Como o debate poderia mudar o jogo eleitoral, mas não vai

Sonhar não custa nada e, portanto, vai aqui um sonho que, como você verá, nada tem de absurdo e, antes, seria a postura mais inteligente que todos os candidatos deveriam adotar: deixar evidente no debate de hoje na Bandeirantes que repelem a atitude de um homem que preside um país com milhões de pessoas famintas, ou se alimentando de doações, ou comprando alimento de qualidade inferior para que suas famílias comerem é algo tão absurdo que, antes e acima de quaisquer diferenças políticas, ideológicas e mesmo programáticas.

Seria absurdo que mostrassem, em bloco, que não cabe na disputa política quem manifesta indiferença à vida e ao sofrimento humano como Jair Bolsonaro faz, repetidamente, desde negar o que está evidente em qualquer calçada das cidades até imitar gente que sufoca aos milhares durante a pandemia e que debocha de uma montanha de cadáveres? Não é difícil, menos ainda impossível, que pessoas diferentes politicamente se alinhem para dizer que não aceitam o extermínio em massa, seja pela doença, seja pela fome, e que ameaça e chantageia com o respeito às escolhas eleitorais da maioria dos brasileiros.

Uma ação coletiva que provocasse impacto sobre a candidatura Bolsonaro, que lhe tirasse 5 ou 10 pontos nas pesquisas, não reabriria o caminho para quem tem 7 ou 4% e está condenado a não sair daí ou até minguar diante da perspectiva de voto útil em Lula, que se apresenta como único capaz de vencê-lo, neste momento?

Mas, como disse, isso é apenas sonho, porque a maior parte da direita brasileira continua aferrada à ideia de que democracia não passa de um monopólio do poder pelos conservadores. Mesmo que para mantê-lo seja perpetuado um fascista, desumano e alguém que debocha do sofrimento dos brasileiros.

Teimou por mais de um ano com um tal Terceira Via que não poderia nunca acontecer sem que houvesse antes um pacto de rejeição à selvageria e continua resistindo – salvo lúcidas exceções – à ideia de que não haverá espaço para ela dentro da democracia enquanto uma força da escuridão, como é Bolsonaro, espalhar a cegueira no Brasil.

Se a elite brasileira tivesse sonhos, não precisaríamos ter de enfrentar um pesadelo.

Fernando Brito:
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