Apesar de tudo, CPI gravou estigma em Bolsonaro

Na análise que faz sobre o encerramento formal da CPI da Pandemia, na Folha, Bruno Boghossian resume em uma frase o essencial que dela fica:

O pedido de indiciamento de Bolsonaro por nove crimes tende a dormir nas gavetas de Brasília antes de dar origem a processos contra ele, mas terá um efeito político.

Sim, é ilusão pensar que, com Bolsonaro no poder, processos de responsabilização do presidente, por mais óbvios e justos que possam ser, vão ter seguimento na Polícia Federal, no Ministério Público e no Judiciário.

Arrastar-se-ão e, se andarem, será depois do final da sua era de mando – diante da qual nossas instituições, cúmplices do processo que o levou ao poder, até já fazem algum barulho, mas não gestos concretos – quanto, sabe-se, não se exercita a clemência com os vencidos.

A CPI, porém, tem em seu relatório e conclusões um poder de fogo real, que espicaçará a candidatura de Bolsonaro todo o tempo.

A lista dos nove crimes é, em si, um libelo difícil de contornar. E não só para ele, mas também para os candidatos da dita 3ª Via, todos, em maior ou menor grau, com responsabilidades em sua ascensão.

E boa parte do esclarecimento da população veio das sessões da CPI – que, como em todas, teve seus momentos toscos. O cloroquinismo e a resistência às vacinas eram muito mais fortes quando ela começou e foram sendo demolidos a cada dia, até sobrar para eles apenas o Planalto como cidadela.

Mesmo descontado o charlatanismo, a CPI evidenciou que faltou a este governo não apenas empenho mas também competência para enfrentar uma crise mundial, enquanto com seu principal adversário, Lula, deu-se o contrário na grande crise de 2008/2009, que teve seu símbolo na “marolinha” com que nos atingiu.

Soma-se desumanidade à incompetência no estigma com que a CPI marcou a testa de Jair Bolsonaro.

Isso é mais importante que o enquadramento jurídico dos crimes que se cometeu e se um deles foi o de genocídio.

Afinal, como lembra o jornalista Kennedy Alencar, o dicionário Aurélio diz que genocida é “Genocida é a “pessoa que ordena ou é responsável pelo extermínio de muitas pessoas em pouco tempo”.

606 mil pessoas é muito?

 

 

 

Fernando Brito:
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