborda o cinegrafista com uma inegável autoridade e o manda apagar as imagens.
Não é um pedido, uma solicitação, uma ponderação sobre algum risco. É uma ordem direta.
Em décadas de coberturas, nunca vi um fotógrafo ou cinegrafista receber uma determinação para destruir o resultado de seu trabalho e não se insurgir contra ela. Isso não existe.
Como houve um homicídio no local, apagar a fita pode representar a supressão de uma prova importante no esclarecimento do caso. Mas, ao menos, fica como uma amostra para o que pode vir da promessa bolsonarista de evitar câmaras flagrando a verdade em ações violentas.
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