Vai se fixando a impressão que, em relação às Forças Armadas, estabeleceu-se um processo de partidarização que se assemelha em muito ao que transformou o Poder Judiciário num lixo, indigno do respeito da maioria da população.
Lá, um aventureiro – Sérgio Moro – acompanhado de uma trupe de fundamentalistas obtusos do Ministério Público – alguém se lembra do “Hegel” do início “tripatético” do processo que condenou Lula? – foi se impondo sobre os tribunais superiores e levou a submissão total da Justiça a um punitivismo inédito no Brasil e à substituição da prudência pela histeria na quase totalidade dos juízes.
No meio militar, a composição dos ministérios e cargos-chave da Administração com enorme presença de generais sendo – ainda pior – muitos deles recém saídos de posições de comando ativas, mais do que transformar o governo em apêndice da instituição militar, está transformando as Forças Armadas em apêndice de Jair Bolsonaro e sua aventura insana.
Pode-se argumentar que Jair Bolsonaro não tem projetos e os militares os têm.
Talvez estejamos pensando nas Forças Armadas de algumas décadas atrás, porque é difícil ver algum projeto em um grupo que se inaugura demonstrando uma única causa: a de não serem atingidos pela reforma previdenciária.
Jair Bolsonaro é um energúmeno intelectualmente, mas não é bobo.
Mostrou ontem que mesmo alguém com prestígio de “herói”, como Sérgio Moro, pode ser atropelado e enquadrado. Engoliu o decreto das armas e, se quiser, que vá se divertir com as propostas de eliminação de garantias do cidadão e m nome do combate à corrupção. A dos adversários, naturalmente.
Ao colocar boa parte do seu Estado Maior e seu próprio comandante, Eduardo Villas-Boas, nos cargos políticos, o Exército assumiu mais que a subordinação constitucional a um chefe de Estado.
Assumiu a subordinação a um projeto político autoritário, brutal, entreguista, intelectualmente desqualificado e anacrônico.
Pior, com mais “prestígio na tropa” do que todos eles somados.
As três décadas de separação entre política e armas foram jogadas fora em menos de dois anos.
Ter cargos não é o mesmo que ter poder.
Entregaram-se ao comando, de fato, de um sujeito que saiu da caserna pela porta dos fundos. Entregaram a ele a própria caserna.
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É tudo tão absurdo, que às vezes fico imaginando a existência de uma conspiração militar para, no momento propício, dominar o governo e resgatar todo o patrimônio natural e estratégico surrupiado, criminosamente, dos brasileiros.
Enquanto isso, eles fazem de conta que apoiam Bolsonaro, para enganar os americanos.
Infelizmente acho que isto não acontecerá, Emilia. Dominar o governo já dominam. Resta talvez a eles domar ou escantear a trupe de Bolsonaro para o cumprimento da missão entreguista. Dissidências ou insurgências locais poderão haver, como na ditadura de 64, que serão devidamente tratadas a ferro e fogo na caserna. Resta a possibilidade de uma "malvinas" à brasileira (Venezuela, p. ex.), dada a subserviência dos militares aos interesses externos, com o provável avançar de uma crise política e econômica e a insatisfação popular.
Mais ou menos como foi feito no Afeganistão, onde um grupo de tarados apoiados por Washington resolveu praticar política nacionalista e atacar os ianques? Lá foi pior. E aqui?
Nossa, isso é o mesmo que acreditar em duendes.
Muita lucidez e capacidade de síntese nesta nota. Eu nunca tive ilusões com os militares e venho dizendo e escrevendo, há muito, que desde 2016 o Brasil é governado por uma junta militar. A alta oficialidade - em especial o generalato - por muitos anos desprezou ou menosprezou o ex-capitão Bozo e a prole deste. Condescendentes com o ex-capitão que organizou motins, que ameaçou explodir quartéis e planejou ataque terrorista para explodir a adutora da CEDAE, que abastece a capital e RM-RJ, a alta oficialidade do Exército viu Bozo conquistar apoio e simpatia da "tigrada",ou seja, da baixa oficialidade do Exército e das PMs em vários estados da federação. Como o contingente de de PMs e baixa oficialidade do Exército é MUITO maior do que o de coronéis e generais e todos eles têm acesso ao mesmo tipo de armamento de guerra, fica claro que o alto comando do Exército teve de entubar o ex-capitão Bozo e toda boçalidade dele. A colocação do general cafuso - mas que [se] pensa e age como "ariano" - como vice do Bozo é uma tentativa de enquadrá-lo, como já mostrei diversas vezes. O [des]governo dos Bozos nada mais é do que um boneco de ventríloquo nas mãos dos verdadeiros donos do poder e integrantes do alto comando internacional do golpe, que são o Deep State estadunidense, finança transnacional e oligarquias; o mesmo se diga em relação ao torquemada das araucárias, sendo que este já foi colocado na frigideira, quando, seduzido pelo poder ilimitado que lhe ofereceu o Bozo, ele deixou a toga.
Esquizofrenia pura o atual momento político do Brasil. Isso não vai dar coisa boa. As FFAA sempre tiveram quadros lúcidos que entendiam um projeto de nação para o país muitos à direita, alguns à esquerda. De alguns poucos anos para cá esse cenário tem mudado e está ficando bastante nocivo ao Brasil por sua falta de nacionalismo sério. O rabo tocar o cachorro não faz sentido. Será que vão tolerar muito tempo?
Olá Fernando! Espero que esteja bem.
Entendo qe a grande questão é: as forças armadas pelo menos nos ultimos 50 anos, ou mais, refugou grande parte das vezes que foi necessário sua ajuda na proteção dos direito da maioria da população. Com certeza desde 64 ela toma o partido das elites, em detrimento a vontade da maioria. após 30 anos da redemocratização, fim da guerra fria, fim do comunismo e eles ainda estão procurando este inimigo em todos os cantos. E acham ! E querem combater, eliminar, fuzilar!
São incompetentes, dispendiosos, atrasados e não tem serventia para aqueles que pagam seus salários: p povo brasileiro.
Temos que colocar em pauta o encerramento destas forças armadas, quitando todos os débitos que a nação tem com eles, dispensando de generais a cabos. Esperamos uma geração e iniciamos novamente com pessoas atualizadas ao sec XXI, com ciência dos reais deveres e da missão que devem seguir. Chega desta gente que ficou adormecida durante 30 anos e voltaram com os mesmos argumentos da decada de 60.
Observacoes brilhantes, originais, como de costume. Muito grato Brito.
Mas é nisto que se transformaram mesmo, funcionários públicos sem função. Não controlam a tecnologia que usam, sujeitos a embargos, só as usarão se tiverem permissão externa. O caro da invasão de dados da petrobrás, bem antes do petrolão, e o grampo na presidenta, bem antes do vazamento do caso Lula mostra o quanto são despreparados, inúteis e ultrapassados. Para que manter uma estrutura tão cara?
Rui Costa Pimenta costuma dizer que ser ridículo ou hilário não significa que um governo seja inofensivo. Prevejo tempos muito difíceis pela frente
Surrelist de mais...
James Petras, intelectual estadunidense, estudioso da geopolítica mundial, analisa o futuro da vassalagem do Brasil aos
EUA diante do crescente protagonismo da China:
https://dinamicaglobal.wordpress.com/2019/01/16/a-estrategia-perdida-do-presidente-trump-abracar-o-brasil-de-bolsonoro-e-enfrentar-a-china/
O golpe de 64 foi tão nocivo ao próprio exercito que chegaram ao ponto de reformarem Bolsonaro quando deveriam ter-lhe aplicado as punições que um militar terrorista estaria sujeito. A benevolência a ele dispensada, contrária até mesmo aos presidentes militares, que o tinham como um militar medíocre e encrenqueiro, causou a maioria dos problemas hoje vividos e, possivelmente, será desastroso para as forças armadas.
Nota-se que as tropas estão perdendo paulatinamente o sentido de hierarquia tão necessário.
Vemos hoje um punhado de generais de pijama, se submetendo a um capitão reformado, medíocre e sem senso militar. Com isso as tropas seguem o exemplo, e brevemente, mesmo os generais comandantes de tropas terão dificuldades de contê-los.
Deve ter havido uma contaminação virulenta de Carlos Lacerda até Bolsonaro. Não vemos mais nascerem das tropas nenhum Carlos Lamarca, apenas Ustras e Bolsonaros e generais medíocres que trocam continências para capitães-políticos por cargos no governo.