Cientistas políticos detonam o “distritão” de Cunha. Que dificilmente passará.

Embora, sob o comando da dupla Eduardo Cunha-Renan Calheiros, o Congresso Nacional esteja virando a Casa Verde imaginada por Machado de Assis em seu maravilhoso “O Alienista”, os Simão Bacamarte parlamentares, duvido eu, terão força para implantar o “distritão” que pretende o primeiro deles, que chegou a dar um “passa-fora” no seu pupilo escalado para cumprir a tarefa de relatar o projeto da forma que havia sido mandado fazer.

Cunha, é claro, quer um sistema eleitoral onde só quem tem milhões para sustentar esquemas de cooptação de prefeitos e vereadores  e, assim, obter votações estrondosas – das quais só se excetuam, em geral, as chamadas “celebridades” –  pode concorrer com chances.

E que dá margem a situações, sobretudo em estados de bancada mais reduzida, ao absurdo, por exemplo, de um partido ter 25 ou 30% dos votos e não eleger nenhum deputado, porque não teve nenhum candidato entre os “top” de votação individual, por conta de votos equilibrados entre diversos deles. Ou seja, 25, 30 ou mais até dos votos vão, literalmente, para o lixo.

Mas a grande maioria da Câmara não foi eleita assim, com um caminhão de votos. E não é suicida.

Nessa, Cunha não arrasta o “baixo-clero”.

Mas vale, como registro da decência e da correção de quem estuda a política como ciência e forma de exercer a democracia, registrar o manifesto dos cientistas políticos brasileiros, feito através da Associação Brasileira de Ciência Política, contra esta monstruosidade.

Cientistas políticos e sociólogos se
posicionam contra a possibilidade do “distritão”

Ao Excelentíssimo Senhor Deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Presidente da Câmara dos Deputados (Brasília, DF)

Nós, estudiosos da ciência política brasileira, vimos por meio desta manifestar posição contrária à adoção do modelo de sistema eleitoral denominado “distritão”, que será objeto de votação no plenário da Câmara dos Deputados, no dia 26 de maio de 2015.

A introdução do distritão nas eleições para a Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores representará um verdadeiro retrocesso institucional. Com o fim do voto de legenda e da transferência de votos dentro das agremiações partidárias, os candidatos correrão por conta própria, a título individual, enfraquecendo os partidos políticos e potencializando o personalismo na corrida eleitoral. Além disso, diferentemente do atual modelo, milhões de votos serão jogados fora, visto que somente serão válidos os votos dos eleitos.

Ao que tudo indica, o distritão acarretará o aumento dos custos das campanhas eleitorais, pois, sem incentivo algum para a cooperação dentro dos partidos, os candidatos necessitarão de maior exposição individual. Ademais, facilitará o renascimento de oligarquias regionais e contribuirá para a diminuição da qualidade da representação política, ao proporcionar maiores condições de vitória a concorrentes sem experiência parlamentar.

Se a necessidade de uma reforma política surge do diagnóstico de que os partidos são frágeis, a adoção do distritão parece ter como objetivo fragilizá-los ainda mais, interessando a certos segmentos da classe política profissional, em particular àqueles com maior facilidade para dispor de vultosos recursos para suas campanhas. Nesse sentido, observamos com preocupação a possibilidade de sua implantação e reiteramos nossa posição contrária à sua propositura.

Fernando Brito:

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  • Depois de mais de doze anos de um governo liderado por um partido construído no campo da esquerda é inacreditável que o tal "distritão" possa ser aprovado.

  • Este tema afeta toda a sociedade,nossa forma de organização política e social, nada mais justo um referendo popular para dar tempo às discussões necessárias sobre o tema. Este assunto não pode ser resolvido a toque de caixa com rolo compressor.

  • Não ouço ninguém falando sobre o fim das reeleições infinitas para o poder legislativo.
    É preciso com urgencia por fim nesse desrespeito que é deputados, senadores e vereadores poderem ser reeleitos indefinitivamente.
    FIM DA REELEIÇÃO PARA O PODER LEGISLATIVO.

  • Pra mim esse distritão é o bode na sala... Eles colocam o distritão como opção pra deixar como está e todo mundo achar bom ainda...

  • Brito e leitores,

    Quero sugerir que quem tenha o conhecimento necessário e acesso aos dados, organize, estado por estado, uma tabela que mostre quem foram os eleitos, no modelo atual, e quais seriam os eleitos no tal distritão. Eu acredito que a maioria dos deputados vai estar nas duas listas, destruindo o argumento de que o baixo clero não é suicida.
    Mas se o resultado for o contrário, acho que, depois de divulgada aqui, deveríamos, cada um de nós,enviar cópia aos deputados de seu estado. Vai ser uma bomba, com certeza, porque não será uma opinião, mas um fato constatado.

  • O Distritão vai perpetuar Múmias já existentes no congresso!!! Porque não aumentar o mandato de um deputado de de 4 para 6 e ele não poder se candidatar mais para o mesmo cargo e o senador de 8 para 10 e acontecer o mesmo?

  • Os deputados que seguem, por puro interesse, esse alienista irresponsável e finório arrivista, vão terminar quebrando a cara! Qualquer condição de maioria política como essa, forjada sem base programática e, portanto, de instável manutenção ao longo do tempo, tende a desmanchar-se enredada nas próprias contradições e fragilidade de propósitos.

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