Conselho “reprova” 60% dos formandos em medicina. Mas não eram os estrangeiros os incapazes?

Saíram os resultados do exame de suficiência aplicado pelo Conselho de Medicina de São Paulo.

59,2% dos mais de 2.843 médicos formandos foram reprovados por não terem atingido 60% de acertos nas questões oferecidas, resultado pior do que o de 2012, quando 54,5% não atingiram o índice esperado.

Pediatria foi a área de pior desempenho: a média não atingiu mais que 47% de acertos entre os médicos formados em São Paulo.

Boa parte das questões pediátricas foram as de pior índice de acerto:

Transcrevo, sem alterações, o documento do próprio Cremesp:

“Questões que tiveram baixa proporção de acertos podem revelar a falta de conhecimento dos participantes na solução de eventos frequentes no cotidiano da prática médica. Muitos daqueles que participaram do Exame do Cremesp de
2013 demonstraram desconhecer o diagnóstico ou tratamento adequado de situações comuns e problemas de saúde frequentes, como pneumonia, tuberculose,hipertensão, atendimento em pronto-socorro, dentre outros. A seguir, alguns exemplos de questões com alto índice de erro:

  • 71% erraram qual é o ganho ponderal (em kg); crescimento de perímetro encefálico e de comprimento (ambos em cm) esperados em criança no primeiro e no segundo ano de vida: primeiro ano (7 kg; 12 cm. e 25 a 30 cm) e segundo ano(2,5 Kg; 2cm e 10 a 12 cm).
  • 67% erraram, no atendimento a menino de 8 anos, qual é o agente causador de tosse gradualmente progressiva num período de duas semanas: Mycoplasma pneumoniae.
  • 68% erraram o fato de que a bronquiolite tem seu pico de incidência em crianças entre 3 e 6 meses de idade.
  • 67% não souberam afirmar que o grau de redução da pressão arterial é o principal fator determinante na diminuição do risco cardiovascular em paciente hipertenso.

Nenhum destes médicos deixará de ter o registro concedido pelo Conselho.

Muitas de suas deficiências serão supridas na residência médica, pela prática  e pelo tempo.

Mas existe uma que, infelizmente, não foi medida na prova e não vai ser corrigida, ao contrário, tende a piorar.

O desinteresse pelo paciente e o mercantilismo com que se observa a saúde.

O resultado do exame do Cremesp não é razão para debochar ou desmerecer estes médicos, dos quais o país e as pessoas precisam.

É razão, sim, para olharmos o que está se tornando a medicina.

Quando os dirigentes da categoria parecem mais assustados com a chegada de médicos para atender pessoas que estão abandonadas e às quais os médicos brasileiros – nem mesmo os novos, recém formados – querem ir atender do que com mais da metade dos formandos não saber que reduzir a pressão arterial diminui o risco cardíaco num hipertenso, há algo muito mais sério que esta surpreendente ignorância.

Porque a ignorância se supre, com esforço. Um esforço que muito raramente vemos existir, infelizmente.

Mas a indiferença, o mercantilismo e a desumanidade, nem com muito esforço.

Fernando Brito:

View Comments (19)

  • Tudo que não é dado, está perdido. Este provérbio Indiano diz muito sobre como podemos transformar nossa atitude em todos os sentidos.
    Ter sentimento humanitário nas ações médicas é dar compaixão com o próximo.
    Se os formadores não colocarem o humano antes do dinheiro, tudo estará perdido. Transformar a medicina em meio de ascensão social buscando riqueza é deformar o mérito da profissão.

  • Que moral estes coxinhas de jaleco branco tem para criticar o programa "Mais Médicos"?
    São estes que futuramente irão medicar erroneamente, matando o paciente ou inutilizando-o por toda a vida.
    E agora CRM?
    Que atitude vais tomar?
    Isso tudo é resultado da falta de talento e desinteresse por parte de quem vai fazer medicina.
    aliás, nas universidades brasileiras o que mais interessa aos discentes é o título e o certificado ou diploma.
    O conhecimento fica em último plano.

  • "O resultado do exame do Cremesp não é razão para debochar ou desmerecer estes médicos..."

    Tem razão, Fernando, é razão apenas para temê-los.

  • Em universidades onde os barzinhos da esquina ficam mais cheios que a sala de aula dá nisso! Fora as lanchonetes...

    • Luiz Rogerio, você critica sem saber.
      Pelo que sei, o bar que mais vende cerveja em toda america latina chama-se Mac-Fil, e fica entre o a Universidade Mackenzie (que não possui curso de Medicina) e a antiga Faculdade de Filosofia da USP.
      Também ignora o fato de que a graduação em Medicina exige, em sua etapa final e antes do diploma, o mínimo de um ano e meio de estagio obrigatório comprovado e não-remunerado em hospitais, maternidades, clínicas, ambulatórios e postos de saúde. A maioria das próprias Universidades estabelecem dois anos desse estágio chamado "internato", e cuja ausência implica em reprovação automática do aluno. Então é bem mais provável você encontrar das 8 às 17h um acadêmico de medicina nalgum desses estágios do que no bar mais próximo.

    • O Revalida é um exame feito para que o examinado NÃO passe, tamanho o corporativismo dessa classe. Diferente do exame do Cremesp, que é facim, facim...

      • Tina, pode citar as fontes?
        Suponho que você já tenha analisado por inteiro ambas as provas, do Revalida e do CREMESP, durante pelo menos os últimos cinco anos para estabelecer esse julgamento.

        Aliás, creio que para dizer que o exame do CREMESP é facil, imagino também que já tenha se submetido a ele e obtido nota excelente, então também aguardo aqui uma foto do seu boletim.

  • Acho que este exame deveria ser aplicado também naqueles médicos do Ceará que recepcionaram os médicos cubanos daquela forma tao agressiva e imoral.
    Medicina, além de conhecimento técnico que a maioria deles tem muito pouco,é uma questao humanitária, e a falta dela dói demais!

    José Emílio Guedes Lages-Belo Horizonte

  • O problema está nas pessoas, que gostam da preguiça.

    Escutam algo e acreditam, têm preguiça de pensar.

    Assim, posso falar qualquer coisa, mesmo sem lastro fático.

  • Já que não perderão o CRM, o CFM deveria ser obrigado a publicar a lista dos reprovados, para que não corramos o risco de sermos atendidos por esses ineptos.

  • O curioso nessa história é que as faculdades públicas principais do estado boicotaram esse teste porque não concordam com a forma de avaliação, que é bem semelhante ao Revalida. Nos olhos dos cubanos é refresco, né?

  • No Brasil a grande maioria dos estudantes de medicina se formam para ser fazendeiros.
    As escolas particulares de medicina que cobram mensalidades de até 9 mil reais não tem formação humanitária e só mercantiliza a medicina.
    Essa reprovação de mais 60% é no Estado de São Paulo, onde tem as melhores escolas do país, imaginemos o resto, é mesmo o resto.

Related Post