De todos os jornais, brotam informações de que os próximos a Jair Bolsonaro – repito as expressões usadas por eles – está “transtornado”, tendo “ataques de ira”, “desequilibrado”.
Não chega a ser novidade no comportamento presidencial, mas sinaliza que vão se aprofundar seus ataques a pessoas, instituições e ao processo eleitoral.
Hoje, falando a empresários do comércio no Rio de Janeiro, em lugar de apelar para que acreditem na recuperação da economia, que contratem trabalhadores, que promovam suas vendas e ajudem a fazer girar a economia, preferiu repetir a promessa de que não cumprirá decisões judiciais e atacar ministros do TSE, especialmente Luiz Edson Fachin, a quem voltou a chamar de “marxista-leninista”.
Não se pense, porém, que o aparente descontrole verbal de Jair Bolsonaro é apenas um ataque de nervos.
É apenas a evolução de sua tática de transformar em guerra a disputa eleitoral, caminho para sua meta estratégica: uma sublevação de suas falanges contra o resultado eleitoral, a qual conta que será respaldada pela Forças Armadas.
Investiu, primeiro, contra as urnas, mas isto era mero trampolim para o passo que daria em seguida: atacar a própria Justiça Eleitoral e afirmar que ela dará a vitória a seu adversário, Lula.
Não dirá que é para que continue no cargo, mas apelará contra a tal “volta do PT”, como as tentativas de golpe, em 50, se guiavam pelas palavras de Carlos Lacerda:
“O senhor Getúlio Vargas não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar”
Ou, como em 1964, inventava-se a pretensão de instaurar o perigo de uma “ditadura sindical” para justificar o golpe contra João Goulart, relato muito bem feito pelo professor de História no Hampden-Sydney College, nos EUA, em seu artigo Bolsonaro repete discursos da ditadura para exaltar golpe militar, publicado na Folha.
Atrapalho-o, é verdade, o fato de estar no poder, com poderes quase absolutos sobre o Congresso, e ter produzido um desastre repugnante em seus três anos e meio de mandato. Mas crê, e não sem razão, que o ódio da elite brasileira a seu povo possa, se não lhe despertar solidariedade, ao menos minimizar a reação ao golpismo, de olho em alguma chance eleitoral futura.
Bolsonaro não está “tendo um chilique”. Ele é isso, desde sempre, desde que planejava as bombas em latrinas de quartel. Barulho, espalhafato e implantar o medo , nas ofensivas, são parte necessárias ao ataque.