Bolsonaro constrói a sua queda

Jair Bolsonaro está deliberadamente aumentando a tensão política, ao ponto de ter conseguido que o moderadíssimo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, saísse de sua mudez e fizesse hoje um pronunciamento, ainda que em mineirês, de advertência aos planos golpistas do presidente, ao dizer hoje, ao seus idólatras, que “corremos o risco de não termos eleição no ano que vem”, se não for aprovada a impressão dos votos que, já ficou claro para quem quiser ver que não é uma preocupação com segurança, mas uma forma de estimular a coação aos eleitores.

Mas não foi só: conseguiu que o normalmente flácido presidente do TSE, Luiz Roberto Barroso emitisse uma nota dura, dizendo que trabalhar para impedir as eleições constitui-se crime de responsabilidade.

O chão está se desfazendo sob os pés de Bolsonaro – são insistentes os boatos de que logo virá à tona a gravação de seu encontro com os irmãos Miranda, no fétido caso das vacinas Covaxin – e ele se debate ameaçando arrastar para as profundezas de sua selvageria a democracia brasileira, embora tenha tido o apoio e a colaboração de muitos para levá-la à situação de anomalia e fragilidade em que se encontra hoje.

Ele apressa a crise, por isso, sabendo que seu apoio se dissolve como um pedra de gelo ao sol, exceto nos núcleos acanalhados para quem é, ainda, o “Mito” de que um regime autoritário e fascistoide ainda é possível na terceira década do século 21 como era nos anos 50 e 60, tempos da Guerra Fria, com o discurso de que o comunismo buscava “dissolver a família brasileira”.

Está há tempos se preparando para isso e um dos passos mais importantes foi remover o então Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva e os três comandantes da Força, colocando em seu lugar o soturno e ambicioso Walter Braga Netto, o inexpressivo Fernando Nogueira de Oliveira no comando do Exército e dois militares que lhe são simpáticos à frente da Marinha e da Aeronáutica.

Aliás, o fato de Braga Netto tê-los colocado a assinar a nota ameaçadora contra a CPI foi uma manobra que revela bem o caráter do atual ministro: não era para criticar Omar Aziz, era para exibir os oficiais que julga serem sua tropa em perfilados às costas do comandante Bolsonaro.

Não se sabe se o juízo amplo revelado nas pesquisas sobre Bolsonaro ser “pouco inteligente” se estenderá ao alto oficialato da ativa, já que os da reserva parecem inebriados pelos corredores do Planalto.

Acaso acham que pode ser viável uma quartelada no padrão Togo, Guiné Bissau, Mali num país da extensão e importância do Brasil? Nem na Bolívia deu.

E Bolsonaro acha que militares dispostos a um golpe o farão “pela Pátria” ou vão cobrar avidamente o butim da democracia esfacelada?

É melhor já ir se moderando, Bolsonaro, e deixar que termine seu período como presidente, algo muito maior do que você jamais sonhou quando planejava explodir latrinas de quartel para arrumar mais algum no soldo.

Tão maior que a sua pequenez o transforma no pior anão moral que já ocupou tanto poder no Brasil.

Gigante, no seu governo, só o desastre.

 

 

Fernando Brito:
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