A morte de pelo menos 12 militares norte-americanos pela explosão de bombas em Cabul, capital do Afeganistão, vai ter efeitos políticos avassaladores sobre a política e a economia norte-americanos.
Por mais que as reações do governo dos EUA sejam, até agora, de que a prioridade é completar a evacuação de seu pessoal do território afegão e que, ao que indicam as primeiras informações, os responsáveis pelos atentados tenham partido de grupos adversários aos talibãs, haverá retaliação militar, de alguma forma. Alguma forma complicada, aliás, porque não há um alvo certo a atingir.
A situação de Joe Biden já guardava paralelos com a da presidência de Jimmy Carter, quando foi engolfado pelo episódio dos reféns tomados por militantes no Irã em 1979, dentro da própria embaixada dos EUA, que culminou com a desastrada operação Eagle Claw (“Garra de Águia”), com as quais os comandos de uma secreta “Força Delta” pretendiam fazer o resgate dos norte-americanos e que terminou como um fiasco total, por defeitos mecânicos, colisões entre aeronaves e, para completar, uma tempestade de areia no ponto de desembarque, o que resultou em oito fuzileiros navais mortos e as imagens, deprimentes para eles, de iranianos festejando junto às carcaças de cinco helicópteros e um avião de transporte perdidos no deserto.
Com a retirada atabalhoada do Afeganistão e, agora, com as perdas militares de hoje, virou uma mórbida semelhança.
Daqui a poucos dias, Biden terá de conviver com imagens semelhantes, quando desembarcarem pelo menos uma dúzia de caixões de aviões militares – podem ser mais, porque há 15 outros soldados feridos. E sabe que, sem uma reação forte, será a deixa para que Donald Trump, discreto há sete meses, reapareça gritando que com ele, isso jamais aconteceria, muito embora tenha sido assinado pelo republicano o acordo com os talibãs para a retirada das tropas que estavam há quase 20 anos naquele país.
A menos que haja novos ataques, Biden não ordenará uma reação imediata, porque o banho de sangue no aeroporto de Cabul que isso poderia desencadear seria uma tragédia, humana e política. Mas ela haverá, até porque, tal como seu espelho do passado, o atual presidente norte-americano está às voltas com o desgaste de uma inflação impensável para os EUA (5%) e imensas dificuldades para evitar uma estagnação econômica, com o fim dos estímulos fiscais e a provável alta de juros no país, o que enfraquece sua imagem e põe em risco, daqui a um ano e tr~^es meses, a maioria democrata na Câmara, que renova metade de seu composição.