Délio, um homem se vai; sua dignidade, fica.

Morreu hoje, no Hospital Santa Lúcia, no Rio, o ex-deputado federal Délio dos Santos, a um mês de completar 96 anos.

Há muitos anos não o via, embora tivesse notícias dele pela filha Valéria, ela própria, como o pai, uma lutadoras das causas sociais.

Conheci-o em 1977, início de 1978, quando ele, deputado estadual, era um dos candidatos “autênticos” à Câmara dos Deputados pelo que Chagas Freitas ainda permitia existir de oposição ao regime no MDB do Rio. Encontramo-nos diversas vezes numa casa da Tijuca que nos servia como mambembe comitê de uma campanha pobre, paupérrima, mas vitoriosa.

Guardo disso o fato de ter dado a um homem digno o meu primeiro voto.

Délio, com Modesto da Silveira e Marcello Cerqueira, era advogado de presos políticos da ditadura e, mesmo com sérios problemas oculares, conduziria aquela e outras campanhas. como a da anistia – aí está ele, com seus óculos grossos, sentado à direita da imagem, numa visita do senador Teotônio Vilela ao presídio Lemos de Brito, no Rio, para apurar denúncias de tortura a presos políticos fotografada pelo também já ido companheiro de O Globo Aníbal Philot.

Délio estava afastado da atividade partidária desde que encerrou seu último mandato, em 1985, depois de ter feito também a campanha das diretas mas nunca deixou a atuação política, advogando através da Fundação Leão XIII, onde atuou desde os anos 50, defendendo as populações mais desassistidas, os desvalidos da rua.

Uma rua, aliás, vai guardar por muito tempo o nome deste lutador. Porque na luta dos moradores do Vidigal contra a remoção que se tentou fazer de sua comunidade, algo que mencionei aqui quando da morte de Sérgio Ricardo, Délio foi uma presença constante e corajosa e, por isso, os moradores batizaram, em vida, uma das ruas com seu nome.

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