Rei morto, rei posto, ensina o ditado popular.
Mas convém que os funerais da ex-majestade tenham certo decoro.
A descrição que faz Mônica Bergamo dos planos de aliados para dar “dignidade” ao afastamento de Jair Bolsonaro do cenário político, porém, dá ideia do quanto é ridícula a tentativa de convencê-lo a retirar-se da cena política e não atrapalhar os negócios da política:
O plano é convencê-lo a se transformar numa espécie de “Fernando Henrique Cardoso da direita”, ou “um estadista” que tem prestígio e o poder de influenciar a escolha de candidatos de seu campo político –mas sem entrar na disputa eleitoral. A diferença é que Bolsonaro é hoje muito mais popular do que FHC era quando deixou o governo, em 2002.
Convenhamos que é, até para com Fernando Henrique Cardoso, a comparação é injusta. Podia ter ficado impopular após seu governo, mas não muito mais do que Bolsonaro estava antes de derramar os cofres da União para tentar vencer as eleições e, sobretudo, não saiu com contas a acertar em delegacias de polícia.
Como é também ridícula a ideia de que, desde já, Tarcísio de Freitas, por conta da eleição ao governo de São Paulo, tem vaga cativa como novo líder da direita.
Está aí, recente e fresquinho, o exemplo de João Doria, que não fez um governo desastroso e indubitavelmente lavrou um tento nacional com a vacina da Covid e, não obstante, chegou ao processo eleitoral como um cadáver prematuro.
Bolsonaro é – e Tarcísio pode ser também – bom exemplo de que só dinheiro não faz bons candidatos.
O que a política reserva, agora, é o quanto Bolsonaro se moverá – e com que agentes – na oposição a Lula coisa que, tirando o núcleo duro do bolsonarismo, nem a direita quer fazer imediata e abertamente.
Lula manobra com isso, honrando os sinais de que fará um governo que, embora com a natureza social à frente, não vai deixar espaços para perder o centro e e a centro direita, como agora há pouco, segundo o Estadão, ao convidar Persio Arida e André Lara presente para a área econômica do governo de transição.