Cada um lava o seu jato

Janio de Freitas, na Folha, volta  escreve sobre o “jato sem dono” que, há um ano, matou Eduardo Campos.

É bom que alguém, na grande imprensa, lembre que os jatos não são lavados da mesma maneira.

E que a indignação com negócios obscuros é seletiva.

O jato destruído segue órfão há doze meses.

A Polícia Federal, que abriu inquérito, não sabe quem vendeu, quem comprou, como comprou e quanto se pagou.

O Ministério Público não quer saber do assunto.

Governo, oposição e adjacências não se interessam por isso.

Só os blogueiros dito “sujos” correram atrás de informações de forma sistemática, mas nos limites do que podemos, porque suas “promotências” e “delegadências” não falam conosco

O aeroporto de Cláudio é legal, mesmo com a chave com o titio; o jato era regular, mesmo sem proprietário responsável, a lista de Furnas é uma ficção, tudo é irrelevante se não tem o objetivo político de derrubar ou enfraquecer o Governo.

E Janio lembra ainda dos R$ 20 milhões com que um dia, num passado distante e esquecido, Paulo Roberto Costa diz ter abastecido a campanha de Eduardo Campos e Marina Silva.

O dinheiro ficou para alguém, mas isso não vem ao caso.

Cada um lava jatos como pode, não é?

Jato silencioso

Janio de Freitas

É com jato, também, que se prova a permanência dos acobertamentos e da impunidade que o otimismo, ou a ingenuidade, supõe em extinção como obra da Lava Jato. Não por acaso, nos ingredientes da permanência assegurada consta a presença, neste caso afinal discreta, da própria Lava Jato.

Ao completar-se, na próxima quinta-feira, um ano da morte de Eduardo Campos, faz um ano que as famílias cujas casas foram atingidas pelo jato esperam as devidas atenções e, sobre todas, a mais necessária delas: a indenização para remediar as perdas do que não lhes chegou de graça.

A juíza do caso, Natália Monti, de Santos, disse à Folha que a “obscuridade” em torno do proprietário do jato “torna praticamente inviável a reparação”.

Estendeu-se no tempo, portanto, e passou ao processo levado à Justiça, a deliberada mixórdia em torno da propriedade do avião, quando do acidente. Entre as meias versões, a alegada compra do jato por uma borracharia que talvez só pudesse ter uma bicicleta, e que afinal fez a compra mas não tinha o avião, e por aí afora.

Não há terceira hipótese: ou o jato não mudou de propriedade ou houve uma venda. Em qualquer caso, há um registro seu na Agência Nacional de Aviação Civil, a Anac. Esse jato, que não era novo, decolou e pousou em aeroportos, logo, tinha a licença que legitimava o seu prefixo, inscrito na fuselagem. Como, para ter essa licença renovável a períodos determinados, é necessária a identificação da propriedade, parte do que é obscuro se iluminaria aí.

Se o jato foi vendido, alguém recebeu e alguém pagou na transação. A partir daí, seria só um rastreamento, simples e rápido, para chegar ao novo dono, fosse ou não o pagador. Isso, se a fiscalização da Anac não estivesse acompanhando, como deve, a regularidade do jato.

O nível de competência que a Polícia Federal alcançou não admite a hipótese de dificuldade, por menor que fosse, para identificar a propriedade do avião. A Anac, por mais insuficiente que seja, a ponto de estar há longo tempo sem deliberações por falta de dois diretores para o quorum decisório, tampouco teria problema para levantar o histórico do avião.

Ou a identificação foi deixada de lado por pressões injustificáveis, ou está feita e silenciada sob pressão. Há acobertamento.

Um candidato à Presidência da República dispondo de um avião que não pudesse ser identificado, já seria um fato bastante brasileiro. Mas o que está em questão não é isso. É o direito legítimo de reparação devido a pessoas que dela têm necessidade, e veem a proteção ser dada, não ao seu direito, mas a quem dispõe de influência para negá-lo.

Um dos vazamentos feitos pela Lava Jato, lá atrás, ligou Eduardo Campos a uma das acusações. Desde então, os cruzados da operação nem inocentaram o ex-governador, nem trouxeram outro esclarecimento. Mas também aí o jato ficou de fora.

 

Fernando Brito:

View Comments (23)

  • PF informa:”Não é nossa especialidade investigar casos nebulosos envolvendo uso de helicópteros e jatos.”

  • Ué, se o Zé Dirceu e outros estão presos por que a Marina Silva tambem não está? E se a esposa do vaccari está presa por que a esposa co E. campos sequer foi importunada? E depois querem que acreditemos que esse processo é isento.

    • E se até a cunhada do Vaccari foi presa, porque a irmã do Aécio não foi?

      • Simples, porque não temos uma PF isenta, não temos um MPF isento, e muito menos um Judi$iário isento e por último, porque temos um PT cagão, com líderes de merda, que perderam o bonde da história, tão com o rabo entre as pernas, e ainda temos uma Presidenta que se acostumou a apanhar e acha que política com bandido se faz "REPUBLICANAMENTE"...sabe de nada inocente. Bandido se enfrenta...se perde ou se ganha...mas se enfrenta no mesmo campo de batalha. Hoje vejo nitidamente que nenhuma das três instituições que citei acima, tem moral pra dizer um ai sobre este Congresso podre que aí está, porque são podres também!

  • A PF/procuradores tem estranhos ritos.
    O mundialmente conhecido "HELICOCA", flagrado, filmado, com 450 kg de pasta de coca teve solução em 48 horas.
    Nada foi descoberto, a coca sumiu, o helicóptero retornou a seus proprietários, o piloto, dizem pago pelo LEGISLATIVO FEDERAL, não explicou nada.
    O já famoso JATINHO SEM DONO, segue voando sob as asas da Panair, aliás ANAC, sem lenço e sem documento.
    O cidadão que ocupa o MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, fazendo as vezes de "ministro", acompanha com o total desinteresse que os casos merecem.
    Afinal, tucano e semelhantes são inimputáveis.
    Estão acima da lei . . .

  • pois é. são esses fatos bastante brasileiros que nos causam indignação, nós que nos pautamos pela correção. e pensamos que o crime não compensa...pressuposto no qual colocamos o crime junto aos criminosos e longe dos operadores do direito, quanta ingenuidade.

  • Apesar das divindades judiciais, o espaço aéreo parece não pertencer ao Olimpo judicial.
    Coitados dos moradores que estavam no "lugar errado na hora errada". Se fossem vizinhos do Instituto Lula teriam melhor sorte, já que os deuses judiciais exigiriam que o Instituto tivesse seguro residencial para todo o bairro para arcar com as despesas.

  • Não sei por qual milagre ainda não saíram por aí dizendo que a tal aeronave é do filho do Lula.
    Se é que ainda não disseram mesmo...

  • Boa Tarde,

    Revolta a manipulação da impressa. Porém, estamos brigando contra um Golias. Há muito interesses de capital (FED, Bancos, Bancários Judeus) nessa instabilidade. Nesse momento parafraseio Chico Buarque (Apesar de Você):

    Apesar de você
    Amanhã há de ser
    Outro dia
    Eu pergunto a você
    Onde vai se esconder
    Da enorme euforia
    Como vai proibir
    Quando o galo insistir
    Em cantar
    Água nova brotando
    E a gente se amando
    Sem parar

    Quando chegar o momento
    Esse meu sofrimento
    Vou cobrar com juros, juro

    Luis Fernando

  • O lixão é limpo demais perto do sistema de (in)justiça do Brasil.

  • Se Milícia Tucana, apelidada de polícia federal, e os procuradores fanfarrões que ignoram as leis do país, fossem tão ágeis neste caso como são na vara de Guantánamo, esta questão já estaria resolvida há muito tempo.

Related Post