Ciro: “estarei na primeira fila para defender o mandato de Dilma”

Ontem, reproduzi aqui um vídeo onde Ciro Gomes falava da questão nacional e de sua visão de integração com soberania. E reclamei de que, apesar de ser uma dos mais relevantes quadros da política, a grande imprensa não lhe dê espaços, porque suas falas são sempre tão afirmativas e desabridas que não podem deixar de ser notícia.

 

Hoje, a Folha dá este espaço para que ele fale, e de política.

 

O que ele diz sobre a crise e a ameaça de impedimento é pleno de razão, embora seja necessário – e ele tem, ao que parece, alergia a isso – o exercício da política real, que não pode ser esquecido e o próprio Ciro sabe.

 

Como, fora do Governo e sem ter sequer como participar mais intensamente de articulações, mesmo sendo potencial candidato em 2018, Ciro não tem esta obrigação, chama a atenção o fato de ele não fazer concessões oportunistas ao movimento de impeachment de Dilma e, cobrando da Presidente coerência com o projeto que representa e a levou à vitória, se ponha sem rodeios em defesa da legalidade.

Leia a sua entrevista ao bom repórter Bernardo Mello Franco, na edição de hoje da Folha.

 

Folha – Como o sr. vê a articulação pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff?
Ciro Gomes – A democracia está ameaçada pelo golpismo. Está acontecendo uma escalada do golpe com apoio da oposição, que não aceitou o resultado das eleições.

Não gostar do governo não é causa para impeachment. Isso é um mecanismo raro, a ser usado em caso de crime de responsabilidade imputável direta e dolosamente ao presidente. Ninguém tem nada disso contra a Dilma.

Seria muito caro o preço de uma interrupção do mandato. É só olhar a Venezuela. Quem produziu aquele quadro lá foi esse tipo de antagonismo odiento. O país vai viver momentos tensos e graves, vizinhos à violência, por causa desses loucos.

Quem iria às ruas defender o mandato de Dilma?
Estarei na primeira fila. Muitos brasileiros vão se perfilar. Não é para defender a Dilma, é para defender a regra. Veja o que já aconteceu quando um mandato foi interrompido por renúncia, suicídio ou impedimento.

O impeachment pode ser a catarse de quem está zangado, mas no dia seguinte os problemas serão os mesmos. Só que agora o PT, a CUT e os servidores estarão em pé de guerra com um presidente sem legitimidade.

Uma parte das pessoas está nisso de boa fé porque não sabe que quem assume é o vice, Michel Temer, que é do PMDB e amigo íntimo do Eduardo Cunha. Mas tem pessoas de muita má-fé.

A quem o sr. se refere?
A Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso. O PSDB está fazendo isso por pura vingança. Em 1999, quando houve a desvalorização violenta do real e a popularidade do presidente foi ao chão, o PT começou com o Fora FHC.

O comportamento do Fernando Henrique é constrangedor. Como dizia Brizola, ele está costeando o alambrado do golpe. Qual é a proposta do PSDB? Ficar contra o fator previdenciário e a CPMF, que eles criaram? Contra o ajuste fiscal, que eles introduziram como valor supremo?

Por que Dilma está tão fraca?
O maior problema do governo não é o escândalo, é a mentira. A zanga do povo não é propriamente com a corrupção, que é chocante, mas com o sentimento de ter sido enganada. A gente votou em um conjunto de valores e está recebendo o oposto.

O governo tem que se reorganizar politicamente e fazer uma gestão econômica coerente com o discurso que lhe deu a vitória. Ainda há tempo. O problema é que ela não tem projeto nem equipe.

A equipe da Dilma é de quinta, salvo exceções. Quem bota a [ex-ministra] Ideli Salvatti para tomar conta de uma situação dessa complexidade está pedindo para morrer.

Aí ela entrega a coordenação política ao vice, que distribui todos os cargos importantes ao PMDB e depois lava as mãos e sai. É uma coisa de cinema, rapaz. E os escândalos da Dilma 2.0 vão surgir dos nomeados por ele.

Nunca vi um vice-presidente se mexer tanto. O Temer foi dar palestra para um movimento que está no golpe contra a Dilma e fez uma frase que não admite dupla interpretação. Onde está escrito na Constituição que uma presidente com 7% [8%, segundo o Datafolha] de aprovação não se aguenta no cargo?

Ele quer a cadeira dela?
Vá ver se o José Alencar [vice de Lula], na crise do mensalão, saiu fazendo palestra e dizendo que era preciso achar alguém para unir o país. Eu costumo não ser idiota.

Como vê o novo pacote fiscal ?
É ilusionismo, mas 70% não sai do papel. E a medida mais importante [a recriação da CPMF] não podia ter sido anunciada daquele jeito.

A receita está despencando por causa da recessão que esses malucos estão produzindo. Se o governo não atrapalhasse com a taxa de juros, o Brasil poderia achar o caminho antes do que se supõe. O governo está atrapalhando.

Hoje a inflação é provocada por câmbio e preços administrados, dois setores sobre os quais os juros não têm o menor efeito. E os maiores bancos estão tendo lucro 40% acima do ano passado. Estão ganhando com a crise.

O sr. quer disputar o Planalto?
Acho extemporâneo falar de candidatura agora. Mas eu já fui candidato duas vezes, não posso disfarçar.

O PDT é seu sétimo partido. Como explica tantas mudanças?
Minha vida partidária é uma tragédia, muito ruim mesmo. Mas mudo de partido, não de convicções. Tenho 26 anos de vida pública e nunca respondi a um inquérito.

 

Fernando Brito:

View Comments (20)

  • Ciro. Eu acho que voce é quase perfeito.
    Por que nao falou da parte chinesa da crise? Pesa quanto na crise? Voce tem projeto? Vou votar em vc.

    • Também estou tentada. Até porque acho que Lula já fez demais. E não é justo pedir a ele mais sacrifício. Só pediria se não tivéssemos uma opção. E Ciro é a opção. A Chapa ideal, Ciro e Requião. Se for para entregar o país aos traíras aceito o sacrifício de Lula.
      Vejam o que fhc fez ao país no livro escrito por um jornalista estadunidense:
      http://jornalggn.com.br/noticia/o-fhc-desenhado-por-palast-por-ana-claudia-dantas

      O FHC desenhado por Palast, por Ana Cláudia Dantas, especial para o GGN

      Um artigo meu, publicado pela GGN, acabou por causar desconforto para os administradores do veículo e, pensando bem, é compreensível, já que se trata de uma espécie de resenha do trecho de um livro de Greg Palast, um jornalista investigativo norte americano, dado a descobrir e levar a conhecer escândalos financeiros que, na publicação em pauta, um livro de mais de 400 páginas, dedicou quatro páginas para falar de um episódio da história do Brasil, que considera escandaloso, cujo personagem central é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

      Palast está longe de ser um escritor suave, ao contrário, ele começa o parágrafo em que introduz a passagem brasileira, na página 347, dizendo: “arrastei você [o leitor] para a América Latina e para minhas células da memória confundidas pela pinga.” Em seguida ele fala: “O Brasil como a Grécia, abriu seus bancos para a felicidade de Nova York, de Londres e dos financistas suíços. No momento em que isso aconteceu, o dinheiro fluiu para comprar os ativos de um país rapidamente e por um preço barato”, e depois compara o governo de FHC a uma festa, como alguém que vende a sua casa e dá uma festa, mas quando acaba, não há mais casa para se abrigar.

      A linguagem e as analogias de Greg Palast são responsáveis pelo tom enfático do escritor, mas no livro há fotos comprobatórias daquilo que ele escreve, e mais documentos ele mantém expostos no seu site para que não reste dúvida da veracidade do que está falando, mesmo com uma memória confundida pela pinga.

      Ele conta que, já tendo prejudicado o Brasil nessa dimensão, FHC pediu mais empréstimo para o FMI para ser usado na sua reeleição. “Robert Rubin não samba, mas o secretário do Tesouro dos EUA conhecia a dança brasileira e era mais eficaz do que Mendelson. Ele e seu sucessor, Summers, arrumaram um empréstimo de $41 bilhões para o Brasil [...] FHC derrotou Lula, e então, apenas 15 dias após as eleições, o Tesouro dos EUA deixou a moeda brasileira despencar, as taxas de juros subiram novamente e a economia foi para o inferno” disse Palast, ilustrando seu texto com uma fotografia do documento confidencial que comprova a transação.

      Para pagar o empréstimo FHC teve de fazer uma privatização “em queima de estoque”. “Os banqueiros tentaram aplicar o mesmo golpe em 2002, quando Lula enfrentou José Serra. Desta vez foi oferecida outra linha de crédito do FMI: O Brasil teria de entregar seus bancos estatais para os financistas privados” contou o jornalista afirmando que o acordo confidencial contem 60 e poucas páginas e está assinado por FHC. Mas Lula ganhou as eleições e “mandou o FMI enfiar os acordos”, disse Palast, “ao invés de implorar por restos para os financistas internacionais, ele abriu os cofres do banco estatal e emprestou mais de meio trilhão de dólares para fábricas, fazendas infraestrutura — mas nenhum real para derivativos, aquisições hostis ou CDOs”.

      • Lula deve agir como o saudoso Brizola. Apoiar Ciro mais adianta. Mas Lula deve lançar sua candidatura para dividir com Ciro os ataques terroristas midiáticos covardes que virão. O PiG morre de medo do Lula e, também, do Ciro.

        Mais próximo da eleição dependendo de como estará as duas candidaturas, Lula retira sua candidatura e apoia Ciro, rumo a vitoria. Os dois devem fazer dobradinha. Requião seria convidado para fazer parte dessa aliança contra os traidores da pátria.

  • Ciro Gomes deveria estar na linha de frente do governo junto com Requião e outros. A equipe politica precisa ter força e ações diretas para combater os golpistas; estes, por sua vez não terão sucesso mas continuarão durante os próximos 3,5 anos tentando desestabilizar o governo e prejudicando o país. As definições dele sobre FHC e companhia são perfeitas: pessoas de má fé.

  • A coerência do Ciro é igual a do Blog que vai chupinscar matéria na 'pinguenta' Folha.
    Cabra problemático, já passou por SEIS partidos e de forma desastrosa, é um desagregador. Sem eira foi para no PDT, por pouco tempo, será expulso junto com o irmão Cid.
    Quem ainda suspira por uma salvação do caso perdido da Dilma deve está pavoroso com apoio de destemperados como o Ciro.
    Uma prova inconteste que a hora final está mais próxima.
    O PDT abandonou a base do governo, inclusive votou contra o 'ajuste' por unanimidade.
    Não há espaço para fanfarrão.

    • O PDT já declarou oficialmente que é contra o impeachment de Dilma.

  • Nas duas vezes anteriores eu votei no Ciro no primeiro turno.
    Ele tem clareza, coragem e coerência.
    É o presidente que o Brasil precisa para enfrentar os fascistas e entreguistas.
    Vou trabalhar por ele, de graça, para o bem do todos nós.

  • A analise politica de Ciro não deixa dúvidas. Os golpistas, alem da ma fé, são irresponsáveis, defensores de interesses externos e contrários aos interesses do Brasil. Se persistirem na aventura golpista, vão provocar uma crise social sem precedentes.

  • esse é da laia, herdeiros da politicagem mais corrupta e imoral da face da terra, que mesmo sabendo da absurda incompetência da Dilma,nada fez para que o presidente fosse Lula, o mais competente de todo universo. Pois se fosse Lula, gente como ele teria que se recolher à sua incompetência e turma de corruptos e imorais da politicagem. E claro que espichando Dilma, e tem também que ser todos os eleitos, dado que foram da mesma laia, terá que haver logo eleição sem nenhum que concorreu na eleição passada, quando Lula seria eleito presidente. Adiando ao máximo, esse espera que Lula mora até lá e sem Lula, gente dessa laia pode vir a ser presidente

  • "Minha vida partidária é uma tragédia, muito ruim mesmo. Mas mudo de partido, não de convicções".
    Ciro Gomes já foi do PDS (sucessor da Arena), PMDB, PSDB (com FHC, Serra), PPS (com Roberto Freire), PSB (ministro de Lula), PROS, e agora, PDT. Não mudou de convicções?

    • Um ponto para refletir: os partidos não mudam de convicções? Basta ver o PSDB, atuando na extrema-direita e apoiando o golpe. Penso que se nossas convicções deixam de caber num partido, é melhor mudar de partido.

    • Todas as mudanças de partido do Ciro Gomes não foram operadas no vácuo, todas tiveram contexto. Mais emblemático foi o rompimento com o PSDB, que se dizia de esquerda, mas quando chegou ao poder mostrou a verdadeira cara. Assim como o PPS e o PSB, que em São Paulo e no Paraná viraram base dos governos tucanos.

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