Antes de contar a história, quero registrar que tenho a mais polar objeção às opções políticas de César Maia e um grande respeito e consideração pelo Cesar Maia que conheci como seu aluno em cursos livres de economia na Universidade Federal Fluminense, antes da eleição de Leonel Brizola e, depois, em nosso convívio no primeiro governo do PDT.
Dito isto, aos fatos.
Brizola assumiu o governo em 1982 com a situação econômica do Rio de Janeiro que chama-la de “caótica” seria um suave pleonasmo.
Não apenas o país vivia uma imensa espiral inflacionária como havia uma linha de armadilhas colocadas à sua frente.
Chagas Freitas, o governador que saía, deixou para ser implantada justamente no mês da posse de Brizola a paridade dos servidores aposentados aos da ativa. Embora justa, a medida representou um impacto monstruoso na folha de pagamentos. Para honrá-los, foi preciso usar do que se chama hoje “contabilidade criativa”.
O pagamento dos servidores, que era feito até então de forma antecipada, nos primeiros dias do mês foi, progressivamente, transferido para um calendário igual ao dos demais trabalhadores, no final do mês.
O Banco do Estado, o Banerj, por sua vez, foi lançado numa situação da qual jamais se livraria, até sua privatização: foi obrigado a assumir os avais dos empréstimos concedidos para a construção do Metrô que, claro, eram impagáveis.
Créditos federais, via BNDE (ainda não havia o “S” na sigla, então), nem pensar. Nem com o general João Figueiredo e muito menos com o “democrata” José Sarney. O banco emprestava até para Orestes Quércia trocar a decoração dos aviões da Vasp, mas não soltava um centavo para qualquer ação de conteúdo social no Rio de Janeiro.
César foi o “homem mau” do primeiro Governo Brizola.
De cara, todos os órgão públicos foram submetidos a um corte de 10% em suas despesas de custeio. Faltou tudo por algumas semanas, do cafezinho a clips de papel. E ninguém morreu por isso, embora fosse comum nas repartições ouvirem-se todos os impropérios imagináveis a Maia.
Na ponta da arrecadação, a distribuição política das inspetorias setoriais da Fazenda foi “chacoalhada”, mas as medidas mais importantes foram a redefinição dos critérios de fiscalização – foco nas maiores empresas e uma medida muito interessante, chamada “aviso de fiscalização”, que era uma comunicação prévia de que a Fazenda verificaria a conta de empresas, claro que em número muito maior do que, efetivamente, poderia fazer fisicamente, mas que resultava na regularização espontânea de recolhimentos – e de tributação,então inéditas, como a substituição do recolhimento de ICM (também sem o “S”, ainda) do comerciante para o fabricante ou distribuidor.
Já no Planejamento, responsável pela liberação de gastos (de investimentos ou reforços ao custeio), Brizola colocou Fernando Lopes, com a missão de dirigir recursos para o que ele considerava essencial. Gastar, numa palavra, no que era importante.
Lopes estava longe de ser um mão-aberta, é claro, o que se via até em suas maneiras, carregando os processos onde se tratava de milhões em prosaicas sacolas de papel das “Casas da Banha”, um supermercado popular à época.
Maia e Lopes detestavam-se.
E, com os dois, Brizola recuperou a capacidade do Estado de investir, tocando o programa dos Cieps sem um tostão de financiamentos, apenas com o dinheiro zelosamente posto em caixa por Maia e criteriosamente destinado por Lopes.
Isto é o que ficou, embora ambos, Maia e Lopes, tenham seguido caminhos distantes ou opostos a Brizola, depois.
Porque quem governava era ele e não nenhum dos dois.
Convém lembrar que, com todas as diferenças de tempo, de escala e de complexidade, esta história nos serve quando tentamos entender esta polêmica levantada em torono das supostas indicações de Joaquim Levy, “o mau”, para o Ministério da Fazenda e Nélson Barbosa, o “quase-bom” para o Planejamento do novo governo Dilma.
Talvez para lembrar que quem manda não é o ministro ou o secretário.
Mas o governante.
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É verdade, quem manda é Dilma. Então, à César o que é de César. Dilma é a responsável por Bernardo e José Eduardo Cardoso. Estamos ditos. Muitos se referem a esses dois incompetentes, e se esquecem da chefe.
Concordo inteiramente, Antonio Carlos. Tomara que Dilma sente-se a mesa como Presidenta, não como gestora. Chega de vassalagem.
Adoro Dilma.
Sem Katia Abreu, minha querida.
Sem Katia Abreu.
Nem ela nem eu.
Com Katia o outro qualquer que seja, não vai ser um dos nossos, o congresso eleito é o mais conservador dos ultimos 20 anos, nós vatamos na Dilma pra presidente e votamos no senador de deputado federal e estadual e governador na maioria da direita, que poder se deu a Dilma? Deu se com mão e se tiro com a outra, é o que sobro vai ter que ser assim, poque o povo q voto não vai pra rua mudar isso, e nem Dilma quer isso, pra evitar um confronto como o que acontece na Venezuela, que é tudo que os jornais e a direita querem para manchete ar e da o golpe.
E a declaração absurda, covarde e criminosa feita pelo Alexandre Garcia, dizendo que todos os eleitores da Dilma são cúmplices dos roubos na Petrobras? Tem que processar esse escroque mau caráter, que jamais fez tal afirmação contra os eleitores do psdb que, segundo a lógica dele, também são cúmplices da privataria, da compra da reeleição, do trensalão e por aí vai. Tinha que ser feita uma ação coletiva contra este crápula travestido de jornalista, exigindo um pedido público de desculpas e danos morais a todos os atingidos por esta infâmia. Eu tô dentro.
No mesmo dia dia perdeu o filho.
Ao contrário, precisamos de Ministros que deixem claro para o mercado que o tempo dos juros altos acabou de vez. Assim as empresas serão precificadas pelo seu real valor, sua capacidade de gerar bens e produtos.
Apontado como solução para os problemas fiscais do Brasil, Joaquim Levy coleciona uma série de indicadores piores no período que foi secretário do Tesouro do que Arno Augustin. Em abril de 2006, último ano que Levy esteve a frente do Tesouro, o prazo médio dos títulos do Tesouro emitidos foi de 24,4 meses, muito abaixo dos 51,8 meses de Arno em setembro. O custo médio da Dívida Pública Federal passou de 14% nos tempos de Levy, mas tem se mantido em torno de 11% nos últimos meses. Além disso, a relação dívida/pib é menor hoje (35,93%) do que ao final da gestão Levy (47,7%).
Fez-me lembrar, Fernando, de um fato muito engraçado, o que corrobora com o que vc disse. Não me lembro o ano, mas cobríamos uma daquelas célebres assembleias de professores no Municipal quando Brizola chegou com todo o secretariado sob vaias ensurdecedoras. César Maia, sentado à esquerda de Brizola, mas numa cadeira fora da proteção da mesinha à frente do governador, ouvia atentamente o discurso - apesar das vaias - e remexia sua indefectível pasta de couro marrom, aberta sobre suas pernas. De repente, Brizola anunciou um aumento de xis por cento aos professores que foram das vaias aos aplausos e gritos ao nome do governador. Acho que nem o homem da chave do cofre sabia, tanto que o susto foi tão grande que sua pasta se esborrachou no chão, espalhando sua planilhas a sua frente! Não restou a ele a não ser se abaixar e recolher sua papelada, que certamente não aprovavam a decisão de Brizola. Ali ficou claro que quem manda é quem foi eleito pelo povo. Brizola saiu paparicado, abraçado, beijado. César Maia, de óculos na ponta de seu nariz, foi atrás com sua mala emaranhada ...
Ao contrário de Brizola, Dilma dificilmente terá problemas de arrependimento quanto ao caráter do futuro nomeado. Joaquim Levy não irá estruturar uma caixinha para arrecadar propina de empresas que serão extorquidas, não irá comprar imóvel em Nova Iorque com dinheiro ganho ilícitamente, nem tampouco fará um fundo secreto para financiar suas campanhas políticas. Também não concederá favores a construtoras amigas para em seguida ser contemplado com dois apartamentos na orla de São Conrado.
Muito boa, Angela, tua lembrança!!!!O "velho" tinha cada uma.Um "quebra-costelas" de um gaúcho Brizolista.
Uma história interessante para tentar justificar as trapalhadas da dona Dilma, mas não adianta mais tentar tapar o sol com a peneira, nós que votamos nela com a esperança de que em um segundo mandato ela iria parar com a idiotice de querer agradar o tal "Mercado" e a oposição já estamos perplexos com o rumo que as coisas continuam. Dilma já deixou claro que continuará sendo um desastre na comunicação, continuará sendo um desastre na articulação política e ainda por cima deixou claro agora que vai continuar com esse maldito "tripé econômico" que só tem camuflado os problemas do Brasil durante os últimos 20 anos. Já está claro que a Dilma não tem disposição e muito menos força para qualquer mudança significativa que o país necessita, vai empurrar com a barriga durante o próximos anos fazendo medidas pontuais como as estúpidas desonerações fiscais para alguns setores torcendo para que a China aumente suas importações de produtos primários do Brasil para aliviar as contas. Já está ficando meio óbvio que a estratégia dela ou do PT é arrocho fiscal nos dois ou três anos do mandato e no final liberar geral a gastança para dar a sensação de felicidade consumista para a população e ter alguma chance nas próximas eleições.
Parece que todos os blogueiros progressistas resolveram defender as escolhas da Dilma para o Ministério. Todos argumentando que quem vai mandar de fato é a Dilma.
Ganhei muitos votos pra Dilma dizendo que o Aécio iria aumentar juros, a gasolina e governar para o mercado. Tudo que o governo Dilma fez em menos de um mês. Agora sou eu que tenho que ficar dando explicações.
Já que é a Dilma que vai mandar, que tal vocês pararem de criticar o Paulo Bernardo das Comunicações e o Zé Eduardo da Justiça. Afinal, a culpa não é deles, já que é a Dilma que manda, certo?
Pelo menos assim ficaria mais coerente.
"...a paridade dos servidores aposentados aos da ativa. Embora justa, a medida...": bem, eu, que recebo pelo chamado RGPS, DISCORDO!!!!!!!!!
De que forma pode ser "justa" tal medida se ela é sustentada, em sua maior parte, pela iniciativa privada???
Dado que serviço público brasileiro é sinônimo de "boa vida", e na iniciativa privada não há moleza, não vejo como tal medida pode ser "justa"...
Justo seria a paridade e a integralidade para TODOS, isso sim!!!
Sempre contribui sobre o salário contribuição máximo, e não posso me aposentar segundo ele; mas servidor público pode...
JUSTO onde????
Sou favorável a TODOS contribuírem com, digamos, 10% para o INSS, e, por isso, terem teto de aposentadoria de, digamos, R$4.000,00.
Qualquer um que deseja mais ao se aposentar, que pague mais!!!
TODOS fazendo isso, e não alguns parasitando a maioria!!
Errou feio desta vez, meu caro Fernando...
Luiz Mourão, a diferença entre o RGPS e o RPPS é que, no primeiro caso, o desconto do empregado da empresa privada é sobre um teto; já no RPPS, o desconto (11%) do funcionário público é sobre a remuneração total.
Duas peticöes importantes: Assinem e ajude a divulgar !!!!!
São duas petições para que não deixemos na impunidade a sujeira da direita golpista:
Para investigar Aécio Neves, assine:
https://secure.avaaz.org/…/GOVERNO_FEDERAL_E_POLICIA_FEDE…/…
Não podemos admitir tal ofensa ao povo brasileiro!!
A Globo na figura de Alexandre Garcia nos ofendeu a todos.
Para processar Alexandre Garcia e a Rede Globo, assine:
http://www.avaaz.org/po/petition/petition_547315527b478/…
Campanhas como esta sempre começam pequenas, mas elas crescem quando pessoas como nós se envolvem -- por favor reserve um segundo agora mesmo para nos ajudar assinando e passando estas petições adiante.
Muito obrigado,
mas o governo precisa falar, se comunicar, não é só a dilma, ninguem fala