De volta à barbárie

O que a Câmara dos Deputados fez, ao aprovar, na quarta-feira, a “terceirização ampla, geral e irrestrita” é de tal forma dantesco que, nos próprios círculos conservadores, discute-se como mitigar os efeitos da virtual abolição do emprego formal no Brasil.

Em tese, nenhuma empresa mais precisa ter funcionários, pode alugá-los dos manejadores de rebanhos humanos.Os modernos traficantes de escravos os leiloarão na praça. Sem responsabilidade solidária, as empresas se lixarão para a regularidade dos recolhimentos previdenciários e demais contribuições sociais. Aos mais qualificados, o ultimato: abra uma microempresa, adeus férias, FGTS, previdência se quiser, sem a contrapartida patronal.

Recomendo a todos que têm juízo que leiam o alerta lúcido de Luís Costa Pinto, no Poder360, do qual reproduzo um trecho:

A aprovação a toque de caixa, na última 4ª feira, pela Câmara dos Deputados, de uma lei redigida em 1997 e que dormitava nas profundezas das gavetas legislativas desde 1998, é só mais um sinal a nos avisar: uma força descomunal atua sobre o país sugando-o de volta ao passado. Desfaz conquistas sociais antes tidas como sólidas. E os arautos desse inferno que ameaça tragar a todos saem de suas cavernas ancestrais a partir de uma espécie de portal que nos conecta diretamente com o Mundo das Trevas do subterrâneo –a Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Em apertada síntese, o que os deputados aprovaram na Lei da Terceirização foi a legalização da possibilidade de se terceirizar atividades-fim dentro de uma empresa retirando da contratante quaisquer responsabilidades sobre eventuais desajustes das contratadas para com a Receita Federal, a Previdência Social, processos trabalhistas diversos, planos de saúde ou garantias à vida dos futuros funcionários terceirizados no exercício de suas funções.

Traduzindo, é assim: quando sancionada, a nova lei permite que um grande fabricante de bolachas, por exemplo, contrate cooperativas variadas de profissionais que lhes fornecerão os empregados encarregados de carregar farinha e sal para as caldeiras, operadores de forno, empacotadores e transportadores. A indústria, resguardada pela lei, não terá compromisso nem de recolher, nem de verificar se estão sendo recolhidas, as contribuições previdenciárias dos empregados terceirizados (afinal, no jargão padronizado, eles serão “microempresários individuais” mesmo que vistam macacão de operários e batam cartões de ponto como operários). A existência, ou não, de planos de saúde e de seguros de vida para esses terceirizados passará a ser uma condescendência da contratante das cooperativas terceirizadas, a fictícia fábrica de bolachas de nosso exemplo. Conceder, ou não, direitos antes considerados cláusulas pétreas de nosso regramento trabalhista, como férias e 13º salário, idem. Sim, será um ‘salve-se quem puder’ –e sabemos que poucos podem.

Vale a pena ler na íntegra,aqui.

Fernando Brito:

View Comments (27)

  • Mas no diário oficial da União que é o jornal oficial do Governo Federal no dia 23/03/2016 é publicado que "A escravidão no Brasil foi restaurada", para que os homens bons possam governar, e assim se adonar dessa possessão que Deus lhes destinou.

  • O golpe foi pra transformar as pessoas comuns em mercadoria. O que é o terceirizador senão o sujeito que vai vender o serviços do trabalhador e lucrar com isso? É uma espécie de cafetinagem. Somos mercadoria que interessava aos planos de previdência privada e planos de saúde, por isso apoiaram o golpe. Somos consumidor e mercadoria ao mesmo tempo. No mais, sabe o que eu faria se ainda fosse moleque? No domingo eu iria vestir uma camiseta amarela, iria até a avenida Paulista e ficaria circulando para tentar ver aquelas mulheres que ficam peladas patrioticamente pra quem quiser ver e fotografar. Pô, revistinha e site pornô não são a mesma coisa do que ver o material ao vivo!

  • Bom dia,

    como diria "MT", não preocupe com crise, trabalhe ou bata panela! Os maiores culpados disso é a própria classe C e D que se uniram a classes B e A para bater panela agora tão ferrado. Como diria Tim Maia: Só no Brasil que puta goza e pobre é de direita. Agora que a coisa pegou que acordaram para a vida! Cadê o gigante adormecido, tá em Curitiba...

  • Neste 'moderno' (pausas para rir) capitalismo desregulamentado a única coisa sagrada é a propriedade privada, mas desde que seja de um senhor feudal.

  • FB, muito bom esse texto do Poder360. Bem, desde janeiro de 2015 estava claro que essa guerra so poderia ser travada nas ruas. Naquele momento, e mais adiante, em agosto de 2015, tinha ficado claríssimo o movimento da Casa Grande. Só não via o óbvio quem estava muito envolvido na sopa diária da mídia nativa se divertindo em engrossar a misoginia contra a Dilma. Esta mesma mídia que, desde que o Lula foi eleito, tudo fez para desconstrui-lo.

    O problema é que os progressistas são moles e muito caviar para se indignar no estilo do Edu. Edu comprou outras brigas como as petições que ele levou adiante. Muitos esperaram o trabalhador humilde finalmente ir às ruas para assim aderir, mesmo que modestamente, ao movimento que cresce lentamente, mas seguramente. Ainda bem que os jovens, majoritariamente, são frutos direto dos governos do PT e assim não aceitam esse governo de bandidos dantescos.

    Esse é o momento final da tragédia onde o "heroi" tem que decidir se vai ser um rato ou um ser humano digno de sua própria vida. O que falta ainda para que todos tomem às ruas COM SANGUE NOS OLHOS E FACA NOS DENTES ?! ...

  • Quando a panela estiver vazia, eles vao pras ruas. Vai ser tarde demais.

  • Os notaveis golpistas conseguiram mais uma proeza, agora com a terceirização do trabalho a previdencia quebra de vez.

  • E os "seres mitológicos" Bozo pai e Bozo filho votaram contra os trabalhadores. E agora bozonazistas? Como fica o seu herói falastrão?

  • “Arthur Maia vai ganhar/ Uma passagem pra sair desse lugar/ Não é de carro, nem de trem, nem de avião/É algemado, no camburão/ Arthur Maia ladrão”, dizem os versos.
    Ato, ocorrido no dia 24/03/2017 no bairro do Itaigara, em Salvador, protesta contra a reforma da Previdência e sobre a aprovação do projeto que amplia a terceirização para as atividades fim.
    Publicado em 24 de mar de 2017
    https://www.youtube.com/watch?v=cy4Kynrd3FM

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