Qualquer pessoa de bom senso sabe que não é por falta de bomba que Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Líbano, Iêmem e uma série de nações árabes estão mergulhadas em conflitos sectários. Afinal, o Ocidente está jogando bombas, foguetes, mísseis, drones e tudo o quanto mais se dispõe de tecnologia há mais de uma década. Ninguém de boa-fé e juízo acredita que bombardear o Estado Islâmico (ISIS) resolverá o problema da violência fundamentalista no Oriente Médio.
A “onda” que a imprensa brasileira, com sua notória imparcialidade, faz em cima do assunto se desmancha com um simples parágrafo da entrevista da presidenta em Nova York:
“Dilma também defendeu que os conflitos sejam resolvidos dentro dos marcos legais internacionais. “Quais são eles? É o Direito Internacional e o fato de qualquer ação ter de se submeter ao acordo do Conselho de Segurança da ONU.”
A posição brasileira é mais do que clara e se expressa muito bem nas palavras do embaixador Paulo Sergio Pinheiro, presidente da comissão da ONU que investiga as violações de direitos humanos na Síria, em entrevista que deu à Istoé, no dia 23, antes, portanto, da manifestação de Dilma:
ISTOÉ – E quem financia esse grupo terrorista?
Pinheiro – Há vários financiadores. Eu não posso citar os países, mas, basicamente, quem banca o EI são as monarquias do Golfo, que são sunitas e têm interesses muito antigos na Síria. A Síria sempre foi um polo independente na luta contra Israel e hoje é ligada ao Irã. Essas monarquias do Golfo querem que a Síria se desligue do Irã. É um conflito muito regional. Quem domina a Síria é uma vertente dos xiitas, que são os alauítas, minoria à qual pertence o presidente Assad. E os membros do EI são todos sunitas. No início, o conflito na Síria não era uma luta tão sectária. Mas hoje a presença do EI é o ápice de uma luta entre sunitas e o governo, que é xiita. Isso posto, o próprio EI tem recursos extraordinários. Eles saqueiam bancos e exploram e contrabandeiam petróleo. Têm recursos, armas e experiência em combate, e até pagam salários aos combatentes.
ISTOÉ – Qual é a responsabilidade de países como os Estados Unidos e os membros da União Europeia na ascensão do Estado Islâmico?
Pinheiro – Os EUA e a Europa, assim como o Qatar, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e a Turquia, em determinado momento, apoiaram os grupos armados contrários ao governo de Assad. Em 2011, o início desses movimentos na Síria parecia uma vertente da Primavera Árabe, mas que logo foi militarizada. Se no começo esses grupos eram moderados, hoje são todos militarizados. Nenhum tem um projeto claro de democracia. Os desejos nutridos no berço dessa revolução síria se perderam. O objetivo do EI hoje é a restauração do califado, algo que terminou com o fim do Império Otomano. Eles querem criar uma autoridade que irá confrontar diretamente a Arábia Saudita, atual guardiã de Meca e de lugares sagrados para os islâmicos. Os membros do grupo terrorista contestam essa autoridade. Isso é curioso, já que muitos combatentes sauditas estavam na origem desses grupos radicais na Síria.
Precisa ser mais claro para dizer que esta monstruosidade de hoje é filha do intervencionismo ocidental, ou pró-ocidental?
Antes do bombardeio americano, o embaixador Pinheiro elogiava, inclusive, a prudência de Barack Obama:
ISTOÉ – O presidente Barack Obama tem sido criticado por não combater militarmente o EI. O que o sr. acha disso?
Pinheiro – O presidente Obama está hesitante, mas, a meu ver, ele está agindo certo. Atacar o EI com bombardeios afetaria muito a população civil. Sem um acordo com o governo Assad, qualquer ação militar estrangeira na Síria seria muito complicada e limitada. Por enquanto não há indicação de que o governo americano irá de fato despachar tropas terrestres para a Síria. Oficialmente, a posição dos EUA continua sendo a de não enviar soldados para lá. E o EI é uma bomba de efeito retardado. Na medida em que forem atacados no Iraque, irão voltar para a Síria. Se forem atacados no Iraque e na Síria, os combatentes voltarão para os países de origem, especialmente europeus, o que fatalmente irá ocorrer, já que a identificação e o controle desses indivíduos são muito difíceis.
ISTOÉ – E como o sr. vê a posição do Brasil nessa questão?
Pinheiro – É muito clara a posição do governo brasileiro de que não há solução militar para o conflito na Síria. O Brasil compartilha com a visão da Comissão de que a negociação política tem de recomeçar. Todas as propostas de derrubada do governo Assad foram equivocadas. Três anos depois ele ainda está no poder. Se nada for feito, essa guerra pode continuar por dez anos, e aí a Síria seria destruída.
Quer dizer, então, que ser contra a invasão do Afeganistão e do Iraque seria “dialogar com terroristas que explodem prédios com aviões”?
Que proveito se tira em dizer o óbvio, que é chocante e repugnante fazer execuções e espalhar suas imagens pela internet, no que o embaixador chamou de “pornografia do terror”?
O que cabe a chefes de Estado ou a quem pretenda sê-lo é romper este círculo de morte e barbárie que parece interminável.
Não é nenhum site esquerdista, mas a conservadoríssima The Economist quem compara hoje as ações unilaterais de Barack Obama com as de George Bush após o 11 de Setembro.
O triste deste primarismo é bem retratado numa mensagem de twitter reproduzida pelo Brasilpost, alguns dias atrás: ““A Primeira Guerra do Golfo gerou a Al Qaeda. A segunda, o ISIS. Mal posso esperar para ver os horrores que nos esperam depois da terceira!”
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Malfaia tem de ser investigado por enriquecimento inusitado nos últimos anos. Malafaia declarou que um empresário lhe doou R$ 2 milhões e outro um carro blindado no valor de R$ 450 mil. Disse, também, que sua "igreja" fatura R$ 5 milhões por ano. Não sei de você conhece alguém que tenha recebido de apenas dois doadores R$ 2,45 milhões. Alguns veriam nessas doações sinais de lavagem de dinheiro. Não se conhece, também, igreja, ainda mais evangélica, com sustentação doutrinária para faturar: Lutero rebelou-se contra Roma por causa das indulgências, e Malafaia cobra um aluguel, ou mensalidade da casa própria, por ano de seus seguidores para que tenham casa própria (http://www.youtube.com/watch?v=w0AmPdnAvds). Cobra "indulgência" até de desempregado! Tudo isto é muito suspeito. Como é que o MP até agora não fez nada? Malafaia precisa ser investigado.
Perto da metade da economia dos EUA (que corresponde à soma das maiores economias do mundo)está direta ou indiretamente ligada à indústria armamentista, à indústria da guerra. A grande maioria dos maiores bancos são os financiadores destas guerras. A cada mês, ou menos, se lança um produto bélico novo que precisa ser testado. As guerras são assim promovidas para movimentar esta economia. Os demais e importantes países do mundo como Inglaterra e França, seguido dos nanicos como Espanha, Canadá, Itália e Austrália, além de indiretamente a Alemanha e o Japão que teoricamente não podem ter forças armadas, se associam aos EUA para movimentarem igualmente as suas economias. Pensar que estas guerras existem para garantir a democracia e levar suas instituições e a liberdade aos países "indóceis" é ignorância ou má fé e chega a ser uma ofensa à nossa inteligência a defesa pueril e cínica da imprensa e muitos políticos e intelectuais a estas guerras como libertadoras e em defesa dos direitos da humanidade. Estas guerras existem e se justificam para manter e aumentar os lucros de empresas e dos bancos. Os políticos, como os representados acima, e até mesmos estados artificiais e enclaves em posições estratégicas como no oriente médio são colocados no poder para garantia do funcionamento desta economia.
Falei sobre isto nem sei mais onde, mas não tão bem como você! Nada parecido com essa explanação!! Adorei!
É isso aí!
Posso usar o seu texto, ele tá muito bom e explicativo.
Claro que sim, Aristhom. É uma honra.
O desespero por uma guerra que recupere a economia e ajude a eleger o sucessor de Obama é evidente. Cavucaram o que deu do bolso do Iraque, depois da Líbia: mal deu apra "tapar o buraco do dente" - tungaram a Petrobras de lá. Ciscaram para ver se saia alguma coisa na Siria, depois na Ucrania e ai apareceu um presente "de Alá": o EI.
O certo é deixar o Oriente Médio resolver seus problemas, acompanhando atentamente as demandas humanitárias, se oferecendo para negociar a paz. Só! É outra cultura, outra civilização e ela tem de ser respeitada na sua singularidade. Já se fez muito para "bagunçar" o que, bem ou mal, já teve algum equilibrio.
Quem não pode se meter em aventura é o Brasil, país visceralmente multicultural. Que Malafaia fale as bobagens que sempre fala é tolerável: ele é intolerante mesmo e todas as pessoas letradas sabem disso. Que haja uma escrava mental dele se candidatando a presidente é que assusta: ela sabe quantos islâmicos há no Brasil? Quantos judeus? Quantos brasileiros lutam no Oriente Médio no Exercito de Israel? E quantos brasileiros haverá no EI? Até seis meses atrás eu nem sei se ela sabia que era, como eu, afro-brasileira...
Importante é que o Brasil tenha a bomba, para que não seja a algum pretexto, tornado algum dia graxa para alguma recuperação econômica do capitalismo de rapina especulativa a que nem os estadunidenses suportam mais...
É o fim da picada!
O embaixador tem que manter uma linguagem diplomática contida. Porém há fontes (ex diplomatas americanos, ex membros da inteligência americana) que mostram que o IS é uma dependência do "deep state" americano e conta com assistentes militares membros da CIA, MI6 e Mossad. O objetivo óbvio é petróleo.
E Malafaia se diz homem que traz a palavra de Deus.
Quanta misericórdia!
Brito, admiro sua inteligência e perspicácia, mas sinceramente estou muito interessado neste momento é em nossa guerra aqui no Brasil.
Que ressalve-se, também tem ares de guerra santa ! De um lado a messiânica osmarina, um balaio nos moldes da fantasiosa arca de Noé.
Balaio, água vazando por todos os flancos, com malafaia, bornhausen, heráclito, caetano e outros bichos, tudo isso mais o PIG capitaneados pelas "organizações" Grobo da famíglia Marinho contra Dilma/Lula e os interesses nacionais e de seu povo.
Logo, neste momento o EI não é uma prioridade, até mesmo por estarmos sob o risco de implantação de um "estado" malafaico fundamentalista aqui, nos trópicos banhados pelo Atlântico Sul.
Mas só pra não deixar passar em branco, bombardeios não resolverão pois é necessária uma intervenção maior, com invasão e tropas, afinal, fazer um omelete sem quebrar meia dúzia de ovos é algo inimaginável.
Acho que Brito não dá ponto sem nó. Sempre sobra pra todos, inclusive nós!
Sem dúvida Rita, até mesmo por termos tratado sobre o tema ontem, mas aqui a guerra ta feia demais, vamos abrir fogo nela. Outros flancos tratemos depois, além do que , discordo desta postura do PT em relação ao mundo islâmico fundamentalista. Neste ponto, sou favorável a intervenção nos moldes do Conselho de Segurança.
Quanto a OTAN , bem , desnecessário dizer aqui a que interesses servem.
Mas quem sabe uma bandeira VERMELHA volte a balançar no Kremlin e aí serão outros quinhentos!
Um “mistério” (entre aspas mesmo) que me deixa por demais incomodado, é o fato desses grupos terroristas (Al-Qaeda, Al-Nusra, Daesh, ISIS, Boko Haram, Talibã,EIIS, Estado Islâmico, Califado Islâmico e por que não Exército Israelense OTAN?!?!?!?) , formados, a maioria deles, por mercenários de todo o planeta, que
são financiados, armados e treinados pelos sauditas (que nesse jogo funcionam tal qual uma cortina de fumaça para a política externa dos EUA/israel, Inglaterra, França, Holanda e Bélgica), atuarem e tocarem terror JUSTAMENTE contra os países do Oriente Médio e da África soberanos e, principalmente, NÃO ALINHADOS com os interesses dos membros da OTAN.
Sempre a OTAN!
Perfeito Carlos. Se trata de negócios, não de "Democracia ou soberania" dos povos. Os grandes mercenários do mundo são os Americanos e os Ingleses, pagos pelo petróleo. O Ocidente criou a Hidra de Lerna e se perde entre suas cabeças, pois corta algumas enquanto nutre outras, tudo é claro com o lucro do poder do petróleo e da água -que esquecem- também é uma das "comódites" mais valiosas no Oriente. E na maior cara de Mogno, pagam seus lacaios no Brasil -pig, cia, e candidatos- na tentativa de que uma Nação Pacífica e respeitadora do Direito Internacional, se envolva políticamente em seus Assaltos aos Estados Soberanos. A DILMA e a política externa do Itamarati estão absolutamente corretos. O BRASIL CUIDA DO BRASIL, NÃO TEM QUE SE ENVOLVER EM GuERRAS MERCANTILISTAS CRIADAS POR PAÍSES MERCENÁRIOS.
Até mesmo por termos petróleo e água em abundância ! Apesar do Grão-Tucanato Paulista !
...-"desde quando a UDN partido inimígode Vargas e de todas as conquistas trabalhistas",FUNDADO E MANTIDO POR POTENCIA DE ALÉM FRONTEIRAS,sob o comando do agente Carlos Lacerda e sediado pelos lambe botas,lesa pátrias e e pelêgos das multina
cionais se tranvestiu de ARENA ,PDS,PFL e agora DEM, sempre ovacionados por meia dúzia de eunucos mentais que não concebem uma relação amigável com uma potencia ,sem os bajulismos e as subservienci
as...nunca quizeram que o Brasil fizesse parte do concêrto das nações...e têem por meta promoverem o descrédito ás instituições e tentar a fragilização
do governo...conta a lenda (que graças a DEUS nun
ca se realizará..."Sanguinária, a grande águia das montanhas rochosas do extremo noroeste,buscará pretexto para invadir o espaço do pacífico e canoro sabiá !..."...-por essas e outras,é sempre bom pôr as barbas de môlho...-a todos...bons tempos e um futuro de paz...-Goethe-Br
Este Silas-mla, é na verdade um perfeito idiota que se mete onde não entende nada de diplomacia.O que ela sabe fazer muito bem é berrar e incitar ódio. Deveria cumprir sua missão que é, pregar ao Evangelho e parar com essa onde de dividir os Evangélicos do Brasil.
Essas guerras dos EUA precisam ser analisadas com muito cuidado. Nada impede que esses grupos, ditos terroristas, sejam massa de manobra da CIA (ou até mesmo ela) para gerar demanda numa ponta e assim provocar oferta na outra (indústria militar americana e/ou ganhos políticos). Então, sobre esse assunto, não me partidarizo com os discursos de Obama e de Dilma feitos na ONU nesta semana.
Ainda bem que Malafaia é protegido pela providência divina. Ainda bem que ele é um homem de Deus. Já pensaram se não fosse?
Pois é ! Imaginemos como seria caso fosse enviado de Satanás ! Que horror..