A reação golpista do bolsonarismo mais radical ao resultado das eleições e os dois dias em que o atual presidente as incentivou com o seu silêncio (para, depois disso, fazer um pseudocondenação em sua fala) foi e será ainda o pior cenário político para Jair Bolsonaro, ainda que a famiglia – o seu verdadeiro partido – esteja sendo interpretado como uma grande demonstração de força.
Para começar, abriu as portas, em nome da ordem e da normalidade, para que governadores, deputados e senadores do seu campo político, descolarem-se do radicalismo bolsonarista sem maiores danos diante de seus eleitores.
O mesmo vale, embora não tão ostensivamente, para os parlamentares eleitos pela base governista, mas distantes do perfil de extrema direita.
Idem para a turma da bufunfa, preocupada com o mercado e com o funcionamento de economia. Junto com a mídia, sempre ao lado do dinheiro.
Além disso, com visita ao STF, com PGR “amiga” e com tudo, é evidente que os acontecimentos das estradas levarão a uma investigação judicial que terá muito mais simpatia junto ao público do que as sobre “milícias digitais” ou “fake news”, Agora, trata-se de uma perturbação da ordem com graves consequências para a população.
Os fatos demonstrarão que havia premeditação, coordenação e promiscuidade entre as forças policiais e os bloqueadores de estradas.
Centro político e classe média percebem que estarem ligados a Bolsonaro já não significa uma aliança antipetista, mas uma promiscuidade com o extremismo disposto a apelar para a violência e a arruaça.
O ainda presidente é prisioneiro não só de seu autoritarismo como, também, dos grupos de extrema-direita e antidemocráticos dos quais não pode prescindir.
Ironicamente, nos três dias após a eleição, Jair Bolsonaro converteu-se no melhor aliado da ampliação de diálogo de que Lula precisa.
Para quem gosta de ditos populares, o que melhor encarna aquele “o cães ladram e a caravana passa”?