Como um país, uma seleção precisa de um líder

Ontem, perdoem a parcial ausência os amigos e amigas do blog, foi dia de Brasil na Copa.

Dia de fazer o que, de quatro em quatro anos, o garoto que ouviu pelo rádio a tristeza de 1966, com a eliminação do Brasil – bicampeão do mundo – já na primeira fase da Copa, mal consolado pelo gol de Rildo nos 3 a um a que Eusébio e Simões abateram o sonho do tri do menino que nascera na primeira taça, não sabia de nada na segunda, mas que  já cria, nas suas calças curtas, no tricampeonato afinal adiado.

E, vendo o jogo contra a Suíça, que está longe de ser um bicho-papão, viu o time desabar à primeira dificuldade, felizmente contra um time que não era, como a seleção alemã de 2014, capaz de se aproveitar do desmonte do time do Brasil.

Não, não, não falta futebol ao Brasil e só com muito contorcionismo mental se pode dizer que existe o “salto alto” dos “invencíveis da família Scolari” de quatro anos atrás.  O time é bom e seu técnico foi capaz de lhe dar um estilo veloz e agressivo.

O que nos falta, até agora, é um líder dentro de campo. Alguém que seja capaz não só de dançar na felicidade, mas de arrostar os infortúnios. Como o Didi, que carrega calmamente a bola de volta ao meio do campo depois de termos começado perdendo a decisão contra a Suécia, em 58. Como Carlos Alberto Torres e a “cacetada” dada no inglês Francis Lee, que havia acertado o goleiro Félix já no chão, depois que este defendera sua quase mortal cabeçada de “peixinho”, quando a Inglaterra dominava o nosso mais difícil jogo na  Copa de 70.

Porque futebol é uma mistura, claro, de talento e de personalidade.

O papel de líder teria tudo para ser de Neymar, mas sua estrutura psicológica, até agora, não se mostrou à altura de exercê-lo. Esteve ausente do jogo e se isso aconteceu por compreensível falta de condições físicas depois de três meses parado foi errado não deixar para lançá-lo no segundo tempo, seja para entrar com o jogo resolvido e adquirir ritmo, seja para chamar a responsabilidade de resolver uma “pedreira”.

A simplicidade do Neymar que surgiu garoto no time do Santos, porém, parece ter dado lugar a uma vaidade que se expressaria melhor na bola.

Exatamente o inverso do que se passou com Cristiano Ronaldo, o grande nome da Copa nesta primeira rodada. Apanhou tanto ou mais que Neymar, mas não se ausentou, chamou para si a responsabilidade, contagiou os companheiros e evitou a derrota de Portugal para a muito melhor Seleção Espanhola com seus três gols e a concentração de gelo polar que conseguiu ter na cobrança de uma falta que, claro, ele mesmo sofrera. Era, como todos já vimos algumas vezes, daquelas certezas que moldavam o inevitável.

O resultado do jogo brasileiro, em si, não foi um desastre, mas foi preocupante ver todos os jogadores repetindo, depois do jogo, um discurso ensaiado com o mesmo teor: “o gol suíço foi irregular, mas não cabia ficar comentando arbitragem”.

Nunca fomos campões com um time “politicamente correto”, frio, sem ganas. Nem seremos, trocando o espírito de vira-latas pelo de pavão.

As coletividades humanas, sejam um time de futebol ou uma nação, precisam de referências e de solidariedade, em porções generosamente iguais.

Fernando Brito:

View Comments (29)

  • Cristiano Ronaldo carregou o time de Portugal nas costas e arrancou o empate contra a Espanha; Neymídia não fez p_rra nenhuma e ajudou a Suíça a garantir o empate. Estes caras que vestem a camiseta dos manifestoches em campo estão mais preocupados com dinheiro, com o penteado, com mulher e em aparecer na mídia. Torci para a Suíça e vibrei muito com o gol de empate. É difícl, mas existe uma propabilidade muito pequena de que o brazil seja eliminado já primeira fase. Vou canalizar todo meu pensamento negativo nesta direção.

  • Esses jogadores da atual seleção não podem ser comparados a um Carlos Alberto ou a qualquer outro das seleções antigas. Porque eles não são mais brasileiros, vivem e jogam só no exterior ou estão esperando para serem vendidos ao exterior. Faturam alto em euros ou dólares, frequentam festas e baladas do jet set internacional, seus cortes de cabelo e seus casamentos e divórcios são noticiados em manchetes globais. Perderam há muito sua conexão com o povo brasileiro e se lixam uns para os outros porque não são companheiros de equipe mas apenas um catadão de celebridades endinheiradas. Como haver solidariedade ou referências?

    • No futebol tudo vira lenda, fantasia, depois que se sabe o campeão. Lembro que a seleção de 70 foi pra eliminatória com fama de covarde, frouxa, pipoqueira, ridícula se comparada à de 58. Quem levantou a moral foi Saldanha com a criação das feras.

      • A seleção de 70 foi a minha primeira. Acompanhei em detalhes e não seria possível chama-la de qualquer coisa pejorativa já a partir do primeiro jogo. Aquela partida contra a Inglaterra, então, foi antológica, nada comparável aconteceu antes ou depois. Mas cada partida era uma festa, independente do placar. Quanto à atual, confesso que o desempenho de ontem só manteve a minha opinião que já era negativa sobre esse grupinho de celebridades. E não foi por causa do empate, não. Resultado fraco é até normal que aconteça nessa primeira fase. Foi novamente (como já aconteceu pelo menos nas duas últimas copas) pela falta de garra, de empenho e de futebol.

  • Mais um palpite: a camisa da seleção brazileira era branca até 1950, já ouvi dizer que mudaram para amarelo para dissocia-la da imagem do fracasso, em casa, em pleno Maracanã lotado. Não sei se é verdade mesmo, mas a camiseta da cbf, definitivamente, está associada ao golpe de estado e a uma parcela da sociedade que composta por analfabetos políticos e por todo tipo de gente que não presta. A bandeira e o verde e amarelo também se associaram a isso. No fim, a própria seleção, cujo capitão fez até propaganda para aécio, se associou a toda esta desgraça que se abateu sobre o país. É como vidro: quebrou, não cola mais.

    • É verdade. Pra 2022 podia trocar pra verde e branco e também trocar pra outro fornecedor de camisas. A Nike tá associada à CBF que, por sua vez, está associada aos tucanos paulistas amigos do ex presidente da entidade. Tanto que Dória foi ao Chile com a Seleção pouco antes de se tornar prefake de São Paulo.

      • Eu acho que para a minha geração, nem "pintada de ouro" a seleção da cbf voltará a exercer o mesmo interesse ou encanto. Se o futebol teve sua importância no combate ao complexo de vira-lata com a conquista da Copa de 58, agora teve sua parte de culpa em destruir o tal orgulho de ser brazileiro.

        • Nobel de Química vai para a dupla Globo/Judiciário pela transformação do amarelo ouro em merda.

  • Ontem o juizeco torceu pro Credit Suisse contra o Brasil. Hoje ele vai assistir e torcer pro Panamá Papers contra a Bélgica.

    Depois de Mônaco, ficou fã dessas seleções.

  • Brito, também parei pra ver o jogo com a molecada. Apesar do cenário político, não vou me enganar dizendo que torcerei contra, pois, na hora do vamos ver, torço pelo Brasil. Mas não como antes. Agora são 90min de paixão. 5min para voltar a racionalizar e pronto: de volta à realidade. Torço pela nossa seleção, porque não consigo não torcer, mas não admiro ninguém daquele elenco. Somente a inteligência do Tite, com relação ao aspecto de psicologia social e a forma como sabe lidar com cada valor dentro da equipe. Talvez por isso essa seleção chegue longe. Mas não dá pra admirar pessoas, cuja vaidade pessoal está acima de sua responsabilidade como ídolos de crianças. Não são exemplos de caráter. São apenas de dedicação e habilidade. Só. E de olho no próprio umbigo, como a maioria coxinha do povo brasileiro: farinha pouca, meu pirão primeiro.

    Obs.: Falando no brasileiro, viram que vergonha alheia que estes canalhas coxinhas fizeram-nos passar na Rússia? https://www.metropoles.com/brasil/ex-secretario-flagrado-em-video-machista-foi-condenado-no-tce-pe

    • Gurgel, sem querer discordar do seu texto, quero lembrar que Pelé é um tremendo mau-caráter, mas foi um excelente jogador. Acho triste que faltem tanto bons exemplos aos jovens a ponto de terem de se espelhar em jogadores de futebol. Mais: eu diria que sequer são exemplos de dedicação, pois, nem treinar direito treinam!

      Sobre os coxinhas aí da notícia, sim, é vergonhoso!

      • Nossos esportistas, na maioria das vezes, são omissos fora de campo, com raras exceções (Reinaldo, Sócrates e Juninho Pernambucano agora). Dedicação o esporte hoje em dia exige sim. Não há mais espaço para bebedeira e festas, pois todos tem que correr em campo (e muito), tanto que não existe mais o clássico nº 9, paradão. Pode até ir pra festas, mas vai ter que ficar abstêmio ao máximo, senão o bicho pega.
        Enquanto a preocupação com o jabá, com a cor da chuteira, cor do cabelo, com o penteado, em tirar selfie, for maior do que com a concentração em ganhar e ganhar pelo país e não para o próprio bolso, essa seleção não será campeã de NADA. Por mais que corra e tenha competência técnica, não tem habilidade humana (QE).

    • Fiquei até com dó do meu neto de oito anos de idade. Estava todo animado, foi praticamente sua primeira copa do mundo (ele costuma ir aos estádios aqui com o pai, assistir a alguns jogos importantes de seu time), então tinha criado toda uma expectativa. Assistiu durante algum tempo, depois cansou e foi brincar de outra coisa porque estava muito chatoooo...

  • O´ÚNICO MÉRITO QUE VEJO NA COPA DO MUNDO É O FATO POLÍTICO DE EXACERBAR O PRIMITIVO SENTIMENTO NACIONALISTA ( O QUE ACHO UMA BOBAGEM) VISTO A OPÇÃO QUE HOJE EXISTE A ISSO ,O PODER DAS CORPORAÇÕES POR CIMA DAS NAÇÕES,(champions league é o seu produto mais qualificado falando de futebol).
    O FUTEBOL SÓ SERVE PRA ANESTESIAR AS PESSOAS ,NADA MUDOU NA VIDA DO BRASILEIRO COM SEUS "5 TÍTULOS MUNDIAIS" , E SE MUDOU FOI PRA PIOR.
    MISTURAR FUTEBOL E NAÇÃO E ALIENANTE ,PROGRESSO ECONÔMICO,INDEPENDÊNCIA POLÍTICA,IGUALDADE SOCIAL -ISSO É NACIONALISMO DE VERDADE-

  • Perfeito !! Lideres e identificação com o país, coisa que se inverteu completamente de 1966 pra cá !! Lembro que Amarildo que jogava fora, foi convocado pra compror a seleção de 1966 !! A torcida torceu o nariz, era "estrangeiro". Bastou uma pisada na bola em um amistoso da seleção no Maracanã pra não ser mais convocado ! Havia rigor na qualidade técnica, em graus que dependia da posição em campo, e, rigor na entrega à seleção !!

  • Neymar jogou 50% pensando no jogo e 50% preocupado com o que aconteceria com seu cabelo!
    Ele não conseguiu pensar futebol!

  • Discordo completamente. Neymar (26 anos) apanhou muito mais do que Ronaldo (33 anos), e logicamente não tem a experiência do português. Ronaldo é menos vaidoso do que Neymar ? Então tá.
    Quer dizer que se fosse a Alemanha, levaríamos uma surra né ? Então tá. Aliás a Alemanha mostrou que é genial mesmo, na primeira rodada. Assim como o Messi foi brilhante.
    O mais deplorável é vermos na rede, tantos memes ridicularizando Neymar, de cunho claramente racista. Parte da esquerda resolveu reviver o "não vai ter copa", com um tipo de "não vai ter seleção".

    • Melhor complexo de vira latas do que o complexo de pavão que atinge a atual selecinha. E se apanhar fosse motivo para deixar de jogar (o que não é, Pelé, Rivelino, Maradona, Tostão e dezenas de outros comprovam), o técnico deveria escalar o pavãozinho calopsita só para o final do jogo, quando fosse possível ele jogar ao menos um pouco sem chorar de dorzinha nas pernocas frágeis. Para completar, pelo pouco que entendo de futebol: se o rapaz decidisse jogar pra valer em vez de ficar segurando a bola em seus maravilhosos pés bilionários, será que apanharia tanto assim?

      • Concordo com você, cousinelizabeth.
        Se quiser ganhar alguma coisa, Tite, como bom psicólogo nato, terá trabalho para chamar o grupo para trabalhar como equipe novamente. Parece que a sequência de vitórias nos amistosos e eliminatórias subiu à cabeça. Nesse sentido, foi até bom tropeçar na Credit Suisse do juizeco de curitiba.
        Lembro sempre do diabo: "vaidade é meu pecado favorito". Neymar tem muito que se esforçar pra praticar a humildade. Com selfies, escovas e piadinhas não ganhará uma copa.
        Falta competência atitudinal. Em 70, Carlos Alberto precisou dar uma no inglês pra respeitarem o time brasileiro, que estava apanhando. Pelé também não era nada cai cai chorão. Quando preciso, se impunha com rigor (deu uma no uruguaio). Se for depender só de juiz apitar bem e não se impuser em campo em atitude (que não apenas de habilidade), não será campeão.
        Aliás, o PT sabe muito bem que, se for depender apenas dos juízes e bancar de bom moço, acaba só se lascando, certo?! Cansei de ouvir a frase "vamos confiar nas instituições" e nada fazer a respeito do arbítrio.

    • É, eu também não gosto do Neymar, mas racismo é inaceitável! Impressionante como, nessas horas, o senso de "classe média, branca, privilegiada" bate mais forte do que qualquer ideologia de esquerda.

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