Bolsonaro chama o confronto para manter os seus

Quatro meses depois da “cartinha Temer” dando para trás no confronto com o Supremo Tribunal Federal, Jair Bolsonaro despeja outra carga de cavalaria sobre o STF, ao acusar os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso de estarem agindo fora da lei porque “são defensores do Lula [e] querem o Lula presidente”.

Não se perca tempo para mostrar, por seus atos, que Moares e Barroso jamais foram “defensores de Lula” e ambos votaram contra a libertação no ex-presidente quando o Supremo negou sua liberdade, por 6 a 5.

A questão importante é: o que o leva a retomar uma postura de confronto aberto com o Supremo?

Parece óbvio e já foi levantado aqui que a preocupação de Bolsonaro é manter suas tropas de fanáticos reunida e excitada. Para isso, é preciso se colocar como “vítima” de uma “conspiração lulista” que o persegue todo o tempo e, assim, também justificar sua incapacidade de governar.

Ainda hoje a Folha relata que “Brigas na base de Bolsonaro crescem e podem respingar na campanha“, tratando dos choques entre grupos de direita psiquiátrica para encontrar responsáveis pelo fiasco bolsonariano.

Mas não é só aí: esta estratégia visa bloquear o caminho para Moro na única coisa que sabe fazer: atacar o PT e Lula. Tomando nos dentes este filão e indo muito além do que Moro pode ir – por exemplo, chamar ministros do STF de “lulistas” – deixa bem claro que é ele e somente ele quem pode enfrentar o “inimigo”.

Moro vai apanhar de Bolsonaro, sim, mas com o lado do facão, deixando as provocações de rua e os gritos de “traidor” para suas falanges.

Efeito lateral, mas também desejado, é intimidar os ministros a não tomarem uma posição de confronto aberto, sobretudo nas investigações que correm – melhor dizendo, arrastam-se – contra ele no Supremo.

Bolsonaro manterá a corda das relações institucionais retesada até as eleições. Ou melhor, até o resultado das eleições, porque ele não será pacificamente aceito.

Só o que nos protegerá será o resto de dignidade que se puder ainda encontrar no Judiciário e nas Forças Armadas.

Para quem achava que iria enfrentar um “pato manco” no Planalto, fica o alerta de que, lá, há uma hiena feroz a defender o país que apresou e transformou em carcaça.

 

Fernando Brito:
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