Meu abraço em Dilma e sobre um outro abraço
Marceu Vieira
O desfecho da primeira fase do processo de impedimento da presidente Dilma me fez lembrar que a História, desde muito antes de Jesus, tem fabricado mártires em todas as lonjuras. Gente que se ofereceu ou foi oferecida em sacrifício por sua crença ou sua causa ou seu sonho pela salvação de um coletivo.
Ou foi imposta a esse martírio por seus inimigos.
Aqui mesmo, nesta terra de Michel Temer, Eduardo Cunha e seus siameses, sucedeu o episódio reconhecido pela Igreja Católica como o dos “Quarenta Mártires do Brasil”. Envolveu um grupo de 40 jovens, entre 20 e 30 anos de idade, alistados na Companhia de Jesus.
Vinham de Portugal e da Espanha, em 1570, numa missão de catequização, quando o navio em que viajavam foi interceptado por calvinistas franceses. Descobertos como missionários católicos, acabaram martirizados e atirados sem clemência no mar deste lado de cá do mundo, até ali insondável.
Quatro séculos depois, a América Central registrou a imolação do religioso católico salvadorenho Óscar Romero, arcebispo de San Salvador, que denunciava a repressão em seu país e a execução de quem a contestava. Dom Romero foi assassinado com um tiro em pleno altar da igreja onde celebrava uma missa no dia 24 de março de 1980.
Também há mártires protestantes na História. Gente sacrificada por sua fé, como Anne Askew, poetiza luterana inglesa, queimada viva numa fogueira em 1546. Ou Heinrich von Zütphen, reformador alemão, também queimado por católicos após ser massacrado na prisão, em 1524.
Ou ainda Martin Luther King Jr., o lendário pastor protestante dos Estados Unidos, que, em sua pregação de amor aos semelhantes, foi um dos maiores combatentes pelos direitos civis dos negros no planeta. Luther King foi assassinado em 1968.
Há, por fim, os mártires não religiosos. O sul-africano Nelson Mandela passou 27 anos na cadeia, subjugado por brancos. Tiradentes, na conclusão de seus ideais de Brasil livre, foi enforcado e esquartejado.
E há os anônimos, sobretudo pobres e pretos, que tombam todos os dias ou já tombaram nos guetos, aqui bem perto, nas favelas e nos subúrbios.
Houve ainda os jovens assassinados pela ditadura militar – e os quase-mortos por ela, que escaparam depois de presos e brutalmente inquiridos e barbaramente torturados, cuja alma foi doloridamente marcada pra sempre.
Conheci alguns. Votei em alguns.
Todos os mártires, mesmo os que sobrevivem ao martírio, quase sempre muito adiante de sua aflição, acabam abraçados pela História um dia. Com Mandela, o primeiro presidente negro eleito na África do Sul, foi assim.
Num sentido mais coletivo, com Dilma Rousseff e seus companheiros de prisão e de padecimento na tortura, também.
A jovenzinha duramente agredida no porão do regime de 1964 sobreviveu pra se eleger duas vezes presidente da República do Brasil. Sobreviveu pra ser entronizada como a primeira mulher presidente da História da nação brasileira, tão misógina e sexista na avaliação de suas lideranças femininas.
Pois Dilma talvez também entre pra História universal como a única vivente feita mártir duas vezes. Uma, na ditadura cruel de seu país; outra, agora, no seu sacrifício de governante honesta e inocente, até prova em contrário, imolada num tribunal politizado e injusto, por crimes que não cometeu e sequer estavam em julgamento.
Seu governo tão ruim, tão já esgarçado e no limite do desastre e da sem-saída e do sem-jeito, nem isso estava em julgamento.
A presidente não cometeu os pecados de pecúnia atribuídos a seus pares petistas. Não é ré no Supremo Tribunal Federal, como seu algoz Eduardo Cunha. Não concorreu à condição de ficha-suja ou de inelegível, como o vice e agora presidente interino Michel Temer. Não roubou. Não desviou. Não enriqueceu.
Agradeço a ela por isso. Obrigado, dona Dilma. Obrigado por não se igualar a tantos homens que rodeavam seu tailleur no palácio e por ter resistido com tanta dignidade a tamanhas indignidades cometidas contra a senhora e bem perto da senhora.
E não vou esperar a História pra lhe dar o meu abraço sincero de carinho e gratidão por sua conduta.
Ganhar abraço de carinho sincero é tão bom. Aceite o meu, presidente. Só entende plenamente este tipo de abraço quem o recebe. Dou já o meu na governante afastada, mas legitimamente eleita em 2010 e reeleita em 2014 e desempossada neste triste 12 de maio de 2016.
Agora, por favor, siga lendo o post no Blog do Marceu, mesmo que dê o trabalho de clicar no link. Sabe por que faço essa maldade? É porque ninguém faz casa onde ninguém vai morar, nem ponte que ninguém vai cruzar. E quem escreve quer ser lido, não só citado, porque um blog é uma relação direta com seu leitor, que para um instante para ouvir nossas ladainhas. Manter o Marceu escrevendo é uma imensa delicadeza com a escrita, a inteligência e o coração.
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Gostaria de dar um abraço de agradecimento nela também e agradecer por ter resistido o que pode a essa podridão da plutocracia.
Mesmo não gostando do que via no governo Dilma (reconhecendo que grande parte devido ao congresso nojento que nosso povo elegeu) sabia o que eu esperava no governo golpista.
Belson, claro que esse nome é tão falso como você, responda:me: como você chamaria esse ministério de "notáveis" corruptos do golpista Temer? Você bateu panelas? Outra coisa que me intriga. Como é que uma porca deu luz a um verme como você?
PRESIDENTA DILMA TENHO ABSOLUTA CERTEZA QUE CAMINHAMOS JUNTOS PELA AV. AFONSO PENA EM BH GRITANDO " O POVO UNIDO JAMAIS SERA VENCIDO" . PRESIDENTA VOLTE SE NAO NOS VAMOS BUSVA- LA PORQUE O POVO UNIDO JAMAIS SERA VENCIDO
BOMBA! EXTRA!... Para surpresa de ninguém!
$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$
Wikileaks: Michel Temer era informante do governo americano
Por conspícuo e impávido jornalista Miguel do Rosário
13 de maio de 2016
(...)
FONTE [LÍMPIDA!]: blogue 'O Cafezinho'
... Presidenta Dilma Vana Rousseff 'A Magnífica', eita 'Coração Valente', siô!...
Texto emocionante !
Volta Dilma e receba nosso abraço e nossa admiração. Obrigado por ser essa pessoa de fibra a toda prova e de coragem ímpar. Venceremos juntos porque seus algozes nem percebem que salientaram a sua grandeza nesse momento de arbitrariedade absoluta. Não Passarão !
.A FLOR E A NÁUSEA
Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me'?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Ramiro, grande poeta, muita emoção!
????????????????????????????????????Belo texto! Esses coxinhas choram porque não têm nenhum político honesto a altura de Dilma, só ratazanas! Invejaaaaaa....
É muita emoção!!!! Chuimmmf, buááá!!
Também gostaria de dar um abraço e dizer o seguinte: tchau querida e não volte nunca mais.
Vem aqui, oh um dos patetas: e sobre moro, gilmar mendes, aecio, temer e suas "medidas", seu ministério de ladrões e salafrários, vocês do trio não falam nada? Vocês são bandidos, iguais aos que estão no poder agora. Vocês só têm o ódio contra a Dilma. Fatos e crimes não existem. E vocês bem sabem disso.
Bronco capiau, deva march, ernesto e outros paneleiros se viciaram no blog. Nao conseguem ficar um dia sequer sem comentar.
Volta Dilma.
????????????????????????????????????Belo texto! Esses coxinhas choram porque não têm nenhum político honesto a altura de Dilma, só ratazanas! Invejaaaaaa....