Dâmocles e Marina

Talvez você conheça a expressão “espada de Dâmocles”, ou mesmo a lenda que a consagrou, espalhada ao mundo nos escritos de Marcos Túlio Cícero.

O tal Dâmocles era uma figura menor da corte de Dionísio de Siracusa, que lhe invejava o poder. Dâmocles  ansiava o poder e tanto o quis que a ele Dionísio deu-o por um dia , com todos os seus luxos: divã suntuoso, escravos, mulheres deslumbrantes, efebos (calma, Feliciano!), manjares deliciosos e um pequeno detalhe do qual Dâmocles  só algum tempo depois se apercebeu.

É que Dionísio havia mandado que se pusesse uma pesada e afiada espada apontada diretamente sobre a cabeça do divã onde se estirou Dâmocles para fruir dos prazeres,  sustentada apenas por um único fio de rabo de cavalo.

A espada que pende sobre a cabeça de Marina Silva é muito semelhante: a mídia.

Ela, como por Dionísio a Dâmocles, pela mídia foi colocada onde está.

É verdade que, como poucos, Marina sabe cavalgar as oportunidades: o PT e Lula, o “verdismo” e, quando frustrada, por sua incapacidade de agregar, a Rede, aderir com firmeza às ambições de Eduardo Campos e emprestar-lhe, em troca, o discurso de uma “nova política” que jamais praticara.

Campos era um inegável talento político, mas habitava, sem dúvidas, um cenário mais que convencional da vida política.

O endeusamento “post-mortem” do pernambucano provocado pela tragédia que o vitimou foi o “plus” necessário ao salto final de Marina, mas traz com ele uma situação irrenunciável de dependência no pequeno grande mito que sobre ele se construiu.

Marina, como Dâmocles, é quem mais agora vê a espada.

Mais e mais se apresentará a Dionísio como quem melhor e mais mansamente poderá ocupar aquele lugar que lhe ofereceram.

A segunda morte de Campos, como se referiu às supostas acusações de Paulo Roberto Costa, seria também a sua.

O ferrão do escorpião da direita, soube o sapo que o transportava à margem, é de difícil controle.

Dâmocles renunciou ao poder que lhe foi oferecido com aquele gume sobre sua cabeça.

Por isso formou-se a lenda milenar.

Porque o comum dos que ascendem ao mando por favor alheio é crer que, de fato, são reis e não apenas algo que se põe ali para que outros não sejam.

E ali ficam, até que o fio se rompa.

Ou seja, como pode ser agora, cortado.

Fernando Brito:

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  • Brito, já coloquei no post anterior do "voto e a galinha dos ovos de ouro" um ensaio para uma crônica que acho que você poderia utilizar que fala em como governar com os "bons". Segue:

    Uma pessoa dizendo-se bem intencionada e ungida, disse que na natureza os conflitos são como pecado e que, por isso, deveríamos fazer um esforço para que tudo se tornasse conciliado a fim de tornar a existência algo, digamos, paradisíaco.

    Juntou o que de melhor havia em cada um dos reinos da natureza, mas o ponto alto seria unir os “bons” de cada lado. Uniu a boa e “risonha” hiena e o bom e leal cão.

    Infelizmente não conseguiu ir adiante, pois em pouco, pouquíssimo tempo, a “boa” e risonha hiena devorou o “bom” e leal cão. Diante dessa tragédia, muitos acharam que esta pessoa que se candidatava a uma espécie de ser que “pairava” acima do bem e do mal, não previra o óbvio, que a “boa” hiena tem instintos, assim como o “bom” cão e que os mesmo são inconciliáveis! Porém, para surpresa de todos, a “boa” hiena – após ter devorado sem dó o “bom” e leal cão – chegou-se até a tal candidata, lhe pôs a coleira e foi passear com ela a procura de outros “bons” a serem devidamente devorados.

    • Boa história, Leonardo. É também útil lembrar o romance de Sartre "O diabo e o bom deus" em que um vândalo extremamente mau e violento resolve fazer o mau absoluto e não consegue. Aí ele resolve fazer o bem absoluto... e também não consegue. A propósito, o "Coitadismo" da Marina dá vontade de vomitar. Que mulherzinha ordinária é ela!

  • Fernando, só para que o ótimo texto não perca sua coerência, na segunda linha do segundo parágrafo creio que há um erro,onde se lê "Dionísio almejava tanto o poder...", deveria constar"Damocles almejava tanto o poder...".
    Um abraço carinhoso.

    • Lia, salvo outro engano que possa ter cometido (e cometo muitos) escrevi "ansiava" o poder e o verbo ansiar, no sentido de desejo intenso, pode ser transitivo direto (ansiar o ) ou indireto (ansiar por). Há um uso assim que talvez você conheça, na música O Amor, de Caetano Veloso, escrita sobre um poema de Maiakovski: Ressuscita-me/Ainda que mais não seja/Por que sou poeta/E ansiava o futuro. De toda forma, muito obrigado pela atenta revisão e corrija-me sempre que achar que deve.

        • Obrigado. Passou, como um elefante debaixo do meu nariz enquanto eu prestava atenção na formiga. Grande abraço

    • Lia, desculpe de novo. Cirrigi o erro, que eu pensara estar no verbo e estava no sujeito...rs. Debaixo do meu nariz e passou. Obrigado

  • Sr.Fernando.Evocar-se algo desse tipo,aos que o compreendam,está na medida certa para os oportunistas,que incontinente são,os invejosos.

  • Não parece que Marina Silva perceba que a posição que assumiu deve-se a essas pesquisas fajutas encomendadas pela oposição para detonar a candidata Dilma Rousseff. Parece crer que assumiu a posição que as pesquisas dizem ter, não só porque Eduardo Campos morreu, mas também e principalmente pelo que representa para o povo, certamente pelos relevantes serviços, quando Ministra no Governo Lula, por seu discurso convincente e envolvente. Ridículo, não? Acontece que as pesquisas feitas para alavancar os candidatos de oposição, somente fortaleceu Marina, mas foram devastadoras para Aécio Neves, na realidade o preferido da oposição, sem atingir como desejavam Dilma. Agora, a mídia que encomendou essas pesquisas mais recentes, desembolsando em menos de sete dias em três avaliações cerca de R$ 1.000.000,00, duas com períodos quase conincidentes para ver se corrige o inesperado resultado devastador na avaliação do Aécio, claramente objetivam atingir Dilma e Marina, tudo aliado com o noticiário e as "análises" dos especlistas (em ganhar dinheiro prestando serviço sujo e mentiroso)e, agora com o "vasamento" do depoimento do ex-diretor da Petrobras na operação da Polícia Federal. Não precisa ser pitonisa para perceber que esses movimentos políticos irão atingir mais Mariana do que Dilma e não irão alavancar Aécio como pretendido. Será a comprovação de que a bala de prata saíu pela culatra. Resultado: mais uma derrota. De tudo isso, o mais lamentável é a Justiça Eleitoral ver o que está acontecendo com esssas pesquisas e a cobertura que a mídia dá, atacando Dilma e seu Governo, durante as vinte e quatro horas do dia, sem nada fazer o coibir, bem o Ministério Público. Verdadeiro acumpliciamento.

    • A midia errou na "dosimetria", como diria Dom Joaquim I... Agora a balança de pratos tem que voltar para o lado do Aécio, mas como acertar a dose? Os PIG-feiticeiros se ferraram com sua magia eleitoral. Além do mais, é razoável crer que o feitiço da delação, além de manobra ilegal e perigosa, chove no molhado, porque só excita os frequentadores do blog do Reinaldo Azevedo e assemelhados. É até divertido assistir o desespero com que se agarram à publicação da inVeja sem base, sem documento, e sem vergonha de mostrar a cara de bunda da velha UDN lacerdista.

  • A direita alavancou a Marina, para levar o Aécio ao segundo turno. Como a dose foi demasiada, e perdeu-se o controle sobre a " santa ", vesse agora bancos x empresários. O que fazer?

    • Exatamente igual ao filme "A volta dos que não foram", a candidatura Marina vai minguar e se inviabilizar. E o pior: a manobra do balão Marina inflou de vento uma candidata que tirou as chances de Aécio. Autêntico tiro no pé!

  • A mídia pôs Collor no poder. A mídia tirou Collor do poder!
    Maquiavel explica.

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