No seu O analista de Bagé, Luís Fernando Veríssimo, falando de palavras pouco usuais, diz que nenhuma delas o fascinava tanto quanto defenestração,
“Defenestrar devia ser um ato exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um som lúbrico. Galanteadores de calçada deviam sussurrar no ouvido das mulheres:
-Defenestras?
A resposta seria um tapa na cara. Mas algumas…Ah, algumas defenestravam.”
“Defenestração”, explica Veríssimo com a ajuda do Aurélio, vem do francês defenestration. Substantivo feminino, ato de atirar alguém ou algo pela janela (fenêtre).
Trata-se, assim, de defenestração o que vai ocorrer com o ainda presidente da Caixa, Pedro Guimarães, depois (perdão) das abundantes denúncias de assédio sexual contra funcionárias do banco público, já de conhecimento de todos.
Só não aconteceu ainda porque o núcleo duro do bolsonarismo das redes não quer e está solidário como o assediador serial da Caixa, como você vê aí numa enquete de perfil de extrema direita no Twitter: 80% contrários à sua defenestração, com justificativas tão bizarras quanto dizer que as denunciantes “são de esquerda” ou que “isso é assunto particular”, mesmo sendo feito na condição de presidente de uma empresa pública sobre servidoras públicas.
Tal é o padrão dos nossos moralistas, lobos quando se trata do comportamento das pessoas comuns, indulgentes quando é com os seus.
Afinal de contas, é brother de Bolsonaro e não se deixa brother na beira da estrada.
Imagine jogar pela janela, defenestrar?