Coimbra: povo quer mudar a política e continuar o modelo. É o desafio de Dilma

Muito interessante a análise do comportamento da opinião pública frente às eleições deste ano feita por Marcos Coimbra, presidente do Vox Populi, na Carta Capital.

Ele não subestima o desejo de mudança política da população, cada vez menos representada por parlamentares e partidos que, frequentemente, agregam mais pela conveniência que pela visão de país e identidade de métodos de ação.

E, como se está vendo na prática, isso inclui a hipocrisia da “nova política” de Eduardo Campos e Marina Silva, engalfinhados numa disputa de composições e arranjos locais. E que, ao praticar sua “aliança preferencial” com Aécio Neves, sinaliza que a busca de novos caminho acaba visando os mesmos destinos velhos do conservadorismo colonialista brasileiro.

Dilma, como mostrou no ano passado, ao propor um plebiscito para a reforma política que as oligarquias partidárias e parlamentares se apressaram em barrar, vai precisar emitir este duplo sinal: que é preciso mudar na política para manter o caminho de afirmação que, desde 2002, o Brasil tomou.

E que não está esgotado, porque não chegamos nem perto ainda do que iremos ser.

Cálculo e risco nas eleições

Marcos Coimbra


Salvo a minoria que chega às urnas com certeza absoluta a respeito do que vai fazer, o eleitor típico carrega dúvidas durante todo o processo. Até o último momento, quando vai digitar seu voto, costuma ainda estar inseguro.

A incerteza é maior nas eleições proporcionais, nas quais, por obra de nossa legislação, uma oferta imensa de opções lhe é apresentada. Como selecionar um candidato a deputado entre centenas?

Ao contrário de benfazeja à democracia, a superoferta desencoraja o cidadão a procurar. Muitos terminam, a rigor, por não escolher e aceitar a sugestão de alguém em quem confiam (familiar, patrão, prefeito, cabo eleitoral, padre, pastor). Ou deixam o voto em branco ou o anulam.

Nas eleições majoritárias, em que o eleitor é posto diante de poucos nomes, o quadro é menos complicado.

A razão está no aumento da informação. Se é impossível saber algo sobre quase 2 mil candidatos a deputado estadual
(em 2010, só em São Paulo concorreram 1.976), não é difícil conhecer o fundamental dos três ou quatro que disputam, de fato, a eleição de senador, governador e, especialmente, presidente.

Paradoxo, essa maior informação nem sempre tranquiliza o eleitor. O inverso é frequente. Ao saber diversas coisas a respeito dos candidatos, a incerteza aumenta.

Um é melhor do que os demais em determinado aspecto, mas perde em outras dimensões. O campeão no quesito “determinação” pode ser péssimo em termos de “preocupação com pessoas como você”. Quem mais se destaca nisso talvez seja horrível em “competência”. As dúvidas permanecem.

Não raro, em pesquisas qualitativas, os entrevistados dizem que, ao votar, sentem-se diante de uma espécie de roleta. São obrigados a optar por um nome e têm consciência do risco de mal escolher. Sabem que pagarão um preço se optarem errado. Mas têm de fazer sua aposta.

Ao preencher os cargos do Executivo, o cidadão precisa resolver duas questões (e a segunda só se coloca depois de a primeira ser respondida): o que prefere, continuidade ou mudança? Se quer continuidade (algo que, basicamente, conhece), apostará naquele ou naquela que está no governo. Se deseja mudança (cujas consequências desconhece), qual candidato ou candidata, entre aqueles que a prometem, lhe parece melhor?

Já fizemos eleições presidenciais inteiramente dominadas pela ideia de mudança, como aquelas de 1989 e 2002. Em ambas, a soma dos votos dos candidatos que representavam ruptura com o status quo passou, no primeiro turno, de 75%. Nelas, o eleitor estava disposto a correr riscos, a trocar o conhecido pelo imaginado (na verdade, avaliava a continuidade de maneira tão ruim que aceitava até aventuras).

E tivemos eleições marcadas pela continuidade. Em 1994 e 1998, Fernando Henrique Cardoso elegeu-se e reelegeu muito menos por suas virtudes pessoais e mais pelo Plano Real, cuja manutenção estaria ameaçada. Em 2006, o apoio popular a Lula explica a reeleição. Em 2010, a eleição de Dilma Rousseff decorreu do bom governo do antecessor.

E agora?

Sem contar a parcela ideológica, para quem a escolha sempre está feita de antemão, as pesquisas indicam que a maioria do eleitorado faz seus cálculos.

De um lado, ele mostra-se claramente insatisfeito com o sistema político e o modo como se estrutura. Desde junho do ano passado, é perceptível o desejo de mudanças.

De outro, põe na balança a avaliação favorável do governo e a sensação de que os cidadãos e o País vão razoavelmente bem e melhoraram nos últimos anos. Ou seja, vê a continuidade como desejável.

É bem diferente de 1989 ou 2002, quando o eleitor sentia que nada tinha nas mãos e que um pássaro voando era melhor. Mas não é igual, tampouco, a 1994, 1998, 2006 ou 2010, quando algo que julgava muito positivo estava em risco na eleição. Naquelas, havia dois pássaros na mão do eleitor e apenas um voava.

A favor de Dilma Rousseff há a imagem dos adversários (ou sua ausência). Se Aécio Neves tivesse sido candidato em 2010, estaria mais pronto agora. E Eduardo Campos, no fundo, é nome para 2018. Hoje, nenhum é suficientemente confiável para encarnar a mistura de mudança e continuidade procurada pelo eleitorado.

Cabe a Dilma Rousseff fazê-lo. Está ao seu alcance.

Fernando Brito:

View Comments (13)

  • Sr.Fernando Brito.Gosto de suas matéria.Somente não faço comentários em seu blog,O Cafezinho,porquanto os caracteres para remessa de comentários,estão em idioma inglês,e eu não entendo e nem gosto daquele idioma.Nada contra o idioma,e sim pelos povos que o usam!Quero portanto,aproveitar o Tijolaço,onde leio seus artigos,para comentar-lhe que a desqualificação da POLÍTICA,não se deve aos partidos e nem de seus militantes,senão pela prevalência que se dá,as CONSTRUÇÕES HIST´RICAS AO RESPEITO,patrocinadas naturalmente,pelos DOUTRINADORES,espertos e talentosos propagandistas dos REGIMES DEMOCRÁTICOS DA SOCIEDADE DE CLASSES,inaugurada pelos franceses,no seculo dezenove.Tais doutrinadores,hoje disseminados pelos órgãos ditos de IMPRENSA,e que somente servem como porta-vozes dos donos de tais veículos,o judiciário romano,que adotou o aparelhamento do ESTADO MODERNO,pela pequena-burguesia,meros colaboradores de classe das classes dominantes,e que afastam os povos da LUTA POLÍTICA!È disso que estamos falando,sr.,somente isto!Saudações...

    • Quero agregas que me valho desse blog,para tentar que o Blog O Cafezinho facilite a intercomunicação com os internautas,pois até hoje,não consegui postar nenhum comentária às suas matéria,em virtude de estarem os caracteres em INGLÊS,e eu,não entendo nada desse idioma.Po0sto isto,reitero meus comentários...Saudações...

      • concordo, eu já desisti de postar comentários lá porque nunca dá certo. se houver como melhorar o processo, a iteração ficará melhor. obrigado.

  • Falo como eleitora e leiga do processo político. Realmente, ficava em dúvida quanto aos candidatos. Desde o PT só voto PT e não me arrependi. Gosto de outros parlamentares, como, o Aldo Rebelo do PCdoB. Entendo que essa confusão, na hora da escolha dos deputados, vereadores e senadores, foi esquema fabricado para isso mesmo. Causar confusão. Porque, então, não fazer propaganda do Partido Político. Se você gosta do Aldo, vote no Partido e não no Aldo. Eu sempre votei 13, para fortalecer o Partido dos Trabalhadores. Se o Partido tem compromisso com a coletividade que representa, então, qualquer candidato daquele Partido serve.

    • Olha,
      Democracia se faz com oposição. Se for para votar somente no partido isso comprometerá a democracia do sistema. Podemos ver hoje, onde o governo petista, desde Lula, comprou a maioria da bancada do senado e da câmara, a democracia foi ferida, não temos oposição e eles deitam e rolam fazendo que querem, aprovando o que querem.

      Estão, até mesmo, querendo calar a imprensa... Punir quem postar sua opinião em blogs e em redes sociais... Isso é altamente anti-democrático... Estão querendo transformar o país em uma Venezuela, ou pior Cuba, Síria ou Líbia... Devemos ficar atento aos sinais!!!

  • O problema é manter algumas coisas e mudar outras. Aprofundar as mudanças no sentido de mais democratizar este país. Mas, com que forças, qual a a utopia?
    Baixar juros.
    Desmontar a bomba do monopolio das comunicações.
    Melhorar a inserção do trabalho_INCLUSIVE classe media- com menor precarização. Como se Sociedade do Conhecimento é baseada no precariado?
    Melhorar transportes coletivos nas cidades
    Ferrovias
    Ter um projeto para o Brasil de inserção economica mundial. O Pre-sal ate agora NÃO APONTA PARA NOVO CICLO ENERGETICO NEM DE INDUSTRIALIZAÇÃO. QUA NOSSO PROJETO NA SOCIEDADE DE CONHECIMENTO?
    Resolver melhor deficit moradias e distribuição empregos nas cidades.
    Melhorar reforma agraria.
    Melhorar condições nas universidades públicas. Melhores salarios, MAIS PROFESSORES CONTRATADOS e melhores salarios para o funcionalismo.

    • Investir mais em energias alternativas. Energia eólica, solar distribuida. Energia e principalmente ECONOMIA DE USO COM MELHORES APARELHOS E METODOS DE ECONOMIZAR INDIVIDUALMENTE ENERGIA.
      INVESTIR FORTEMENTE EM SETORES QUE POSSAM VIR A SER VETORES DE DESENVOLVIMEMTO NA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO. ESTUDAR QUAIS. PARQUES TECNOLOGICOS AO REDOR UNIVERDIDADES

  • Estar no cargo de Presidente, Governador e Prefeito durante as campanhas, e até antes dela, é muito confortável em relação a quem não está ou a quem está, porém sem a aceitação do povo. Dilma tem se valido, claro, do fato de entregar casas, ente outras coisas, à população mais pobre. Na semana passada ela discursou em Manaus. A platéia, toda orgulhosa por receber suas chaves de moradias, a ovacionaram. Homens e mulheres se regozijavam por estarem ali, diante daquela que os tirariam de um buraco fundo - o aluguel e suas consequências. Ou seja, Dilma tem como comemorar, discursar, e envolver parte do povo brasileiro, que não poderia deixar de vê-la com bons olhos. Em contrapartida, colocaria Natal como exemplo de mau governo e a quantas andam a política da governadora Rosalba Ciarlini. Até os que nela votaram se encontram indignados. A rejeição é enorme. Rosalba, tanto quanto Micarla, a prefeita que foi embora antes de terminar o mandato, por abuso de poder, etc., foram indicadas por nada menos que Agripino Maia. Este joga pra platéia umas incompetentes, mas depois as deixa de lado, e não faz mea-culpa jamais. O mais impressionante é ver que o povo, mesmo irritado com essas coisas ruins, parecem esquecer, ao fim e ao cabo, o responsável por tais governantes. Infelizmente esse povo continuará sendo manipulado por esse cara de pau. Penso que pelo Nordeste ainda existe a figura do comprador de voto, daí tantos no RN não votarem no PT, já que é um estado que tem apenas três famílias donas do poder; Alves, Maia e Rosado.

  • Estou pronto para votar na DILMA, com a certeza de que Brasil continuará avançando.

  • Voto no PT e sempre votei...Mas quero um partido que realmente represente os meus sonhos.Agir igual a outros partidos,não.O PT pode e deve ser melhor estruturado,com maior participação popular,com mais coerência,com mais rigor nas suas coligações.E esquecer o curriculo de quem indica,precisamos de pessoas preparadas.Mas vou continuar votando em Dilma.

Related Post