Caso Bolsonaro fica indefinido com pedido de vistas no STF

Empatado em dois a dois, a 2ª Turma do STF deixou em suspenso a aceitação da denúncia contra Jair Bolsonaro por prática de racismo ao dizer que os quilombolas “não prestavam nem para a reprodução”, pois o mais leve ali “pesava sete arrobas”. O ministro Alexandre de Moraes pediu vistas e empurrou por pelo menos mais uma semana o impasse.

Compreende-se que o Ministro Marco Aurélio resista em fazer o que diz ser uma violação da imunidade verbal dos parlamentares, mas há, neste caso, um componente público que não pode ser deixado de lado.

A menos que se queira voltar aos tempos de antes da Lei Caó e deixar de considerar crime a prática do racismo.

Ninguém quer que se apliquem a Bolsonaro as penas e os castigos que ele diz querer infligir aos seus adversários. Nem que deixe de ser candidato por se tornar réu, pois ser réu não cassa a cidadania de ninguém.

Mas é absolutamente indispensável que se sinalize à sociedade que tratar como  gado nossos semelhantes em razão de racismo, orientação sexual, credo religioso e outras características é inaceitável em qualquer situação e muito mais em uma sociedade como a brasileira.

Bolsonaro é uma metralhadora a cuspir projéteis de estupidez, em boa parte nascida da obra de um Justiça que quis se projetar pela truculência com que passou a agir.

Estamos assistindo parte do caudal de insatisfação da classe média se voltar não contra os responsáveis pelo declínio do Brasil, mas contra as maiores vítimas deste processo: os negros, os pobres, os nordestinos, e todos que, nas palavras toscas de Bolsonaro, têm o “defeito da procriação”.

Fernando Brito:

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  • É como você disse, Brito. Ele não ficará inelegível nem nada, mas é necessário aplicar alguma pena que sinalize o crime e sirva de norte. O que não pode é esse sujeito ser balizador de comportamento da sociedade. Imagino, por exemplo, "valentões" achando que tem salvo conduto pra bater em mulher, caso esse escroque seja presidente. Cruz credo!

  • Concordo com o ministro Marco Aurélio. Se a liberdade de expressão para o cidadão comum já deve ser ampla, para um parlamentar essa liberdade deve ser ainda mais ampla. Vou ser claro: um parlamentar deve poder dizer coisas que são vedadas ao cidadão comum. Ele está lá para isso. Para poder falar. Vocalizar os anseios da sociedade, publicáveis ou não. Essa é a própria essência do trabalho de um parlamentar.

  • Muita gente está pensando que o candidato do golpe agora é o Bolsonaro. Não é verdade. Continua a ser o Alckmin. Mas para que ele seja presidente, é fundamental tirar o PT da eleição ainda no primeiro turno. Não há hipótese do golpe sair vitorioso se o PT for ao segundo turno, e o setor majoritário do Golpe quer que o presidente venha a ser o Alckmin, não o Bolsonaro. Bolsonaro que bateu na Globo é bom para que ocupe o lugar de enfrentador dos poderosos da mídia, impressionando gente frustrada da classe média, mas no povão Bolsonaro perdeu votos com o debate global. O povão não gostou de sua "ignorância" (rudeza) com o Bonner e a Renatinha. Nem da maneira como tratou os homossexuais, que o povão já incorporou a seu cotidiano com a maior naturalidade, sem qualquer preconceito pequeno-burguês. Porém, (ai, porém...) se o Alckmin for ao segundo turno com o Bolsonaro, seu insosso chuchu passará a ser uma horta colorida. Hoje sem qualquer bandeira, ele então empunhará a mais forte bandeira de todas: a de salvador do Brasil do perigo fascista. Isso será fácil com a mídia e a legião jurídica atuando a seu favor. Alckmin não só terá o reconhecimento dos esquerdinhas sem noção, como terá reconhecimento internacional. Será o Pacificador. Mas para tudo isso, é preciso impedir que o PT concorra às eleições, ou ter certeza de que concorrerá perdendo. Como é quase impossível que o PT venha a perder, então só há um jeito de tirá-lo da corrida eleitoral: impedindo sua participação, através de algum artifício engendrado no campo jurídico. Para isso já está de prontidão a legião jurídica do golpe.

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