“Descompasso” de inflação é pressão sobre juros e preços

Economia – isso é um conceito básico – é como um sistema de vasos comunicantes, aquele que a gente aprende na escola com a experiência de Torricelli. Embora não com tanta rapidez quanto com água, pois há, nas atividades econômicas, certa tendência à inércia (tanto a de repouso quanto a de movimento – a tendência é que todas as taxas, com o tempo, convirjam para alguma semelhança.

Você pode olhar aí em cima a diferença entre o IPCA, índice oficial de inflação, e o IGP-M, distorcidamente chamado de “inflação do aluguel”, nas taxas acumuladas nos últimos 12 meses, supondo que o IPCA não se altere quando o índice de setembro for divulgado.

O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) subiu 4,34% em setembro, bem mais do que em agosto, quando havia apresentado a taxa já imensa de de 2,74%. Com isto, o índice acumula alta de
14,40% no ano e de 17,94% em 12 meses.

O avanço no preço das matérias-primas, fortemente dolarizado, está fazendo a inflação na “porta de fábrica” subir de maneira alucinante. As matérias-primas brutas subiram 54,09% em um ano, sendo que as de origem agropecuária elevaram-se 42,5% no período.

É claro que essa disparada tende a se desacelerar, mas a “força gravitacional” que faz sobre os produtos finais, no varejo, é tão grande que não é possível prever que estes continuarão relativamente estáveis ou com altas apenas pontuais.

Mesmo com o esfriamento da demanda que ocorrerá com a redução dos valores pagos como auxílio emergencial, que hoje injetam perto de R$ 50 bilhões no consumo, é certo que não vai ocorrer inflação abaixo de 2%, como se esperava há pouco tempo.

Iso e a confusão da falta de políticas econômicas, piorada pelos movimento de “vamos fazer alguma coisa, só não sei o que é”, está pressionando os juros de longo prazo e transformando a taxa de juros oficial numa simples indexadora de poupança da classe média, feita para perder dinheiro.

O mercado já percebeu, evidentemente, que isso não se sustenta e a corrida por proteção em dólar, que eles chamam de “hedge cambial” mantém a pressão sobre a moeda norte-americana nas alturas.

O real é uma das moedas que mais perderam valor desde janeiro, senão a campeã em desvalorização. Do reveillon para cá, caiu nada menos que 41,5%.

Alguém que isso pode se resolver sem traumas?

 

 

 

Fernando Brito:
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