Calamidade é o Jair

Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil e distribuidor de ambulâncias eleitorais, admitiu que há, dentro do governo, um movimento para decretar “estado de calamidade pública”, alegando risco de desabastecimento de combustíveis, para poder “estourar” os poucos limites orçamentários ainda em vigor. Não assume diretamente, mas diz que é possível, se a situação do diesel “se agravar“.

E Bolsonaro, numa conversa de cercadinho, diz que “deve se agravar”.

É óbvio que se está lançando um balão de ensaio para observar o grau de reação da sociedade, do mercado financeiro e das instituições à uma iniciativa que, por onde quer que se olhe, não tem outra explicação senão a de se permitir uma distribuição de dinheiro público completamente tresloucada, com a finalidade de produzir um alívio passageiro nas elevações dos preços e no desgaste do presidente às vésperas da eleição.

A experiente Helena Chagas, em artigo no 247, aponta que ação em planejamento seria “baixar um decreto de calamidade pública sem calamidade”.

Não seja por isso, Helena, calamidade o Jair providencia.

Entre outras maneiras, deixando a Petrobras acéfala – com um presidente e um Conselho já em situação demissionária – e fragilizada na hora de tomar decisões e levando as distribuidoras, diante da insgurança quanto ao diesel e acrescentarem gasto financeiro ao preço já elevadíssimo do produto. Em consequência, as pressões por aumento se elevam e não há alívio no dólar que possa fazer frente a aumentos de mais de 12% de gasolina e diesel no mercado internacional em apenas uma semana.

A empresa aumentou hoje os preços do querosena de aviação em 11%, o que deve impactar em 4 a 5% o custo das empresas aéreas e, portanto, o preço das passagens. Claro que elas pesam bem menos que gasolina e diesel no cálculo da inflação, mas sua logica de preços – a paridade internacional – é a mesma praticada para estes combustíveis.

A reação dos meios econômicos, que em outros tempos se abalavam por muitíssimo menos, é zero. Embora vivam cobrando detalhes e interlocutores credenciados por Lula, para Jair serve o que vier.

Sejamos justos, porém: a lógica do capital, embora seja capaz de prever a ameaça de uma crise gravíssima ( “sem precedentes”), como fizeram os chefões do JP Morgan e do Goldman Sachs, esta semana, acreditam na ressalva que um deles próprio fez: “Qualquer que seja o ambiente econômico, vamos nos sair bem”.

Fernando Brito:
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