Cynara: “atitude muito corajosa de Jô Soares”

Jô Soares, o cara na Globo que gosta da Dilma

Por Cynara Menezes, Socialista Morena

O ar désolé de William Waack ao anunciar a próxima atração era uma pista para o que viria a seguir: o apresentador Jô Soares em um encontro para lá de amistoso com a presidente Dilma Rousseff no palácio da Alvorada. E “o gordo” já começou dizendo a que vinha: fazer uma entrevista-desagravo à presidente, que está sendo alvo, disse, de uma campanha “absurda” por parte de gente que não se conforma com o resultado da eleição.

“Eu comecei a ter uma reputação de petista fanático porque saí em sua defesa quando começou aquela onda absurda, louca, de ‘fora Dilma’. A pessoa não acredita muito que na democracia, quando a pessoa é eleita, tem que se respeitar o voto. Saí em sua defesa, não que você precisasse, mas tem certas coisas que me deixam indignado”, comentou Jô. Ou seja, o apresentador global deixou patente que vê as manifestações como choro de perdedor. Uau.

Jornalisticamente, é preciso que diga, a entrevista não foi lá essas coisas. Uma entrevista rende muito mais quando se faz um bom número de perguntas ao entrevistado (não necessariamente ardilosas), sem deixá-lo falar tanto. Quanto maior a variedade de temas, mais variada, claro, fica a entrevista. Faltaram vários temas, em minha opinião, principalmente provocações sobre a relação entre Dilma e os detentores do poder no Congresso, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o presidente do Senado, Renan Calheiros. Jô só tocou no nome deles en passant, e para criticá-los.

Mas há dois pontos a se levar em consideração: o primeiro é que Jô Soares não é jornalista e sim um entertainer – que tem, atenção, a “permissão” de se posicionar politicamente, ao contrário dos jornalistas, nos meios tradicionais. O segundo é que o objetivo dele com a entrevista não era colocar Dilma na parede, coisa que vimos à exaustão toda vez que ela apareceu diante das câmeras respondendo a jornalistas brasileiros –no Jornal Nacional, então, nem se fala. O objetivo de Jô era mostrar como Dilma pensa e como quer governar o País. E, neste aspecto, é possível dizer que foi a primeira entrevista que a presidente deu desde que se elegeu em 2010 em que pôde fazer isso. Todas as entrevistas de Dilma no Brasil tinham ar de duelo, normalmente concedidas no calor de uma campanha eleitoral.

Jô Soares, ao contrário, levantou a bola para Dilma cortar em praticamente todas as perguntas. À vontade, sem ser interrompida, a presidente, mesmo com a prolixidade habitual, pôde explicar o que tem feito e quais são suas metas para os próximos quatro anos. E, diferentemente da Dilma “marionete” de Lula que pintam, sobressaiu uma governante segura do que tem na cabeça. Para exasperação de seus opositores, Dilma transmitiu uma imagem de mulher extremamente preparada para o cargo. Quer você goste dela ou não, ficou bastante óbvio que ela não está ali por acaso e sabe exatamente o que está fazendo. Se você não concorda com o que ela está fazendo (e aqui incluo a esquerda que votou nela) é outra história, mas que ela tem a coisa clara na cabeça, tem.

A entrevista de Dilma Rousseff ao Jô foi praticamente um anti-panelaço: contra os que quiseram calar a presidente pelo grito, o entrevistador mais famoso do Brasil lhe ofereceu voz. Elogiou seu gosto pela leitura, mostrou-se admirador de sua passagem pela luta armada durante a ditadura e não disfarçou sua confiança no projeto de governo dela. Jô gosta muito de Dilma, simpatiza com a pessoa dela, isso ficou evidente. O recado foi dado à emissora onde trabalha: “Vocês não gostam dela, mas eu gosto e vão ter que me engolir”. Aos 77 anos de idade e 54 anos de carreira, Jô Soares pode fazer isso. Para culminar, terminou a entrevista com um galanteio hilário à presidente em pleno dia dos namorados, antes de beijar sua mão: “Foi bom para você também?” E foi bem isso mesmo, um “beija-mão”. Jô estava ali para ser um gentleman com Dilma.

Na manhã seguinte à entrevista, as redes sociais estavam ouriçadas. Os “defensores da liberdade de expressão” de costume atacavam Jô Soares sem o menor respeito. “Fim de carreira”, “sem caráter”, “sempre foi fraco”, além dos xingamentos impublicáveis característicos ao grupo. Não poderiam faltar as acusações de que Jô “recebe dinheiro” do PT: a captação pela Lei Rouanet para a montagem da peça Troilo e Cressida, de Shakespeare, foi transformada imediatamente em suborno. Gente capaz de vender sua ideologia por 30 dinheiros acha que todo mundo faz o mesmo.

Pois eu achei uma atitude muito corajosa de Jô Soares de fazer este desagravo a Dilma, ainda mais em plena TV Globo, emissora que integra a oposição midiática ao PT e a seu governo. Jô demonstrou que não está disposto a abrir mão de suas convicções, ainda que isto lhe resulte em seu linchamento por parte de gente que aprova linchamentos. Coragem é sempre algo admirável em um personagem público.

Assista à íntegra da entrevista clicando aqui.

Fernando Brito:

View Comments (42)

  • Bom dia,

    o problema é a falta de resposta a cada ataque efetuado a Dilma e ao PT ao longo desses 6 anos. Os dois tornaram-se refém de meia dúzia de bandidos que apropriou do Brasil.

    • Quem nos aprisionou, continua batendo a cabeça na parede todos os dias.
      Eles estão com dor de cabeça.
      Ela falou dos Catarinas, servi no BPEB em 1978..e no PIC..mas não vi ela..
      Se a tivesse visto, a libertaria com armas em punho..
      E não tinha olhos azuis..

  • É bom lembrar que Jô é apenas mais um empregado que bate-ponto na Globo. Nada sai na telinha sem a autorização de seus diretores e por sua vez, os donos Marinhos.

    • Concordo plenamente com suas palavras.
      E é claro que houve transação comercial nesse pacote de aparição 'amistosa' da impopular e vaiada presidenta.
      Mas o pacote que reconstrução da sua imagem, arranhada pela própria Globo, já começou ontem à noite.
      A próxima aparição vai ser no programa de Ana Maria Braga em que Dilma será entrevistada pelo Louro José, dançar um funk coma Fátima. Depois Luciano Hulk e seu Caldeirão, uma ponta em Chapa Quente, um elogio disfarçado de Jabor, um sorriso do Bonner, uma piscadela do Waack... talvez até no Globo Rural...ou se tivesse, o mais apropriado, Linha Direta: Cadê o dinheiro que estava aqui?
      Outras emissoras choraram, mais menor audiência menor o jabá.

      • Eu acho que o Jô Soares foi honesto na entrevista. Acho que a Globo não censurou a entrevista ou quis manipulá-la porque senão ele colocaria a boca no trombone. Ele tem 77 anos deve está chutando o balde.

  • mas eu não esqueço o tempo de massacre ao Lula com o gordo e suas meninas, as "reaças do Jô".

    • Nem eu, e as vezes em que na companhia de "ex-progressistas" como os atores Carlos Verezza e Estephan Nercessian, desceu o pau no Lula e no PT. Foram 12 anos de cinismo, desinformação e má vontade para com eles. Não... esse cara não me convence.

  • Jô Soares é empregado que bate-ponto da Globo. Qualquer coisa nela transmitida é sob ordens de seus diretores, logo, dos seus donos, a família Marinho.
    Não existe almoço grátis. Bom para Dilma que fugiu do panelaço, também madrugada a galera tava dormindo ou namorando. Melhor para a Globo, que para a 'decepção' não vai mostrar o darf, e, vai garfar talvez mais um empréstimo do BNDES.
    Já o 'João', gagá, tem é que fazer o que seus patrões mandarem e ponto final.

  • É isso aí. Mesmo quem não concorda politicamente com Dilma, deveria ao menos respeitá-la como presidente e mulher forte que é. Mas é pedir demais para gente que odeia o Brasil e os brasileiros...

  • Dilma terminará o mandato credenciada a suceder o Lula depois de 2018, quem conduziu a economia Brasileira, onde a maioria dos países Europeus entrou em recessão e desemprego com a pior crise dos últimos 50 anos, aumentando o salario mínimo acima da inflação e não permitindo o desemprego tem todas as condições de superar as dificuldades momentâneas, já para o segundo semestre a economia começará a crescer como já adiantou o Levy.

  • Acho que o Gordo deveria pedir contas dessa bosta fétida RGROUBO e partir para um canal(Record por exemplo) e ter um programa independente (de quem quer que seja para dar pitaco nas suas entrevistas) e entrevistar quem ele quisesse e falar sobre o qud bem entendesse.... Nesse vaso sanitario que ele está certamente é manipulado. Já empurraram ele madrugada a dentro pra ninguem ver mesmo... Sai daí Gordinho..!!!!

  • Como se tu soubesse de coisas que nos nao sabemos,por que coxinhss sao miolo mole ?sera que facismo tambem destroi neuronios ou e so a droga???

  • O Jô, ultimamente, se esqueceu do TEATRO...

    HUMANA PROFECIA
    by Ramiro Conceição

    Em tempos terríveis,
    quando a herança é o medo,
    é bom acender uma fogueira
    para que todos se aqueçam;
    assim, talvez,
    poucos bêbados alumiem-se
    com palavras de entusiasmo – e êxtase!
    Porque a vida
    para alguma coisa celestina se destina.
    Viemos de estrelas, para lá retornaremos.
    Eis a humana profecia: do pó – à poesia!

    TROCADILHO
    by Ramiro Conceição

    Se possível, porventura,
    que eu não vire um maluco,
    mas… um caduco… meigo;
    então, quando vier a senhora sombria
    que não tolera zombaria, que perdure,
    ainda que breve, o meu artista
    que cuidou da chama… desse trocadilho
    entre alma e lama, pois o belo não é ilha:
    não se compra, não se vende, se partilha.

    MOQUECA
    by Ramiro Conceição

    Não sou vermelho, branco, preto ou amarelo.
    Muito menos mulçumano, judeu ou cristão.
    Não cuspo no chão. Santo? Não sou não!
    Sim, tenho o estranho hábito de enterrar
    e desenterrar os ossos do nosso desatino
    e com carinho planto girassóis no quintal.
    Sim, sou um cachorrinho,
    um quase canibal, um misto de coveiro,
    jardineiro e cozinheiro que faz uma moqueca
    de estrelas aos convidados – à mesa principal.

    NENÊ DO PEIXE-BOI
    by Ramiro Conceição

    Quando o nenê
    do peixe-boi nasce,
    a mãe,
    a peixe-mulher,
    o leva à superfície
    para respirar…
    E depois desce.

    No silêncio,
    por sete dias
    sem descanso,
    por não ser Deus,
    a mãe vê o seu nenê
    aprender a sua parte.

    Ora,
    não faz a mesma coisa a arte
    com seu nenê de 30000 anos?

    POEMA QUÂNTICO
    by Ramiro Conceição

    Ser um assassino;
    um gênio; uma besta cúbica;
    milhões de átomos; um animal;
    um planeta; uma galáxia;
    esta ou aquela verdade:
    tudo - é probabilidade.

    Se da lama foi possível a alma
    num jogo aleatório de traumas,
    então por que da incerteza bruta
    não ser uma inteligência culta?

    Nunca se está doente enquanto se sonha.
    Sonhar é ser a beleza abrupta da acácia
    que nasceu na feia cidade, com audácia.

    Agora que penso-sinto tudo
    viverei lúcido até o paradoxal
    porque se aproxima a queda
    do fruto maduro: o segundo
    segundo - mais curto

      • Grato, Mário…

        Complementando o comentário anterior… Sempre tive uma profunda admiração pelo Jô, por sua competência, por sua criatividade, por representar uma chama esperançosa à cultura brasileira, principalmente durante o tempo mais sombrio de nossa história, no qual eu era apenas um menino.

        Todavia nos últimos 10 anos, aproximadamente, o seu programa começou a evidenciar, em minha opinião, um viés conservador; isto é, um produto destinado apenas ao entretenimento, alienante, tão comum à televisão aberta brasileira.

        Mas não ficou só por aí. O quadro “Meninas do Jô”, sem dúvida, foi, e tem sido, uma das coisas mais reacionárias da telinha: um verdadeiro fuxico a céu aberto; um esgoto à direita; uma pretensa discussão política na qual o lado a favorecer é escolhido a priori, sem qualquer chance ao contraponto; em duas palavras: uma vileza!

        Nos últimos 5 anos, a entrevista que mais me estarreceu foi aquela do ator Carlos Vereza (por quem - que fique claro! - tenho profunda admiração artística). A referida entrevista ocorreu, creio, em 2010. Ali, foi a primeira vez que vi estampado, sem qualquer maquiagem, algo, que à primeira vista não consegui claramente decifrar, contra Lula e o PT… Por ser um excepcional ator e, consequentemente, por possuir o domínio da palavra em público, a maneira pela qual Vereza pronunciou “A P E D E U T A”… deixou-me calado, na alma, por vários dias… O que era aquilo? Quando percebi o abissal significado daquele “A P E D E U T A”, fiquei petrificado… Sim… Era um ódio… Um rancor - sem qualquer escrúpulo - público (novamente, que fique bem claro: minha admiração pelo Vereza não diminuiu, pois tenho plena consciência que um verdadeiro artista é uma antena de seu povo; portanto, considerei a tal entrevista como um sintoma de uma doença causada pelo próprio PT e que terá de ser curada, dentro do possível, no segundo governo Dilma).

        Creio que não se precise desenhar: aquele sintoma, contido naquela simples entrevista e, concomitantemente, alimentado, antes e depois, de forma complexa por todos os pistoleiros e pistoleiras, do PiG, culminou em um paroxismo alienante, poucas vezes visto na história brasileira: o desbunde das passeatas de junho de 2013 e aqueles outros, mais recentes, associados aos jumentos-coxinhas-selvagens que, sem qualquer escrúpulo, cacarejaram em praças públicas a volta da ditadura.

        Voltando ao Jô. Recentemente, o Gordo deixou às claras a colossal mediocridade da oposição que até hoje não aceita a fragorosa derrota sofrida na urnas. Portanto, concordo com o Brito: foi um ato de coragem… Espero que continue: por exemplo, que tal entrevistar, com contraponto, personagens associados ao escândalo da FIFA… Será que o Kamel deixa? Será que o Jô terá coragem, se proibido, de denunciar em público a patifaria da Globo?

        Sabe o que eu acho? O Jô não precisa da Globo!!!!!… Esta foi a razão do preâmbulo do meu comentário… De Fato, por tudo que conquistou, Jô faz muita falta ao TEATRO (e o Vereza… Também!).

  • E coragem é exatamente o que mais anda em falta na vida pública do nosso país...

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