Muito mais que à campanha de Lula, era dever da imprensa ter noticiado o que agora, finalmente, está em algumas ( e só algumas) das homepages dos grandes jornais e sites de notícias, porque foi ao ar na televisão: a declaração de Jair Bolsonaro dizendo que queria “ver o índio sendo cozinhado” em Roraima e teria pedido para ir a um ritual mesmo tendo, para isso, de comer carne humana: “Comeria o índio sem problema nenhum”, disse, em entrevista de 2016, a Simon Romero, do The New York Times, que está em seu próprio site (ou estava, nem fui verificar pois a tenho gravada).
Jair Bolsonaro foi ao TSE pedir a proibição da veiculação do vídeo, alegando que tira de contexto a fala do presidente. Não tira e qualquer um pode conferir isto assistindo os nauseantes minutos em que ele fala do assunto.
Os jornais estão – e isso vem sendo dito aqui, há dois dias – se omitindo criminosamente. O fato de que a entrevista seria “antiga” – e não é tanto assim, é de 2016, quando Jair Bolsonaro era deputado e tinha responsabilidades públicas absolutamente diversas de um “contado de vantagens” (vantagens na visão dele). O vídeo era público e estava no próprio canal do atual presidente. Não há nenhuma dúvida de sua veracidade e a entrevista ao NYT realmente ocorreu.
Isso não tem interesse jornalístico?
Para verificar, basta imaginar o que aconteceria se fosse Lula quem tivesse dito estas abjeções.
Bolsonaro, claro, não está sendo acusado de canibalismo (ou de antropofagia, mais especificamente), até porque não consumou o “comeria o índio”. Mas é, evidentemente, um psicopata, que se orgulha da compulsão mórbida de ver um ser humano ser cozinhado!
Está mentindo, até porque os yanomamis, índics aos quais se refere (aldeia Surucucus) não tem sequer tradições antropfágicas ancestrais.
Saber dos desvios mentais de Bolsonaro é relevante para que as pessoas tomem a sua decisão sobre quem presidirá o país. Mostrar o que este homem disse, apenas dois anos antes de se tornar presidente, é informação.
O jornalismo não pode omitir informação, real e devidamente checada, como é esta, ou será cúmplice de uma mentira.
Aí está, de novo, o vídeo, para que se veja que não foi uma manipulação.