Em entrevista a a O Globo e ao Valor (aberta para não assinantes) o ministro Luís Roberto Barroso descreveu o comportamento do presidente Jair Bolsonaro diante da segurança do processo eleitoral de forma idêntica ao que, ontem, foi dito aqui: o presidente do TSE, ao convidar as Forças Armadas para uma comissão de avaliação das urnas eletrônicas teve uma atitude como a do cordeiro diante do lobo da fábula, querendo convencer alguém que não aceitaria ser convencido.
Quando o presidente diz que encontraram vulnerabilidades antes mesmo de receber as respostas às indagações, ele está adiantando, desavisadamente, a estratégia que ele pretende adotar. Para falar a verdade, ele queimou a largada. Ele lança mão dos questionamentos feitos pelo representante das Forças Armadas, quando, na verdade, tudo o que foi feito foram algumas perguntas e, antes de ter recebido as respostas, já disse que tem vulnerabilidades. Ele antecipou a estratégia dele, que é: não importa quais sejam as respostas, eu vou dizer que o sistema eleitoral eletrônico tem vulnerabilidades. Ele não precisa de fatos, a mentira já está pronta.
Mas, doutor Barroso, o senhor não sabia disso no final do ano passado, quando convidou as Forças Armadas para examinar as urnas, o que compete à sociedade civil e aos partidos políticos, sabendo como Bolsonaro estava disposto a usar os militares como fator de desestabilização do processo eleitoral?
O presidente já não tinha mandado desfilarem os tanques fumacentos da Marinha na Praça dos Três Poderes para pressionar por um voto impresso maroto como o que deseja, com contagem manual? Já não tinha convocado o “Setembraço” que só não contou com forças militares porque a pandemia deu-lhes a oportunidade de, em razão dela, cancelar-se?
Ministro do Supremo e presidente de Corte Eleitoral não tem o direito de ser “bobinho”.
E estamos indo pelo mesmo caminho com esta história do Telegram. Achar que vai proibi-lo por lei, a esta altura, passando pelas duas casas do Congresso e por um provável veto de Bolsonaro à rede predileta de seus asseclas, faltando sete meses e meio para as eleições vai ser transformar a rede que não se submete à lei brasileira em bandeira das “liberdades cibernéticas” acenadas como bandeira por Bolsonaro.
O aplicativo há seis meses dá uma banana para a ordem do STF para retirar do ar publicação de Jair Bolsonaro com informações falsas sobre as urnas eletrônicas e a coisa está por isso mesmo. E Barroso diz que se estuda um projeto de lei para exigir que o aplicativo, sediado em Dubai, cumpra as leis brasileiras.
Ah, tá.