Dilma e Obama, Brasil e EUA.

O discurso de Barack Obama, mesmo com a inegável simpatia pessoal que ele desperta e apesar da inevitável auto-suficiência que marca os posicionamentos dos EUA diante do mundo,  passou-me uma estranha sensação: a de ver o chefe da maior potência militar do planeta dar explicações na ONU e considerar tanto a repercussão externa de suas palavras, quanto o público que realmente lhe importa: os próprios americanos.

Se não houve concessões práticas, as verbais foram muitas, inclusive a de não demonizar as opiniões divergentes. Sinal de que o drible diplomático que levou da Rússia, na questão síria, o abalou – até porque os russos é que lhe abriram a saída política que, internamente, precisava para retroceder da decisão de atacar que tão pouco apoio interno tivera nos EUA.

Mas, por isso e por precisar de algo para tirar o foco das acusações duras que sofreria pela espionagem, precisou lançar uma carta nova à mesa, e esta carta foi o aceno de diálogo com o Irã.

Obama está naquela incômoda posição de, no meio do caminho, não agradar ninguém. Internamente, segue passando a imagem de fraco e esquerdista. Externamente, a de belicista e invasor da privacidade e da soberania alheias.

E Dilma?

A brasileira falou também para os dois públicos.

Para o interno, falou claramente da violação de nossa soberania e da privacidade de nossas comunicações, inclusive fazendo menção aos interesses empresariais  envolvidos nisso. Sem concessões, sem “sapatinhos”, sem tolerância com razões de guerra ao terrorismo que amenizassem a gravidade dos atos americanos.

Também marcou pontos ao tratar, num foro internacional, de problemas internos, como as manifestações de junho, demonstrando que não chefia um governo enfraquecido e questionado, mas está disposta a liderar qualquer processo de reivindicação interno, em lugar de se opor a ele.

Mas o grande recado que passou foi a disposição brasileira de assumir um papel de destaque e questionamento da ordem internacional dentro da própria ONU.

Aliás, mais que isso.

Mostrou que o país está disposto a dialogar e fazer alianças com outras nações, fora do eixo EUA-Europa, desde que elas atendam ao nosso desejo de nos projetarmos, polìtica, econômica e diplomaticamente. Rússia e China entenderam perfeitamente o recado de Dilma e não se surpreendam que países pró-americanos, como Japão e Índia, além dos latinos e africanos, queiram trocar ideias neste campo.

A bússola político-diplomática de um país sempre segue o mesmo Norte dos seus relacionamentos econômicos e vice-versa.

E, neste campo, amor é reciprocidade.

Obama não vai poder dizer que Dilma é “a cara”, mas já sabe que ela não é só de fazer caras.

 

Fernando Brito:

View Comments (19)

  • O governo não tira mais os sapatos frente aos americanos...Atira-lhes! O complexo de escadinha e de vira-lata guiarar-se sempre pela direita! Oh, raça!

  • Pela cara do Obama deve estar pensando: " bonita,elegante,inteligente e dura na queda. E agora?"

  • O Brasil, pàtria amada, está bem representado com a competente presidenta DILMA. DILMA 2014.

  • Dilma mandou ver aquilo que o povo brasileiro pensa ( lógico que não se inclui a Globo, a Veja, a Folha e a turma da Privataria).
    O Obama como um sabujo, mandou aquilo que lhe ordenam todos os dias os Poderosos.

  • O Obama tucanou o termo "espionagem". Na versão dele, virou "coleta de informações". Parece tudo tão simples, tal qual uma simples pesquisa de opinião feita por um instituto qualquer. Haja paciência. Agora entendo claramente a rasteira que ele deu no Lula no processo de negociação do acordo nuclear com o Irã.

  • Alguém aí consegue visualizar o Aecim fazendo um discurso desses na ONU? Nem voltando mulher na próxima encarnação (kkkkkkkk)!

  • Acompanhei o discurso de nossa presidente e é bom ver que não somos , mais, subservientes aos caprichos americanos. Foi um discurso firme, objetivo, consistente de um verdadeiro líder. Defendeu a ampliação do multilateralismo. Enquanto que o discurso americano foi fraco, como se estivesse se justificando por suas práticas e suas intervenções, inclusive mal tocou no assunto da espionagem.Defendeu a saída do presidente da Síria. Ainda mentiu, porque disse que defende o programa nuclear iraniano para fins pacíficos, mas o Brasil conseguiu que o então presidente Ahmadinejad assinasse um documento com todas as 10 exigências do governo americano e Obama não aceitou o documento . Além de dizer que as armas químicas usadas na Síria vieram do governo Sírio.O que não está provado. Acredito que o discurso da Dilma vá ser bem visto pela comunidade internacional não comprometida com os EUA.