(A executiva Kely Alves, 41, com a babá de seus três filhos, a filipina Realiza Santandan, 42)
Eu vivo repetindo para meus amigos que não sou comunista. Nem socialista.
Nos tempos de faculdade, escapei desses rótulos me autointitulando anarquista, a saída mais confortável para quem não sabe o que é.
Tenho dito que sou apenas um cidadão que acredita em democracia, em justiça social, que vê o Estado como um instrumento para reparar a nossa grotesca desigualdade social.
Sou naturalmente um apaixonado pelas histórias de luta da classe trabalhadora, desde os plebeus romanos, até as marchas dos operários das minas de carvão da Inglaterra, que invadiam as cidades, braços dados, exigindo controle do preço do pão. E um estudioso de todas as revoluções sociais: a russa, a francesa, a americana, a cubana, etc.
Provavelmente tenho o que chamam de “identificação de classe”, incentivado pela modéstia do meu saldo bancário.
Às vezes, por provocação, digo que sou um capitalista “de esquerda” (uma vez falei isso a um antiesquerdista – sou amigo ao menos de um cara assim, talvez por ser ele também antitucano e antimídia – e a sua namorada, que o acompanhava, rebateu imediatamente: “são os piores!”)
Enfim, considero-me um pacato capitalista progressista, se é que isso faz algum sentido, cheios de ambições pequeno burguesas. Quero comprar um bom apartamento, viajar o mundo, beber bons vinhos, ganhar dinheiro (honestamente, óbvio), conquistar meu tempo para ler muitos e muitos livros. Quero fazer tudo isso e morar num país com justiça social, sem crianças vagando famintas pelas ruas, com um regime democrático autêntico. Essa é a minha razão de votar na esquerda.
Mas não adianta. Os amigos me lançam olhares risonhos, incrédulos, continuam a me tratar como um comunista.
Meus familiares, então, receio que alguns me achem um bolchevique sanguinário. Tudo por culpa, provavelmente, dessa cultura autoritária típica de todo continente americano, de norte a sul, em que qualquer escrúpulo social é tachado de degeneração jacobina. Até Obama é acusado, pelos radicais, de ser um vermelho. E não só por americanos. O brasileiríssimo Olavo de Carvalho também acha.
Eu não dou a mínima para o que pensam de mim. Uso um chaveiro do partido comunista apenas porque o acho bonito e prático (vem com abridor de garrafinhas longneck), e prefiro mil vezes que pensem que sou comunista do que, por exemplo, um neonazista. Ou um coxinha.
De fato, nunca estaria numa manifestação em que se pede intervenção militar, ou em que alguém, do alto do carro de som, manda Montesquieu tomar naquele lugar; não admitiria participar de algo assim nem que essas pessoas estivessem lá no final da passeata e eu no início.
Se alguém um dia me vir num protesto assim, pode me mandar internar, pelo amor de deus, que o caso é grave.
No entanto, ao ler a matéria abaixo, da Folha, sobre a importação de domésticas das Filipinas, passo a me entender um pouco mais, e também porque as pessoas me associam, com tanta desenvoltura, a certas ideologias.
É uma matéria que me leva a duvidar de minhas quiçá ingênuas convicções republicanas, e a me perguntar se eu não seria, de fato, um bolchevique enrustido, de mim mesmo. Até porque, entre pensar como essas pessoas pensam e ser um bolchevique, eu não hesitaria um segundo, e me alistaria imediatamente nas fileiras do exército vermelho.
Separei algumas frases:
– As babás filipinas são tipo os médicos cubanos, mas sem pagar pedágio para o Fidel.
(…) O casal morou 11 anos fora, em vários países. No último posto, Brunei, tinham uma empregada filipina. “[Ela] Era incrível, fazia compras, limpava, cozinhava e dirigia. Ela até lavava o carro!”, conta. “No Brasil, babá é só babá, cozinheira só cozinha e empregada só limpa.”
– (…) o povo filipino gosta de servir.
*
Diante dessa burguesia escravocrata brasileira, determinada a transmitir aos filhos esses valores (disseminados amplamente em nossas novelas), de que existem pessoas nascidas exclusivamente para lhes servir, como escravos domésticos, eu sinto vontade de rasgar meus moderados escrúpulos pequeno burgueses e gritar, com toda a força dos meus pulmões:
– Viva la revolución!
*
Reproduzo abaixo, para registro histórico.
Empresa ‘importa’ babás e domésticas das Filipinas para o Brasil
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
10/05/2015 02h00
“Good morning Liza! Milk, please”. É assim que os filhos da executiva Kely Alves, 41, conversam com sua babá filipina no café da manhã.
Realiza Santandan, 42, começou a trabalhar em outubro do ano passado na casa de Kely, na zona oeste de São Paulo. Liza não fala português. As crianças, de 10, 4 e 2 anos, não falam muito inglês.
“A língua é o de menos: passaram mais de dez babás por aqui e nenhuma dava certo, porque ficavam de má vontade”, conta Kely. “A Liza está sempre bem humorada e eu preciso até pedir para ela parar de trabalhar; o povo filipino gosta de servir.”
Com dificuldade para encontrar empregadas que aceitem dormir no serviço, famílias de classe média alta estão trazendo domésticas das Filipinas.
(Adriano Vizoni/Folhapress. A filipina Amy Villariez, 33, com a patroa Thalita Assis, 35)
A agência Global Talent já trouxe 70 filipinas para trabalharem de babá, empregada ou cozinheira. A empresa cuida da seleção das mulheres em Cingapura e da papelada no Ministério do Trabalho.
As filipinas entram no Brasil com visto de trabalho válido por dois anos, renováveis por mais dois, e ganham de R$ 1.800 a R$ 2.000 por mês.
O contratante paga R$ 6.000 para a agência e a passagem da empregada. Os patrões garantem cumprir a legislação, com limite de oito horas de trabalho por dia, folgas e benefícios como o INSS.
“A maioria dos que contratam são expatriados que querem uma empregada que fale inglês e brasileiros que moraram fora”, diz Priscila Rocha Leite, sócia da agência Home Staff, que oferece o serviço da Global Talent para as clientes da sua agência.
“As babás filipinas são tipo os médicos cubanos, mas sem pagar pedágio para o Fidel.”
O país tem tradição de exportação de mão de obra para trabalhos domésticos –são 10 milhões de filipinos no mundo todo.
“Aqui o salário é melhor, consigo mandar mais dinheiro para minha família”, diz a filipina Amy Villariez, 33, que trabalha desde dezembro para uma família no Rio. Ela sustenta a filha de nove anos e a mãe na terra natal.
Quando morava em seu país, Amy trabalhava em um supermercado e ganhava US$ 200 por mês. Depois, mudou para Cingapura para trabalhar de babá. Tinha lá só uma folga por mês e não podia nem pôr o celular para carregar, porque os patrões reclamavam do gasto de energia.
Não podia usar o wi-fi, então “roubava” a senha do vizinho. Só comia o que sobrava e ganhava US$ 300 por mês. No Brasil, Amy ganha R$ 2.000, mais R$ 100 por sábado, e folga todos os domingos. Todo mês, manda US$ 200 para casa.
“É uma vantagem minhas filhas crescerem falando inglês e acho que estou ajudando a Amy a melhorar a vida dela também”, diz Thalita Assis, 35, advogada, que vive com o marido, executivo da Shell, as filhas gêmeas de um ano e Amy na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio.
O casal morou 11 anos fora, em vários países. No último posto, Brunei, tinham uma empregada filipina. “[Ela] Era incrível, fazia compras, limpava, cozinhava e dirigia. Ela até lavava o carro!”, conta. “No Brasil, babá é só babá, cozinheira só cozinha e empregada só limpa.”
REGULAMENTAÇÃO
A importação de empregadas filipinas se tornou possível desde uma regulamentação de 2012 do Ministério do Trabalho, que permite a contratação de mão de obra estrangeira por pessoas físicas, e não apenas empresas.
O ministério ainda não tem dados exatos sobre empregadas filipinas no Brasil. Segundo Aldo Cândido, coordenador-geral de imigração no Ministério do Trabalho, o empregador precisará pagar todos os encargos, até o FGTS, quando for regulamentada a nova PEC das domésticas.
Leonardo Ferrada, 29, sócio da Global Talent, está fechando um acordo para importar mão de obra filipina para hotéis, de olho na Olimpíada de 2016 no Rio.
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Tá... duas perguntas.
1 - Todo mundo burguês quer um mercado para vender, mas que seja sustentado por bons salários dos outros. E aí temos: bolivianos, haitianos, filipinos, nigerianos, chineses etc. Sejam bem vindos. Aqui tem liberdade de expressão, você pode dizer aos seus patrões o que a veja diz ao governo, você tem direitos trabalhistas (por enquanto), tem direito a saúde, moradia, segurança e educação. Alguém precisa dizer isso a eles no idioma deles.
2 - Como remetem dinheiro para suas famílias? Ou o pagamento é via HSBC da Suiça?
PS.: A "parte do Fidel" fica com a patroa que com esse pensamento, tenho certeza que não sonega nada.
Eu falo sempre, a elite brasileira e um a certa classe média com bons salários e burra, não se conformam até hoje com a libertação dos escravos.Não é força de expressão não, é assim mesmo. Elas preferem ter escravos.
E quem é de esquerda falando mal pacarai do Governo.
Olha o que nós estamos fazendo com o nosso Brasil!
Já não há brasileiros se submetendo a escravidão da elite oligárquica!
Isso não tem preço.
Os filhos de quem se submetia também não se submeterão.
A História não anda pra trás!
Ainda que tenha refluxos como este congresso.
Miguel não quebre tanto a cabeça. Você é apena um social-democrata típico. Pois acredita em estado, mercado, propriedade privada, capitalismo humanizado, democracia burguesa e outras pérolas fantasmagóricas criadas pelos seres humanos como religião, deus ou deuses, política, estado e demais excrescências degenerativas. Porém alegre-se enquanto você puder expor tais ilusões porque as luzes do iluminismo já se apagaram e nós já entramos num milênio de trevas.
Acredito em outras coisas também: justiça social, justiça fiscal, educação e saúde públicas. Crédito popular. E radicalização da democracia para todos os níveis do Estado, como Judiciário e Ministério Público. Além de uma profunda democratização da mídia. E tantas outras coisas!
Esse é a auto-descupabilização mais comum:"desde que ela veio trabalhar aqui em casa, melhorou muito de vida". Tradução livre: "desde que começou a ser explorada por nós sobreviveu"
CONTRA PANELAÇOS DA ELITE, ATIVISTAS DEFENDEM DILMA
Antonio Xaolin e Niura Antunes, ativistas e moradores da Rocinha, escreveram artigo exclusivo para o Favela 247 defendendo os avanços sociais dos governos Lula e Dilma e criticando os recentes panelaços das elites: "Entender essa pregação do ódio contra Dilma e enxergar a cortina que esconde esse processo de ódio é colocar as coisas no seu devido contexto histórico. É preciso uma reflexão sobre como era o país antes de Lula e Dilma. Um país arrasado com o povo da favela e da periferia totalmente sem direitos, e o que se via era amontoados de desempregados, sem moradias e sem esperança"
10 DE MAIO DE 2015 ÀS 12:14
Por *Antonio Xaolin e Niura Maria Antunes, para o Favela 247
Síndrome de Cinderela e a mãe dos pobres
(...)
A luta de classes esta de volta com toda a força. Agora é que o cabo de aço poderá arrebentar - o rico burguês de um lado contra o pobre trabalhador do outro. O trabalhador querendo continuar melhorando de vida e o rico burguês querendo impeachment. A madrasta maltratando a afilhada borralheira, forçando a barra, batendo panela inox, para que a mãe dos brasileiros seja impedida de realizar as mudanças necessárias para que os filhos da pátria evoluam.
A história do conto de fadas agora é real. Não somos mais Cinderelas, somos gente, queremos mais! E se é para lutar... Avante!
Feliz Dia das Mães, Presidenta Dilma!
*Antonio Xaolin, líder comunitário da Rocinha, coordenador da Câmara Comunitária da Rocinha. Foi presidente da Associação de Moradores da Rocinha e Diretor do Sindicato dos Metroviários. Niura Maria Antunes é trabalhadora da saúde e militante social.
FONTE: http://www.brasil247.com/pt/247/favela247/180311/Contra-panela%C3%A7os-da-elite-ativistas-defendem-Dilma.htm
Importa da África. Sai bem mais barato. O seu Bi-bisavô já fazia isso, boneca...Era só ir comprar no mercado. Não precisava nem pagar salário.
Fernando,
é isso aí, temos que assumir que alguma coisa mudou: Agora tem leasing.
Antes, só quem recebia trabalhadores imigrantes eram os países de ponta. Acho que esse fenômeno diz muito sobre a nova realidade brasileira.
uma inspeção do ministério do trabalho nessas casas iria ser bastante reveladora dessa classe média alta internacionalizada, mas que foi criada no alpendre da casa grande.
Se a 'empregada' filipina vende seus serviços para esta senhora, imagino que seja por um bom preço. Mas isso é uma exceção. Na Inglaterra , os eua, na Europa, no Brasil, também há governantas, que ganham MUITO BEM para fazer esse tipo de serviço. Mas isso é a exceção, não a regra. A regra é as ZELITES se aproveitarem provalessidamente de um povo pauperizado que se dispõe a fazer qualquer coisa por um teto e um prato de comida.
"O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES - O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÃO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS"
Algum de vocês ja tentou contratar alguma babá ou empregada? No Brasil, não é questão de quanto você paga, o problema é cultura Macunaíma de não querer trabalhar de verdade + baixíssima qualificação profissional. A grande maioria não tem requisitos nem para exercer função de doméstica. Cobram todos seus direitos, mas se esquecem dos deveres. Se você oferecer 5 mil, ainda sim terá dificuldade em encontrar alguém que saiba exercer com competência a atividade. Que as leis de proteção ao trabalhador sejam cumpridas, mas que o trabalho seja feito também.