Se não tiver tempo para e ler hoje o ótimo texto de Ricardo Westin, da Agência Senado, marque a guarde para ler no final de semana. Chame a família para ver. Mostre aos amigos.
Está longe de se pretender um panfleto, porque narra serenamente fatos e transcreve fatos e opiniões sedimentados pelo tempo.
Mas é, porque traz fatos que, embora, infelizmente, esquecidos, saltam aos olhos em meio ao furor selvagem de transformar a lei em ferramenta de vingança ou, ainda pior, de demagogia com a dor de quem perdeu alguém vítima dos efeitos da tragédia social brasileira.
Ricardo reacende com alguns sustos históricos a nossa capacidade de pensar.
Relembra que, até 1922, a “maioridade penal” era aos 9 anos de idade, apenas. Ou, piedosamente, aos 14, se a autoridade julgasse que “obraram sem discernimento”.
E mesmo assim, nem sempre:
Em março de 1926, o Jornal do Brasil revelou a estarrecedora história do menino Bernardino, de 12 anos, que ganhava a vida nas ruas do Rio como engraxate. Ele foi preso por ter atirado tinta num cliente que se recusara a pagar pelo polimento das botinas. Nas quatro semanas que passou trancafiado numa cela com 20 adultos, Bernardino sofreu todo tipo de violência. Os repórteres do jornal encontraram o garoto na Santa Casa “em lastimável estado” e “no meio da mais viva indignação dos seus médicos”.
Em 1927 – 90 anos atrás, quase! – passamos aos 18 anos como idade penal.
O texto mostra o que estava diante dos menores pobres, àquela época, e não é possivel ver tantas diferenças com este século 21:
“Com o fim da escravidão, em 1888, os negros e suas famílias se viram abandonados de uma hora para a outra, elevando as estatísticas da pobreza. A ainda tímida industrialização atraía gente do campo, mas não conseguia absorver toda a mão de obra disponível. As cidades inchavam, e o desemprego e a criminalidade disparavam.
Às crianças e aos adolescentes restavam dois caminhos. Ou trabalhavam, submetidos a serviços pesados ou perigosos, jornadas exaustivas e pagamentos irrisórios. Trabalhadores imberbes eram vistos operando máquinas nas indústrias, vendendo bilhetes de loteria nas ruas e participando das colheitas nas fazendas.
Ou então perambulavam pelas ruas das cidades grandes, como Rio e São Paulo, agrupados em “maltas”, como se dizia, cometendo roubos, aplicando golpes, pedindo esmolas ou simplesmente vadiando.(…).
A proteção ao menor foi uma extensão natural da luta dos abolicionistas, como Lopes Trovão, em 1902…
— Temos uma pátria a reconstituir, uma nação a formar, um povo a fazer. Para empreender essa tarefa, que elemento mais dúctil e moldável a trabalhar do que a infância? São chegados os tempos de trabalharmos na infância a célula de uma mocidade melhor, a gênese de uma humanidade menos imperfeita.
E Alcindo Guanabara, em 1917 :
— São milhares de indivíduos que não recebem senão o mal e que não podem produzir senão o mal. Basta de hesitações! Precisamos salvar a infância abandonada e preservar ou regenerar a adolescência, que é delinquente por culpa da sociedade, para transformar essas vítimas do vício e do crime em elementos úteis à sociedade, em cidadãos prestantes, capazes de servi-la com o seu trabalho e de defendê-la com a sua vida.
Um século depois, a República está reduzida à barbárie de Eduardos Cunha e Magnos Malta.
Um horror histórico, que o trabalho de Ricardo Westin mostra com serena memória.
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A grande mídia, Eduardo Cunha e Cia. são uns tresloucados, querem resolver um problema tão complexo, com uma atitude tão banal, e não se resolve dessa forma, o Estado deixou a desejar quanto ao trato com nossas crianças, então fica difícil cobrar da meninada cidadania.
Herodes Cunha ainda tem a desfaçatez de marcar um dia para explicar seus projetos levianos tocados em tempo record (justamente para não serem debatidos nem pensados) em cadeia nacional, com nosso dinheiro. Não somos paneleiros, mas apostamos em aparelhos de TV desligados no horário de sua fala. Solicitaremos o relatório de audiência para cobrarmos dele o dinheiro que poderia ir para educação e reformas de presídio. E espalhar o vídeo em que Covas dizia que era contra a redução da maioridade. Naquele tempo.Esse homem definitivamente não tem nada a dizer para o Brasil, a não ser para os golpistas ressentidos.
e o sujeito tem o apoio dos evangelistas??? que religiosos são esses? ao menos poderiam repetir a quem se utilizam para arrancar(ou colher) dinheiro dos mais humildes, que disse "QUE VENHAM A MIM AS CRIANÇAS POIS TERÃO LUGAR CERTO NO REINO DE MEU PAI"
Que religiosos são esses? Nunca ouviu falar que as religiões são o principal motivo das guerras no mundo?
Pior é o "Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça por que eles serão saciados" Tá vendo essa turma de evangélicos seguir a biblia? Como sempre o que vale são as aparências ou seja decoreba de biblia e o "faça o que eu digo..." dos estelionatários dos pastores! Qual o motivo da adesão maciça dos pobres a esses vigaristas? É simples, falta de uma política eficiente de integração social dos governos progressistas. Para um pobre morador em favela desenraizado e sem convívio social a igreja, qualquer que seja, passa a ser o ponto de reunião e convívio social. Daí se aproveitam esses estelionatários para explorar os despossuídos. É uma chantagem até emocional. Os "fiéis" pagam não porque esperam alguma benesse divina mas porque querem manter a "igreja" funcionando para que possam ter algum convívio social. Essas bestas que se dizem progressistas não leem nada, ou melhor leem o globo e fica por isso mesmo. Não sabem que antes de qualquer fqculdade o homem é um animal social!
Brito.
Sugiro fortemente que você e os leitores deste blog gastem uns minutinhos lendo esta fantástica entrevista (Viomundo):
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/richard-duncan-a-bolha-chinesa-e-luta-desesperada-dos-banqueiros.html
Tem tudo a ver com a crise mundial e até com o post que você acaba de nos brindar.
Desculpe o trocadilho, que seria irônico se não fosse trágico, mas foi muito triste ter visto o senador Magno Malta, que tem uma bonita história de vida, circular feliz e lépido na sessão que aprovou de forma atropelada este projeto que manda estas "maltas" para o calabouço.
Bonita história de vida?
bonita história? desculpe, moço, mas quem vem do ES sabe um pouquinho da trajetória do tal cantor/pastor/parlamentar e, pode crer, é mais suja que poleiro.
Por favor, explique MUITO BEM EXPLICADO, que bonito é esse!
coloquei parte desse texto no meu facebook grato me dado o prazer de aumentar meu conhecimento
E ambos, Cunha e Malta, utilizam suas religiões como escudo para esparramar ódio e tristeza. Nada se constrói desta forma.
Lobos em pele de cordeiro a serviço, certamente, de alguém.
A questão não é reduzir a maioridade mas acolher com dignidade os menores que não têm vez e abrir oportunidades para eles. O caminho é penoso e longo mas não há outro.
Aqueles de índole má, raros conforme as estatísticas, deveriam ter tratamento diferenciado mas também em condições dignas e não na companhia de maiores já castigados pela vida.
Falta seriedade neste atual Congresso.
Muita incapacidade, desconhecimento, falta de cultura social mas, em compensação, sobra dinheiro, tráfico de influência, corrupção, principalmente daqueles que estão a chamar o golpe. Quem votou neles também tem responsabilidade.
Infelizmente são poucos os que se salvam.
O pior de tudo é que há muita gente que acredita e vota nesses trastes. Esses são os culpados, embora não tenham a menor idéia disso.
obrigado Fernando Brito. seus artigos são um primor para os que têm a alma/vida ligada aos avanços democráticos
O melhor remédio contra a criminalidade e a violência é a homogeneidade na sociedade.
Onde a sociedade é mais homogênea, é incrível, mas muito pouco presentes estão lá as irmãs, criminalidade e a violência.
Colocar jovens impulsivos na cadeia irá destiná-los à vida criminosa.
Este é um fato incontestável.
A justiça começa com a melhor distribuição de renda e não com a punição inconsequente.