João Doria é uma excrescência, um aventureiro surgido do mesmo veio que fez brotar Jair Bolsonaro: contra os políticos, moralista barato, insensível e autoritário.
Mas um acaba servindo ao outro, porque um e outro serve de justificativa para a estupidez.
Na sua “live” de véspera de Natal, Jair Bolsonaro – além de se portar como um malandro de porta de botequim – sugere que o povo “tem que estar amado acaba [com] essa brincadeirinha de [que] vai ficar todo o mundo em casa que eu vou passear em Miami. Pelo amor de Deus. Oh… calcinha apertada! Isso não é coisa de homem. ”
Jair Bolsonaro não sugeriu o impeachment do governador de São Paulo – o “calcinha apertada”, no seu dizer malandro e covarde, porque não usa o nome nem fala no cargo, para não receber um processo – mas sua deposição pela turma armada.
Está, portanto, sugerindo um confronto a bala.
Por mais que João Dória seja desprezível, não é o caso de uma malta de rufiões armados de pistolas e fuzis o arrancarem do Palácio dos Bandeirantes.
Ele não está convocando protestos, como se garante a todos na Constituição (art. 5°, XIV) para que possam “reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização”, mas quer uma reunião armada, de uma milícia, para com isso fazer uma deposição.
Se pode contra um governador, porque é que não se pode contra as Forças Armadas?
Os generais brasileiros estão sustentando um subversivo, um homem que segue preso à ideia de um banho de sangue para o qual, se não arrastar o Exército, arrastará suas milícias, seus “tropas de assalto”.
Se Dória veste “calcinhas apertadas” não falta ao lado de Jair Bolsonaro quem tenha vestido, em lugar de pijamas, a saia justa de um harém castrense a fazer as vontades de seu desclassificado sultão.
O Estado – e ninguém mais – tem o monopólio da força num Estado Democrático.
Se é legítimo o “povo armado” para derrubar um governante de “calcinha apertada” também será para depor “miliquinhos amestrados” que dão suporte a quem quer subverter a ordem democrática e republicana.
Ou será, senhores, que isso “é coisa de homem”?