Bolsonaro usa vidas como fichas em seu pôquer mortal

Traz O Globo, hoje, o retrato, na Favela da Rocinha, do que chamei do TV Afiada de “Quarentena da Porcina”: a que deixou de ser sem nunca ter sido.

“60% a 70% das lojas abriram [e] o mercado popular está funcionando”, diz um líder comunitário que fala em “uma avalanche de pessoas” nas ladeiras estreitas da comunidade.

É mais, muito mais do que se registrou nos primeiros dias de isolamento parcial e infinitamente além do que seria prudente na hora em que a epidemia se prepara para exibir sua escalada de números.

Com o presidente da República defendendo a volta ao trabalho, contra as orientações médicas e a estas fazendo se dobrar com a “cura-jabuticaba” da cloroquina, as ruas da pobreza vão se encher mais e mais.

Contra tudo o que se faz no mundo, inclusive, agora, no Japão – que o bolsonarismo apontava como exemplo de “segue a vida normal” e, agora, decretou emergência, depois de registrar um aumento de 500 casos em um único dia.

“Grande ideia”, importada diretamente de seu guru, Donald Trump, que, entretanto, não a aplicou em seu próprio país.

Taís Oyama, hoje, no UOL, transcreve a monstruosa tática política, com o respaldo inacreditável de nossos generais, ao citar um deles, palaciano, cruamente dizendo que “se ficar claro que ele [Bolsonaro] tinha razão quanto aos prejuízos do isolamento social e os benefícios da cloroquina, nós invadimos o Nordeste”.

Como se vê, uma jogada política onde as fichas sobre a mesa serão vidas humanas, atiradas numa cartada na qual médicos e cientistas do mundo inteiro não veem nem um par de oitos, sem nenhuma certeza que virão três ases, para tornar possível apostar contra a morte.

Infelizmente, os dias que nos esperam, em breve, abrirão a boca do baralho macabro com que estes monstros jogam.

 

Fernando Brito:

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