A matéria publicada hoje na Folha sobre as isenções fiscais concedidas pelo Governo brasileiro trazem à tona a hipocrisia da mídia e dos grupos que exigem a redução da carga tributária e o corte dos gastos públicos sem dizer a quem isso prejudicaria.
São os aplicadores do “conto do vigário” aos quais a Presidenta Dilma se referiu na quinta-feira.
Olhem aí ao lado a extensa lista de isenções fiscais concedidas pelo governo.
Dá uma vez e meia tudo o que se espera ter como superavit nas contas governamentais.
Onde é que o amigo cortaria estes benefícios?
Ou nos abatimentos de Imposto de Renda concedidos por despesas médicas? Mesmo sabendo que há distorções que pagam cirurgias plásticas supérfluas e que a isenção abrange quem pode, sem qualquer dificuldade, pagar por serviços médicos, o fim do abatimento – ou sua limitação – seria recebido como?
Ou o fim da desoneração para a agricultura e o agronegócio, mesmo que poupasse os pequenos, não ia ser o abominável “custo Brasil” para um dos motores de nossa economia? Na Zona Franca, onde um corte, mesmo progressivo, ajudaria a tirar dali e deixar no exterior atividades de montagem e finalização de produtos de alta vendagem, como motocicletas e celulares?
Claro que todos estes setores poderiam ser cortados por um governo irresponsável.Ou as isenções a medicamentos, à pesquisa científica, ao Prouni, ao “Minha Casa, Minha Vida”?
Dali, porém, salta aos olhos um corte que seria justíssimo, mas ia fazer a mídia subir pelas paredes: as isenções dadas pelos horários eleitorais gratuitos…Afinal, as rádios e TVs não são concessões públicas? Concessionários de qualquer serviço público não têm de pagar pelas concessões? E eles, que não pagam, ainda ganham por umas míseras horinhas cedidas por ano? E nem prejuízo têm, porque os comerciais continuam a ser exibidos, pelo mesmo preço, apenas um tico mais tarde… R$ 296 milhões é dinheiro, não é?
O fato é que só existe mesmo um corte de gastos públicos que eles – os que os pedem – não toleram de forma alguma.
É o corte dos juros pagos pela dívida pública, aqueles que o Banco Central define quando estabelece a Taxa Selic.
São – descontadas as emissões de novos títulos para pagar os encargos da dívida – perto de R$ 300 bilhões por ano.
Uma dívida obscura, cujos credores rentistas são obscuros – sob a alegação de sigilo bancário, não se pode saber quem detém estes papéis – e com critérios de remuneração obscuros por que – embora o Banco Central devesse, como representante do Estado, trabalhar sempre pela baixa dos juros – acabam prevalecendo critérios “psicológicos” para elevar as taxas.
Por “psicológicos”, leia-se a pressão da mídia e do mercado financeiro.
Mas mexer aí, não mesmo!
Mexa-se no “de comer”, na escola das crianças, no do remédio, na isenções para reduzir a passagem de quem vai trabalhar. Aí sim, nesses populismos como o Bolsa Família, o acesso subsidiado à moradia, essa besteira de ajudar pobre a comprar geladeira ou fogão, isso é supérfluo e eleitoreiro.
Não no dos juros! Este é sagrado, é do agiota, nosso deus e salvador.
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A guerra real meu caro Fernando Brito é a da informação. Não se trata de existir ou não crise, de existir ou não um problema real, mas de manipular mentes para agirem de acordo com os interesses dessa elite midiática.
Perfeito, caro Fernando Brito.