Paulo Nogueira, em seu Diário do Centro do Mundo, publica ótimo artigo e imperdível vídeo em que Hugo Chávez encara um repórter de O Globo.
Não há ofensa pessoal ao jornalista – “bienvenido a ti, no a O Globo” – mas não há tergiversação quanto ao papel do império Globo.
A mim, emociona profundamente, porque vi, dia após dia, um homem lutar sozinho contra este cogumelo.
Ao contrário, todos se vergavam a ele, inclusive muitos na esquerda.
Porque, a quem não faz isso, a Globo corrói, enfraquece e mata politicamente.
Acusa de ditadores, autoritários, homens que chegam ao poder pelo voto!
Como falta ao povo brasileiro quem faça isso, quem questione a legitimidade de um conglomerado que ajudou a implantar e engordou imensamente com a ditadura!
Como falta quem tenha a coragem de dizer que esta emissora é um mal para a liberdade, porque a liberdade é necessariamente o respeito à liberdade de um povo de escolher seu governo.
Porque, quando não o fazem, viram vítimas frágeis de um monstro que admite tudo, menos que se contrariem seus interesses econômicos.
Ganham uma concessão por prazo determinado? Ah, é um cartório, vitalício e hereditário.
Fazem uma operação econômica e não pagam imposto? Suma-se com o processo de autuação!
Aos que aderem ao silêncio diante desta fera, um aviso de quem viveu 20 anos ao lado de quem a enfrentou.
Vocês podem, até, sobreviver a ela, por algum tempo, até por muito tempo.
Mas não se iludam, terão de sacrificar uma parte de si mesmos para isso.
E, quando tiverem de honrar seus compromissos com o povo brasileiro, essa parte lhes fará uma falta imensa.
Por que a Globo é contra o governo venezuelano
Paulo Nogueira
Noto, nas redes sociais, revolta contra a maneira como a Globo vem cobrindo a crise na Venezuela.
A Globo ataca, ataca e ainda ataca o governo eleito.
Não existe razão para surpresa. Inimaginável seria a Globo apoiar qualquer tipo de causa popular.
O problema começou com Chávez.
Chávez e Globo tinham um história de beligerância explícita. Ambos defendem interesses antagônicos.
Se estivéssemos na França de 1789, a Globo defenderia a Bastilha e Chávez seria um jacobino. Em vez de recitar Bolívar, ele repetiria Rousseau.
Chávez cometeu um crime mortal para a Globo: não renovou a concessão de uma emissora que tramara sua queda. Veja: um grupo empresarial usara algo que ganhara do Estado — a concessão para um canal de tevê — para tentar derrubar o presidente que o povo elegera. Chávez fez o que tinha que fazer. E o que ele fez é o maior pesadelo das Organizações Globo: a ruptura da concessão.
Há uma cena clássica que registra a hostilidade entre Chávez e a Globo. Foi, felizmente, registrada pelas câmaras. É um documento histórico. Você pode vê-la no pé deste artigo.
Chávez está dando uma coletiva, e um repórter ganha a palavra para uma pergunta. É um brasileiro, e trabalha na Globo. Fala num espanhol decente, e depois de se apresentar interroga Chávez sobre supostas agressões à liberdade de expressão.
Toca, especificamente, numa multa aplicada a um jornalista pela justiça venezuelana.
Chávez ouve pacientemente. No meio da longa questão, ele indaga se o jornalista já concluiu a pergunta. E depois diz: “Sei que você veio aqui com uma missão e, se não a cumprir, vai ser demitido. Não adianta eu sugerir a você que visite determinados lugares ou fale com certas pessoas, porque você vai ter que fazer o que esperam que você faça.”
Quem conhece os bastidores do jornalismo sabe que quando um repórter da Globo vai para a Venezuela a pauta já está pronta. É só preencher os brancos. Não existe uma genuína investigação. A condenação da reportagem já está estabelecida antes que a pauta seja passada ao repórter.
Lamento se isso desilude os ingênuos que acreditam em objetividade jornalística brasileira, mas a vida é o que é. Na BBC, o repórter poderia de fato narrar o que viu. Na Globo, vai confirmar o que o seu chefe lhe disse. É uma viagem, a rigor, inútil: serve apenas para chancelar, aspas, a paulada que será dada.
“Como cidadão latino-americano, você é bem-vindo”, diz Chávez ao repórter da Globo. “Como representante da Globo, não.”
Chávez lembrou coisas óbvias: o quanto a Globo esteve envolvida em coisas nocivas ao povo brasileiro, como a derrubada de João Goulart e a instalação de uma ditadura militar em 1964.
Essa ditadura, patrocinada pela Globo, tornou o Brasil um dos campeões mundiais em iniquidade social. Conquistas trabalhistas foram pilhadas, como a estabilidade no emprego, e os trabalhadores ficaram impedidos de reagir porque foi proibida pelos ditadores sua única arma – a greve.
Não vou falar na destruição do ensino público de qualidade pela ditadura, uma obra que ceifou uma das mais eficientes escadas de mobilidade social. Também não vou falar nas torturas e assassinatos dos que se insurgiram contra o golpe.
Chávez, na coletiva, acusou a Globo de servir aos interesses americanos.
Aí tenho para mim que ele errou parcialmente.
A Globo, ao longo de sua história, colocou sempre à frente não os interesses americanos – mas os seus próprios, confundidos, na retórica, com o interesse público, aspas.
Tem sido bem sucedida nisso.
O Brasil tem milhões de favelados, milhões de pessoas atiradas na pobreza porque lhes foi negado ensino digno, milhões de crianças nascidas e crescidas sem coisas como água encanada.
Mas a família Marinho, antes com Roberto Marinho e agora com seus três filhos, está no topo da lista de bilionários do Brasil.
Roberto Marinho se dizia “condenado ao sucesso”. O que ele não disse é que para que isso ocorresse uma quantidade vergonhosa de brasileiros seria condenada à miséria.
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Nojento...
Prezado Fernando,
Concordo que a Globo não atende aos interesses americanos, diretamente. Mas, ela dá voz a quem defende isso. Portanto, indiretamente, ela tem participação nessa ação imperialista, sim.
Caro Fernando:
Com toda certeza, tudo o que Chavez falou a respeito da Globo é a mais pura verdade. Dito isso, é preciso prevenir ao leitor mais distraído que lê esse artigo do Paulo Nogueira e lê também aquela peça infame que ele escreveu sobre black bloc, que o jogo do poder que a corporatocracia que governa o mundo, joga baseado em princípios nada cartesianos, como o da desinformação. A divisão "direita" versus "esquerda" tem sido um dos elementos mais úteis à corporatocracia no jogo da desinformação. Eis então um caso típico. Como entender que alguém que seja um feroz crítico da Globo, um admirador de Chavez, possa elogiar rasgadamente, em diversos artigos, os mesmos grupos, internacionalmente constituídos, Anonymous e black blocs, além dos equivalentes da Mídia Ninja, que tentaram de todas as formas sabotar e derrubar o governo de Chavez, e que neste instante, de braços dados com a extrema-direita fascista fazem uma campanha terrorista odiosa tentando derrubar o governo Maduro? Isto é a desinformação praticada pela Companhia das Índias Angloamericanas na sua mais completa tradução. Cuidado! Podemos até dar ouvidos aos agentes da desinformação quando estiverem acrescentando informações bem embasadas sobre fatos que já conhecemos. Porém, uma vez que evidentemente tenham se revelado agentes da desinformação então devemos tratá-los pelo que são: extremamente perigosos para a democracia.
Fernando, obrigado por manter viva a verve do nosso último caudilho.
Sugestão: um post sobre o direito de resposta, que completa 20 anos dia 15/03.
Abraço de um brizolista.