Muito curiosa a matéria da Folha, hoje, onde, sob o título “Recessão não é culpa do ajuste fiscal, avalia ministério da Fazenda” assessores do Ministro Joaquim Levy dizem que o ajuste fiscal “não pode levar a maior parte da culpa pelo tombo da economia”, porque é “responsável por menos da metade da retração do PIB brasileiro neste ano”.
Isso representaria, dizem eles, um encolhimento de 0,6 ponto percentual na economia, enquanto 0,9% viriam de “outros fatores, como falta de confiança na economia e a própria incerteza sobre a implementação do ajuste.”
Ora, falta de confiança na economia é, por obvio, em boa parte, de um cenário de retração econômica que faz parte da ideia do ajuste fiscal, porque este é, por definição, de natureza contracionista.
E incerteza sobre implementação do ajuste é resultado de dois fatores: a esdrúxula ideia de que era preciso esperar a “virada do ano” – e a consequente mudança do Congresso para adota-las e a crença – quase infantil – de que a oposição (crescentemente feroz) aceitaria regras de seu próprio receituário “por ideologia” e ou patriotismo.
Ninguém discute a necessidade de cortes nas despesas públicas e melhora no equilíbrio das contas públicas. Nem mesmo, até, que isso fosse representar sacrifícios.
Mas o fato é que o ajuste, até agora – e sem perspectivas de que isso mude rapidamente – só vingou na ponta das despesas e projetos governamentais, porque não se conseguiu implementar o pouco de mudança na tributação até agora proposto, aliás apenas uma reversão parcial das isenções e reduções de impostos dadas no primeiro governo Dilma, essencialmente.
Isolados de outras ações e intervenções no domínio econômico, os cortes em benefícios trabalhistas e previdenciários – e não há porque não dizer que alguns deles são moralizadores e vieram até tardiamente – tiveram, ao lado da elevação dos produtos de alimentação e das tarifas de energia elétrica, o poder de criar um pessimismo no consumo das famílias que se expande para todo o setor de bens de consumo.
Do lado da indústria de máquinas, equipamentos, construção e indústria privada, em geral, tome aumento de juros – outro “pé” do ajuste fiscal, regando o quadro de retração provocado por cortes de investimentos da Petrobras, temores da Lava Jato, ofensiva contra o BNDES e paralisação ou desaceleração das obras de infraestrutura e, então, temos a contração que “não é culpa do ajuste fiscal”.
Com todo o respeito, “ajuste fiscal” não é política econômica, mas apenas parte dela e vinculado a projetos e definições claras sobre para onde se quer chegar. E que o Estado brasileiro é a única instituição com força reitora para conduzir a estes rumos.
No resto, seu papel histórico tem sido o de amarrar a vaquinha da economia brasileira para que o capital financeiro, nacional e internacional, a ordenhe em seu próprio proveito.
O problema é que nossos economistas embebidos nos conceitos neoliberais acham que ter rumos é fazer o que “o mercado” quer, o que sempre quer: juros.
Que é, a rigor, o que ficou no “ajuste fiscal” afora o corte nas despesas públicas e nos gastos sociais.
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Nosso calo eh o sistema financeiro q quer mais, muito mais independentemente da situação financeira do país. Já passou da hora do sistema financeiro dar sua contribuição para a retomada do crescimento do pais. Renegociar essa dívida interna, esticando prazos e diminuindo os juros. Penalizar os investimentos especulativos com taxação progressiva em função do tempo de permanência dos investimentos. Premiar os investimentos de longo prazo, com taxação menor, principalmente as LTNs.. Priorizar e incentivar os investimentos na produção pra maximizar a produtividade( usar parte das reservas pra isso). Só deixar internalizar os dólares q sobrarem, depois de cumprir com os pagamentos externos, tipo royalties, equipamentos, matérias primas, etc, de forma a minimizar a especulação com a moeda. Acabar com o depósito compulsório diário dos bancos. O banco tem q ficar com muito dinheiro em caixa, na tendo onde especular, terão q baixar os juros reais, para encontrar tomadores de empréstimos ou vão ter que aplicar no setor produtivo. O resto eh enrolação q só leva o país pró buraco e enche os bolsos dos banqueiros.
Se fosse o Lula e o Mantega, em 6 meses eles botavam o País de volta nos trilhos. Esquerda burocrática e "contracionista", que consegue acabar com a utopia, é esquerda morta.
Tô fora dessa agenda neo liberal de ajuste,ajuste,ajuste pessimismo ficar nas cordas,o Brasil é muito grande xô agenda negativa...eu sou brasileiro otimista,nada vai me desanimar,xô!
Se toca governo,tem que ter um coração valente um governo novo,idéia nova,não
um governo derrotado somos o Brasil... Brasil um país onde pessoas do mundo inteiro vieram pra cá com esperança de um novo mundo,amo meu país...
Corretíssimo, caro Fernando Brito. Uma hora dessas vamos ter que discutir esse conceito de "mercado" que os economistas e colunistas e comentarista da mídia golpista falam como se estivessem fazendo reverência a um Deus. O mercado para o qual o governo dirige suas políticas é formado por não mais que duas mil famílias, contra milhões de outras - nós, os comuns dos mortais, que temos que suportar os cortes e confiscos para servir à minoria. O aumento de um por cento a mais nos juros representa bilhões de reais que são transferidos para os credores da dívida pública e para os banqueiros. Isso paralisa a economia, o mercado consumidor do povão, que é o conta em favor de todos. É este mercado consumidor interno que gera empregos, que alavanca a indústria nacional, que promove mobilidade social. Travar tudo isso em nome de um ajuste que tem como fim supostamente reduzir a inflação é o remédio que tem sido aplicado pelo FMI e os governos neoliberais nos últimos 30 anos, pelo menos. E todos nós sabemos aonde isso leva.
Fernando, a primeira pergunta a fazer é: o que é um economista?
Uma pista é: é um profissional cujo mercado de trabalho é, predominantemente, o sistema financeiro, e sem eufemismos, o grande cassino financeiro global.
É claro que todos jogam pra essa arquibancada, pois os cargos governamentais são provisórios.
Há exceções? Há, poucas, mas servem pra confirmar a regra, e não é o caso do "mãos de tesoura".
Não há exceção, ajuste para cima dos pobres...vai te catar plutocracia.
E o controle remoto? ah, nao era ele que ia resolver o problema da midia no Brasil. Ehen, dona Dilma...arrrrrrr
Boa, Brito !
Mais uma dose de realismo aos gênios de Brasília.
Bolaram um "ajuste" sem prospectar o futuro e, nem mesmo, o presente.
A economia sob ataque da máfia da lavajato objetivando derrubando empresas brasileiras que, pelo porte, só podem ser substituídas por não-nacionais.
Ergueram um véu, o combate à corrupção - extremamente necessário - para esconder os verdadeiros objetivos: atacar o governo e malhar quem o apoia.
Inegável diante da seletividade de vazamentos e indiciados.
Assim a economia, ainda carregando os erros do ano passado, tomou mais o tranco da lavajato e dos juros escandalosos, nefastos e desnecessários do BACEN.
Se eles reconhecem que a inflação é de alimentos e do realinhamento das tarifas como atacar isso com juros ?
Com o custo do juros o governo federal poderia fazer um realinhamento progressivo e oportuno, subsidiando as tarifas até o final do reajuste. Ainda pouparia o Tesouro de alguns bilhões, não puniria o trabalhador, sem aumento da dívida pública e não teria o desgaste político.
Qualquer dono de botequim sabe que reduzindo as entradas não tem como pagar dívida, ela só aumenta.
Mas isso é simples demais para o gênios. Há que confundir a platéia incauta para poder promover mais uma transferência da finança pública para os de sempre.
Volta mantega"deve mas paga,nao espreme o povo".