Existem, de fato, 30% de “bolsonaristas” no Brasil?
Parece evidente que não e o “núcleo duro” do fanatismo fascista no país talvez nem passe da metade disso.
O resto é o primarismo da nossa direita, que toma a causa como efeito e consegue errar em tudo baseada no princípio simplório de transformar o exemplo em regra.
Para eles, o problema não é a pobreza, é o pobre nas ruas; não é a degradação de milhões de jovens sem esperança senão o descaminho, mas os jovens criminosos; não é o excesso monstruoso de mortos a bala, mas a falta de revólveres e fuzis; não é o latifúndio improdutivo, mas os sem-terra; não é a falta de concórdia, mas a falta de força para impor o que imagina ser a ordem natural das coisas.
Foram os “bolsonarizados”.
Jair Bolsonaro, para usar a frase famosa do seu apoiador Roberto Jefferson, despertou nesta gente os instintos mais primitivos e a cruzada moralista da mídia os adubou, deixando sequelas de difícil recuperação.
Mas que se curam, sim, e não por outra coisa Bolsonaro perdeu quase 40% de seus eleitores de 2018 (de 55%, cai para 30-32%).
Há, sim, resistência entre eles a aceitar que Lula, a quem a campanha de mídia demonizou durante cinco anos, tornou-se a única ferramenta política para deter a consolidação de um regime autoritário e militarista no país.
Não é preciso ser lulista para dar-lhe o voto e é só ver as disputas que ocorrem até entre os partidos que lhe são aliados para entender que ele não terá um “cheque em branco” para governar, ainda que vença em primeiro turno.
Seria mais conveniente para isso, até, uma segunda volta eleitoral, onde quase todas as pesquisas lhe dão cerca de 60% dos votos válidos, mais até que os 55% dos válidos atingidos por Bolsonaro em 2018, o que foi considerado acachapante por todos.
O “voto útil” não é, portanto, uma necessidade para a vitória de Lula, mas uma precaução que todos os que percebem o evidente golpismo de Bolsonaro devem ter, porque protagonismos (e nem tanto, com seus baixíssimos índices) são circunstanciais, mas a preservação das liberdades democráticas, não.