No grau de insensibilidade criado por décadas de apoio da mídia – que ‘finge’ que não são seu os “senta o dedo’, ‘cancela o CPF’, ‘bandido bom é bandido morto’ que promoveu em sua programação e que, agora, circulam à vontade nas redes sociais, só mesmo mostrando gravadas em vídeo as cenas brutais da violência policial para que ela, nada rara, ser capaz de chocar e provocar providências.
É o que está acontecendo esta semana: logo após a chacina da Vila Cruzeiro, o espetáculo de horror de Sergipe, no qual policiais rodoviários federais assassina, por inalação de gás, um homem preso e cominado, na caçamba se sua viatura teve o condão de colocar na defensiva a turma do “mata mas não prende”.
A justificativa cínica da PRF aumenta ainda mais a covardia, ao dizer que o homem teve “um mal súbito”, enquanto os médicos apontam asfixia aumenta ainda mais a indignação. O vídeo do portal Metrópoles mostra claramente que Genivaldo de Jesus Santos, já inteiramente dominado, é mantido deliberadamente respirando gás por 2 minutos, gritando desesperadamente.
Não dá para chamá-lo de “bandido”, “traficante” e outros nomes comumente usados para justificar a barbárie. Seu delito era pilotar uma moto sem capacete, algo que o presidente da República faz a toda hora, inclusive ao lado de batedores da PRF em suas motociatas.
É mais que hora de transformar o episódio num símbolo de repúdio e controle da violência policial, porque esta, ao contrário da criminalidade, pode ser contida apenas pelas autoridades, se estas puderem perder o medo de exigir das forças de segurança pública o básico: o respeito às leis e aos cidadãos.
As TV, sites e jornais, que deram, corretamente, tanto destaque para o Black Lives Matter, não vai dá-lo ao Vidas Brasileiras Importam?
O presidente da República, que ainda não sabe o que se passou e diz que vai “se inteirar” dos fatos – algo de que não precisou ao chamar de guerreiros os policiais envolvidos no massacre da favela – vai condenar os métodos brutais dos policiais?
Não é possível que se deixe no esquecimento estes fatos. Silenciar é ser cúmplice de execuções sumárias nesta inédita e perversa “câmara de gás”.