É tradição que governos se apresentem ao julgamento popular mostrando o que de positivo fizeram e atenuando os problemas que aconteceram em sua gestão.
Destes últimos sabemos o que Bolsonaro faz: a culpa de tudo é de terceiros: do “comunismo”, da Globo, da mídia, dos governadores, dos prefeitos, de São Pedro, dos chineses e de quem mais houver para apontar.
E no lugar do portfólio de realizações, vazio de tudo, o que ele coloca?
O caos imaginário: Lula, com o qual, diz ele, os brasileiros serão impedidos de sair de casa, terão de ser gays, serão assaltados sem poder reagir com seus próprios trabucos, enquanto falta comida, pois os índios ocuparão as terras agricultadas e, nas que sobrarem, com a escassez de fertilizantes, deixarão escassos os alimentos. Os direitos do trabalhador levarão a mais desemprego, as universidades serão antros de vagabundos drogados e os ditadores do STF vão até acabar com o Twitter e o Facebook, nos impedindo o direito de explicar como surrar os outros com tacos de beisebol e dar-lhes uns bons tiros de pistola, como ensinam os instintos mais primitivos de Roberto Jefferson, o mártir.
O machão, agora, é mais vítima ainda e chega a chorar no banheiro quando tem de aumentar os preços.
Bolsonaro, o cínico, também é esperto e repete o “fazer-se de coitado” de 2018.
Pode não ser nada convincente, mas quer mostrar que, ao menos numa coisa, é imbatível: é o melhor antilula, no que deixa no chinelo todo o leque de “Terceiras Vias” no “mercado” eleitoral que, nisso, lhe serão meras auxiliares e que nem na retórica mais se diferenciam.
Isso, seu núcleo duro de fanáticos impermeáveis à lucidez e mais alguma distribuição de recursos a milhões de brasileiros que se debatem com a fome e a carência extrema fazem, pensa ele, o suficiente para assegurar o segundo turno e, aí, receber outra vez a direita que desembarcou – em alguns casos, no mucho – de seu governo desastrado e desastroso.
Portanto, tudo o que lhe interessa agora é que haja mais e mais candidatos que ajudem a impedir a possibilidade de Lula vencer no no primeiro turno, o que as pesquisas sugerem hoje, pois 45% dos votos totais, com nulos e brancos descontados, são pouco mais que o necessário para uma vitória já na volta inicial.
Para o segundo, conta com os eleitores de uma nanica Terceira Via às quais seus candidatos os tenham atiçado o ódio ao ex-presidente ao ponto de voltarem ao “ninho” de 2018.
A galinha que cacareja no vizinho pode muito bem por os ovos no seu terreno.