Infelizmente, não é só patética a afirmação de Jair Bolsonaro, repetida de novo hoje de manhã, de que “é quase impossível” que ele não vença o primeiro turno das eleições”. Porque ela não é só uma das típicas bravatas eleitorais de candidatos pouco afeitos à realidade da consciência popular, mas uma ameaça à Justiça Eleitoral, exatamente por ser dirigida àqueles que tem a responsabilidade de dirigir a votação e apuração dos votos:
Ô ministros Fachin, Barroso e Alexandre de Moraes: pelo que se vê nas ruas comigo, é impossível não ter segundo turno, ou é quase impossível eu não ganhar no primeiro turno.
E segue nas provocações para sugerir que haveria um esquema na Justiça Eleitoral para fraudarem-se os votos:
“No meu tempo lá atrás, ganhava a eleição quem tinha voto dentro da urna. Agora, parece… Eu quero que esteja errado – é um direito meu desconfiar, é um direito meu desconfiar –, eu espero que não ganhe eleições quem tem amigo para contar o voto dentro do TSE”.
Sim, qualquer um tem o direito de desconfiar, mas o direito de desconfiar apontando algum indício, algum sinal de que possa estar havendo algum sinal de irregularidade. É todo o direito de qualquer candidato, ou até de qualquer cidadão, que haja controles da veracidade dos votos e da lisura da votação eletrônica, mas nem é mais isso o que Bolsonaro está questionando, é mesmo a contagem dos votos registrados nas urnas, o que implica diretamente o TSE e seus ministros, que seriam “amigos” de um candidato adversário.
Empurra seus adeptos a classificarem os ministros como fraudadores e ladrões de votos. E o faz com as costas quentes que lhe dão um Legislativo corrompido pelos bilhões de emendas secretas e generais que, que cometem a auto-ofensa de considerá-lo “um dos seus” na Presidência. A reação que lhes pede a sublevação prévia aos resultados eleitorais.
Golpe, e premeditado.
Quem faz campanha pelo “voto útil” em Lula já no primeiro turno é o próprio Bolsonaro, não o candidato do PT. É ele que mostra, para quem quiser ver, a necessidade de uma vitória acachapante já na primeira volta eleitoral.
A um monstro não se pode deixar a chance de reagir.